sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Crônica do sábado

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Não tem dia melhor para se caracterizar como um dia especial do que o sábado. É curioso, mas eu explico. Um dia qualquer, um dia comum, é um dia em que as pessoas fazem o que precisa ser feito, quando elas se desincumbem de suas obrigações, desempenham suas funções ou cumprem suas jornadas de trabalho. Não são dias de muita criatividade, são dias burocráticos. Servem para deixar o tempo correr. Neste intervalo de cinco dias, de segunda a sexta-feira, também conhecidos por “dias da semana”, não existe muita chance para inovações, para grandes ousadias. Este raciocínio não vale para aquelas profissões cujo dia da semana pouco importa, como, por exemplo, porteiros, atores, músicos, policiais, funcionários de supermercados, de lojas e de postos de gasolina. Também não vale para empresários, políticos e desempregados.

A não ser quando alguém está descontente, não se pensa muito na rotina envolvida nos dias da semana. Esses cinco dias não são dias especiais e, quase sempre, você tem de executar atividades quase obrigatórias, sobre as quais você não tem muito controle. Se você trabalha numa empresa qualquer, numa loja, ou num banco, a rotina é seu ponto de partida e de chegada. Tem horário para entrar, para almoçar, para sair. Na maioria das empresas não se discute a programação, o roteiro já vem pronto.

Se você vai à escola, também não tem jeito de alterar a rotina, a não ser nas férias. Nos dias da semana, vai se preocupar com trabalhos escolares, com provas, com compromissos sobre os quais você não teve como interferir ou participar do planejamento. Já recebe a programação pronta. Infelizmente, as escolas não permitem muitas novidades nessa área.

Rotina se confunde com cotidiano, com hábitos arraigados. Rotina você obedece sem pensar, existem poucas possibilidades de mudança. Mas muitos não gostam de sair da rotina, acabam se acostumando.

Os sábados são especiais, são diferentes. Para a maioria, não há roteiro pré-estabelecido. Logo de manhã, por exemplo, muita gente sai de casa para fazer compras, para cortar o cabelo, para passear à toa. Pode-se ficar na cama até mais tarde, sem culpa. Uns vão a lojas que não costumam freqüentar nos dias comuns. Aproveitam para fazer coisas que não fariam nos dias da semana. Outros pagam contas, vão a uma lotérica, apostam num sonho, vão a lugares inusitados. O poeta Vinícius de Moraes cantou o sábado numa poesia memorável: “O dia da criação”. Leia, você vai gostar.

Sábado à tarde é possível encontrar amigos, é possível descansar, dormir mais um pouquinho. Mas é à noite que existem as melhores possibilidades de sair da rotina. São festas, bares, eventos, uma peça de teatro, um show, um encontro, e o sábado pode se tornar um momento mágico, transformar-se numa data inesquecível. Muitos ainda não conseguem, mas estão no caminho. É que sair da rotina ainda é difícil.

No domingo, as coisas voltam ao normal. Por isso, aproveite seu sábado!