Renato Muniz Barretto de Carvalho
Tragédia numa escola do Rio de Janeiro. Crianças mortas. Comoção nacional. Afinal, quando é com os nossos, o caso se complica. A polícia foi bastante ouvida, psicólogos também. Jornalistas praticamente acamparam no local. Com cenas comoventes, insistem em nos convencer de alguma coisa, de alguma culpa.
Não tenho como julgar perfil psicológico, muito menos arrisco meros palpites para saber como e porque a sociedade vai se tornando cada vez mais violenta. Nem vou especular porque um rapaz consegue entrar numa escola atirando com tanta facilidade, apesar de todos os esforços em segurança pública, de tantas grades e aparatos similares.
Mas quero falar de educação e de escola. Por que a escola é o local preferido deste tipo de ação? O que se passa dentro desta instituição que a torna alvo de tantos questionamentos e violência?
Menos importa saber a origem das armas e sobre como se aprende a atirar, mas desvendar a origem de tanta raiva e desajuste e qual o papel da escola nisso. A família, a sociedade e a escola não perceberam isso antes? Que mágoas e frustrações guardava esse indivíduo que essas instituições não conseguiram resolver? As respostas estão mais na escola do que no indivíduo. A escola falhou em algum momento. Não deve ter sido fortuita a escolha deste local para a ação, para o massacre.
Sem desconsiderar outros fatores, é preciso parar para pensar um pouco naquilo que a sociedade considera educação e função da escola. Nunca se defendeu tanto a “educação”, nunca se fez tanto discurso sobre a importância dela. Mas a prática está direcionada para aspectos relacionados à punição, às multas, ao controle, à repressão. Então, de que serve a educação? Há uma contradição que precisa ser exposta de forma urgente. O discurso é contraditório, a distância entre intenção e gesto é cada vez maior.
Algo não vai bem neste ambiente que deveria ser um lugar de alegria, de descobertas maravilhosas, de relacionamentos saudáveis e construtivos. Ao invés disso, o que se observa é cobrança, é desempenho a qualquer preço, é quantidade, é a tecnologia suplantando as relações humanas. Salas lotadas, critérios econômicos e técnicos se colocam como prioritários em detrimento da formação, da humanização e da libertação do ser humano. Os sonhos e pesadelos de cada um, especialmente dos mais sensíveis, dos mais tímidos, não encontram a amplitude necessária para serem compreendidos e exorcizados numa escola onde o tempo que conta é o do relógio de ponto. Deu no que deu.
Bullying, tristezas, frustração, medo, individualismo, descaso, jornadas estressantes, baixos salários, desvalorização dos profissionais da educação resultarão em mais tragédias. É preciso buscar no interior da própria escola, além da sociedade onde ela se insere, as razões de sua atuação sofrível e porque ela não tem conseguido superar essas dificuldades tão angustiantes. É preciso saber o que temos feito em termos de produção do futuro. Que tipo de sociedade nos interessa? Tecnicista, violenta, individualista ou fraterna, alegre, inclusiva, humana e livre?