segunda-feira, 19 de maio de 2014

Tudo sobre a Copa: finalmente um esclarecimento!





Renato Muniz Barretto de Carvalho

Outro dia, um amigo meu disse que, num momento de rara lucidez (depois eu peço pra ele explicar melhor isso pra gente), tinha conseguido formar uma opinião definitiva e esclarecedora sobre a Copa. Ele garantiu que responderia a todas as minhas dúvidas sobre a Copa a partir das mais abalizadas opiniões que ele conseguiu ler na imprensa falada, televisionada e internetada do Brasil e do mundo. E vamos lá!

Ele disse que tudo começou com o desmatamento das florestas brasileiras, que existiam desde o período colonial. Como todo mundo sabe, essas reservas foram criadas no governo Mem de Sá, aquele que, diziam, gostava tanto de fado que ficou conhecido como Safado, para os íntimos. Aí veio o Dom João VI e vendeu o que sobrou para a Coreia do Norte. A intenção, ele descobriu depois, era o governo Vargas pagar a construção dos estádios da Copa de 1950, mas as obras atrasaram, o Uruguai levou nosso sorriso e o Brasil continuou o Brasil de sempre, embora esperançoso. A entrega dos estádios só se deu no governo do Jango Quadros de Giz, o presidente que inventou o quilo (Fi-lo porque qui-lo), mas que ficou muito perturbado com tudo isso, tornando-se um dos homens mais intrigantes do mundo. Entretanto, os estádios ficaram sob a responsabilidade dos governos militares, que os repassaram pra os guardadores de carro do Rio de Janeiro os administrarem. Com a ajuda dos cambistas, eles conseguiram enganar o polvo, dizendo que ia ter Copa, mas, na verdade, era um jeito que os dirigentes do futebol europeu inventaram pra vir ao Brasil, e aí criaram esse negocio de Copa pra inglês ver, mas os alemães também quiseram ver, e todo mundo queria ver, e os argentinos ameaçaram invadir Florianópolis se eles não viessem ver também, e aí as florestas, as universidades e os hospitais (ah, sim, a saúde e a educação, tudo a ver!) tiveram de ser vendidos pra pagar as despesas da Copa, e, por causa disso, os brasileiros começaram a morrer à mingua. Tudo isso o meu amigo lúcido explicou.

Só que, segundo ele, que soube por fonte fidedigna, não entregaram a encomenda, a bola não rolou, a população não gostou e muita gente achou que devia dar calote, ficou sem saber onde era a marca do pênalti e, com dúvidas, quiseram quebrar tudo e o tal Kim sei lá o quê (o da Coreia) ficou bravo e resolveu mandar cortar o cabelo de todo mundo igual ao dele, mas o pessoal achou que era igual ao do Neymar, e associou-se ao Irã e ao governo lulopetistacastristachavistacapuccino de Cuba, que arrasou a saúde no Brasil pra mandar pra cá os médicos cubanos, que, na verdade, vão fazer uma grande lavagem intestinal e cerebral nos brasileiros e vão administrar os estádios de futebol do país, e os alunos das universidades vendidas serão os boçais que o Caetano  falou na música dele, e o Brasil inteiro vai passear de ônibus coletivo, porque as passagens não subiram, e os dirigentes e os cartolas vão comer lagosta no Ceará sem ninguém pra incomodá-los e, no fim de tudo, a oposição (trata-se da oposição à bola redonda, segundo o meu amigo explicou) vai acabar com a saúva, porque senão a saúva acaba com o Brasil, e vai salvar todo mundo da epidemia copiosa. Aí, a oposição se redime e entrega o Brasil definitivamente para os dirigentes, não os do futebol. Depois que os caras, sócios de uns tais Coxinhas & Cia. Ltda., assumirem o governo, o pessoal da música sertaneja vai comandar os ministérios da agricultura e da cultura, que depois serão fundidos – ele disse “fundidos” –, os baladeiros vão assumir o ministério dos esportes, o pessoal do funk vai cuidar do desenvolvimento econômico, e a mídia vai finalmente administrar os cinemas de arte, os bares de mpb e as escolas do ensino fundamental, colocando ordem no galinheiro e acabando de vez, e pra sempre, com a bagunça em sala de aula, com a cola, com a corrupção, com a roubalheira e com a pouca vergonha dos brasileiros.

Para terminar, meu amigo disse que vão resgatar o Machado de Assis (coitado!) do túmulo e colocar uma estátua dele em cada cidade segurando um porrete pra bater em quem “falar errado” o inglês e essa linda língua lusitana, a Última Flor do Lácio, durante a Copa e para sempre, amém! E os brasileiros ingênuos vão virar uma constelação no alto do céu, cheia de estrelinhas brilhantes...

E a Copa, hein? Ah, a Copa vai bem, obrigado. Eu sei que muita gente não entendeu nada do que o meu amigo explicou, mas tanto faz, é assim que têm sido com as coisas. Porque cada um fala e escreve o que quer! Ou não?

Confiram abaixo um belo flagrante fotográfico que meu amigo fez de um "perna de pau" contrário à Copa chutando o pau da barraca, isto é, um ovo, isto é, uma bola.