Perdi minha chave
Renato Muniz B. Carvalho
Onde eu a perdi? Essa pergunta é crucial. Se
a pessoa souber responder nos primeiros momentos, a chance de achar é maior. Se
não, adeus chave. A minha, eu devo ter perdido na rua. Pode ser que tenha sido dentro
de casa, esquecida no bolso da calça, na poltrona do cinema, no boteco, no balcão
da panificadora, onde mais? Você sabe? Viu uma chave dando sopa por aí?
Como era a chave? Grande, pequena, prateada, dourada, de cadeado, era um artigo de luxo ou reles pedaço de latão? Estava identificada? Teoricamente, não há uma chave igual a outra, a não ser aquelas que foram feitas como cópias. No meu caso, tive sorte, eu tinha uma cópia. Foi o que me salvou; do contrário, teria de chamar um chaveiro, aguardar que ele viesse, que tivesse como abrir a porta e resolvesse o problema.
Manter as chaves em chaveiros costuma ajudar bastante na hora do sumiço. Estou falando daquelas pecinhas charmosas que unem uma ou várias chaves através de uma argola. Isso dá personalidade às chaves. Antigamente, chaveiros nos eram oferecidos como brindes promocionais, como lembranças, mimos. Muitos de nós colecionamos chaveiros. Ainda tem quem os colecione?
Daqui a pouco, as fechaduras serão todas digitais e não precisaremos mais de chaves. A questão será não se esquecer da senha de acesso. As chaves podem se perder nas ruas e nos bolsos; as senhas serão perdidas nas entranhas profundas do cérebro e, em alguns casos, será impossível recuperá-las. Já pensou nisso? Que medo!
Fiquei triste por ter perdido minha chave. Brotaram no meu peito algumas dúvidas existenciais. Estou ficando esquecido? Não devo sair na rua com chaves e outros objetos? Questões difíceis.
Perder uma chave não é tão grave quanto perder a vida, a esperança, o futuro, mas incomoda, provoca transtornos emocionais e operacionais. É claro que perder uma amizade ou o amor da sua vida é muito pior. O amor da minha vida eu guardo bem juntinho do coração e nunca deixo de prestar atenção pra saber se está tudo bem. Cuidar de quem a gente ama é importante, assim como das pessoas por quem temos apreço. Quanto à chave, eu hei de encontrá-la e, se não tiver sucesso, faço outra. Já as pessoas queridas são únicas, não é?
Revisado por Hugo Maciel de Carvalho (Revisereveja).