tag:blogger.com,1999:blog-12599286629087905152024-03-18T23:57:34.954-03:00No meio do caminho tinha uma pedraLiteratura, educação ambiental, viagens, política e outras impertinências. Bate-papo com e sem compromisso; a escolha é sua! Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.comBlogger209125tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-84531135562214839232023-06-25T11:29:00.003-03:002023-06-25T11:29:46.463-03:00Era uma vez...<p> Era uma vez...</p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-85511510603812538422022-11-21T14:01:00.004-03:002022-11-21T14:04:42.384-03:00Sobre o empréstimo de livros<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> Crônica de Renato Muniz B. Carvalho </span></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Se há uma coisa polêmica sobre a
face da Terra — depois das preferências políticas e da escalação da seleção
brasileira — é o empréstimo de livros. O ser humano empresta tudo o que tem e, creio,
nesse ponto, os brasileiros são imbatíveis. Emprestamos roupa, carro, dinheiro,
uma xícara de açúcar, meio quilo de farinha de trigo, ovos, pó de café e por aí
afora. O que é um livro neste universo de coisas emprestadas!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Quando o item, cedido gratuitamente
e de forma temporária, retorna, o agradecimento é um capítulo à parte. É claro que
fica mais gostoso quando vem acompanhado de uma fatia de bolo e, talvez, de um convite
para tomar um cafezinho mais tarde. Nessas ocasiões, pode-se colocar a conversa
em dia, falar bem ou mal dos outros, reclamar de uma dorzinha no braço e trocar
uma receita deliciosa de torta recheada de palmito. Hum!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Ao longo da vida, já vi gente emprestando
sapato, casaco, óculos, ferramentas, caneta, celular… Dizem, mas eu não posso confirmar
a fonte, que uns e outros costumam emprestar marido, mulher e até cachorros. Já
pensou! Emprestar o bichinho de estimação, o xodó da família, é um ato extremo de
desprendimento, mas não me parece verossímil. Em todo caso, como tudo nesse país
se empresta, vamos admitir e abandonar o exemplo para não criar azedumes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Dinheiro, quando as garantias são
boas e as condições bem-acertadas entre as partes, não costuma acarretar aborrecimentos.
Além disso, é batata, isto é, matemática: basta combinar os juros e a data de restituição
que ninguém pode reclamar, não é? Existem alguns dissabores no caso de recusa em
pagar, mas, se fosse ruim, bancos não teriam tanto lucro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Complicado mesmo é emprestar livros.
Nunca se sabe se o exemplar vai retornar e em que estado. Tem livro que vai longe,
no sentido físico da coisa, de mão em mão é capaz de dar a volta ao mundo e o dono
nem ficar sabendo. O risco é não voltar nunca mais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Pedir um livro emprestado é operação
tão delicada quanto pedir alguém em casamento. Se os compromissos não forem honrados,
amizades podem ser desfeitas, mágoas viram depressão, crises são desencadeadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Sempre tive muitas dúvidas sobre
o assunto. Emprestar ou não emprestar? Meu avô tinha um quadrinho na biblioteca
dele no qual estava escrito: “Livro emprestado, perdido, estropiado”. Por um tempo,
mantive uma caderneta, dessas que existiam nas antigas mercearias, onde eu anotava
o nome do comodatário, o título do livro, a data de saída e de retorno. Quando vi
que a coluna do regresso ficava em branco e muitos inadimplentes me olhavam amuados,
desisti de anotar. Joguei a caderneta fora. Satisfazia-me imaginar que, pelo menos,
alguém estaria lendo um livro. Nos tempos atuais, é melhor aumentar a quantidade
de leitores.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Crônica publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p><br /><p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-67909678695169760032022-10-14T17:19:00.002-03:002022-10-14T17:20:20.581-03:00 Dia do escritor<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTuHTIB5waekR5DkEVgTLUSKPd6h40neOSlRiZfQgWNtO6vsAfWJQDqJELK3SH6Iteid7lBSNx09nsYeLemsMdkNFTR7LX9CK8yf2DxwxqPODlkksG9Ef9OtStmwZPXKucaJukXvrR68-UoBbhX_ONcFqvqgB1Ml44waboy5njIRn0mVNKhYBFgUFS/s1000/Livros%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="619" height="482" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTuHTIB5waekR5DkEVgTLUSKPd6h40neOSlRiZfQgWNtO6vsAfWJQDqJELK3SH6Iteid7lBSNx09nsYeLemsMdkNFTR7LX9CK8yf2DxwxqPODlkksG9Ef9OtStmwZPXKucaJukXvrR68-UoBbhX_ONcFqvqgB1Ml44waboy5njIRn0mVNKhYBFgUFS/w290-h482/Livros%202.jpg" width="290" /></a></div><span style="font-family: "Times New Roman", "serif";"><p style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"><br /></span></p><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">13 de outubro: Dia
Mundial do Escritor e da Escritora. Eis uma atividade profissional que deve ser
exercida, acima de tudo, com profundo senso crítico, compromisso com a
valorização da leitura e com a difusão do livro. O exercício da escrita deve
servir para lutar contra as injustiças, para eliminar as desigualdades sociais,
para aproximar os povos e realçar a índole inconformista, revolucionária, amorosa
e inclusiva das pessoas. </div></span></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"><br /></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-46741885778688912712022-10-11T17:23:00.004-03:002022-10-11T17:43:24.707-03:00Praias: era só o que faltava<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgM7r8eqohflWVlb66A2pba6jTMFiH069qq925M-cWJkCPX_u94zhPy3M8Unzk8QTv7Q3TlR2NxdZJ8eMN6ZOBK8v1GIxzolKctppfBtOqjCCUBDU8bZlz6r27fEH_OHV_Ns3bt0V24AjLsJr8dDjyvtwwT5pPaceWdYbsISqY5wkC_OKK92OVKP7aW" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="774" data-original-width="1032" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgM7r8eqohflWVlb66A2pba6jTMFiH069qq925M-cWJkCPX_u94zhPy3M8Unzk8QTv7Q3TlR2NxdZJ8eMN6ZOBK8v1GIxzolKctppfBtOqjCCUBDU8bZlz6r27fEH_OHV_Ns3bt0V24AjLsJr8dDjyvtwwT5pPaceWdYbsISqY5wkC_OKK92OVKP7aW=w400-h300" width="400" /></a></div><br /><br /></div></div><span style="font-size: large;">Renato Muniz B. Carvalho</span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">O Brasil é um país abençoado. Tem
florestas incríveis, tem montanhas, cânions, orquídeas belíssimas, biodiversidade,
cachoeiras, um povo lindo e acolhedor. O que mais? Tem… Ah, tem praias, muitas praias!
Tem um litoral com cerca de oito mil quilômetros de extensão, com mais de duas mil
praias, cada uma mais bonita que a outra, algumas são famosas no mundo inteiro e
recebem milhares de turistas o ano todo. Praias extensas, praias escondidas, praias
paradisíacas, praias de areia fina, boas para caminhar, para apreciar a paisagem.
Se tem algo realmente democrático no país, além dos botecos, são as praias. Quando
se juntam botecos e praias, a felicidade está completa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Essa felicidade pode estar ameaçada.
Um dos burocratas de plantão apareceu com a ideia estapafúrdia de vender as praias.
Não sei de onde tiram essas ideias mirabolantes. Será que eles não têm coisas mais
importantes para fazer? Por que não cuidam da economia, do combate à inflação, da
geração de empregos, do câmbio e deixam nossos sonhos em paz? Sim, o sonho da maioria
dos brasileiros e brasileiras é um dia poder ir à praia, deitar-se na areia, curtir
as ondas, levar a meninada para se divertir. Mas não, eis que surge o burocrata
propondo a privatização das praias. Sim, você leu direitinho: vender nossas praias.
Um dos argumentos é a má gestão das mesmas. Como assim? Talvez ele esteja se referindo
aos dias nublados, aos dias de chuva, às ressacas… Tá, é preciso administrar isso.
Como resolver? Não dá para viajar centenas de quilômetros e encontrar chuva na praia.
Acaba o passeio.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Má gestão? Talvez ele tenha se referido
à ausência de salva-vidas. Não, eles estão lá, atentos, solícitos, salvam vidas.
Será que ele se referiu à carência de bares, de quiosques, banheiros públicos? Isso
nunca foi problema para nós. Em qualquer praia, da mais badalada à mais distante,
sempre existirá um barzinho que vende água de coco. Então deve ter se referido à
aparição de tubarões em algumas praias, assustando os banhistas. Será que faltou
combinar com os tubarões para eles não se aproximarem da orla? Faltou diálogo com
os peixes? Será a presença de águas-vivas? Poucas conchinhas? Som alto nas barracas,
muitos vendedores de bugigangas? Será que algum desses itens é suficiente para caracterizar
má gestão e justificar a venda?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Desculpem a ironia, mas observem
a seguir um exemplo do que alguns consideram boa gestão. Vendidas as praias, deve-se
fazer um imenso alambrado, ok? Depois de cercadas, limitar o acesso, construir guaritas,
cobrar ingressos, rever as concessões dos quiosques, estabelecer regras, definir
quais as vestes permitidas, qual o tempo de uso, as práticas esportivas autorizadas,
determinar o tamanho e formato dos guarda-sóis, a metragem permitida para cada família
na faixa de areia, exigir licença para uso pedagógico dos castelinhos de areia,
limites para se cobrir de areia etc. As cadeiras devem ser alugadas. Ah, não
pode mais entrar com cerveja, bolacha ou biscoito nem sorvete. Só faltava essa! </span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-39460585044269442312022-10-11T14:21:00.002-03:002022-10-11T16:54:48.502-03:00Muda mundo<p style="text-align: center;"><i style="background-color: white; font-size: large; text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; line-height: 150%;">Renato Muniz B. Carvalho</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Na fazenda do meu avô, faz tempo, parecia que o mundo ia ser sempre igual. Ano após ano, a sensação que predominava era a de que tudo ficaria do mesmo jeito,
indefinidamente, nada mudaria ou mudaria muito pouco. Essa era a percepção predominante.
A alternância entre dia e noite, apesar das alterações óbvias entre claro e escuro,
entre criaturas diurnas e noturnas, entre temperaturas desiguais, entre a hegemonia
do sol ou da lua, isso não contava no rol das modificações consideradas. Mudanças
decorrentes de variações nas estações: calor e chuva no verão, frio e seca no inverno
etc., não eram entendidas como tal, mas como situações externas ao mundo, e se repetiriam
de forma contínua séculos afora. Ou seja, o normal era um mundo fixo, rígido, um
mundo que seria invariável, apesar da passagem do tempo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Vez ou outra caía uma árvore, os córregos enchiam e transbordavam, pontes
desabavam, incêndios queimavam os pastos, mas essas também eram ocorrências não
computadas no universo das transformações significativas para quem se dispusesse
a olhar o mundo com um pouquinho mais de atenção. Aliás, não perceber que o
mundo mudava e não fazer a devida leitura da realidade era habitual para muita gente.
Para certas pessoas, tanto no meio rural quanto nas cidades, as perspectivas eram
bastante limitadas. Omissões, deturpações, interesses particulares e visões dominantes
dificultavam ou impediam a leitura crítica do mundo. Isso quando as leituras não
apareciam prontas, mastigadas, sem grandes questionamentos. A sociedade patriarcal
determinava quais leituras aceitar e sua interpretação. O que escapasse para além
das estreitas margens conhecidas era punido, recusado e censurado.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Eleições eram comandadas por salientes chefes locais, que indicavam em quem
votar. As trajetórias educacionais e as carreiras profissionais eram limitadas.
Uma vez escolhida a profissão, isso devia valer para o resto da vida. Casamentos
também: “até que a morte os separe”. Aos mais jovens que ousassem questionar a ordem
estabelecida se dizia que quando fossem mais velhos desistiriam de “mudar o mundo”.
Esta era a epígrafe – ou o epitáfio – do conservadorismo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">A morte era um acontecimento fora do padrão no contexto vigente. Dificilmente
isso era entendido como algo que fazia parte da vida, daí seu impacto, sua ocultação
dos pequenos, seu caráter trágico, excepcional, místico.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Mas o mundo mudava, ora menos, ora mais, às vezes de forma mais lenta ou
mais rápida. O fato é que surgiam músicas novas, ideias novas, jovens
lideranças despontavam no cenário político e cultural, antigas concepções se desmanchavam
no ar, a ciência abria caminhos decisivos e a arte desembaraçava horizontes.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Embora as ameaças de retrocesso não desapareçam por completo, o processo
histórico empurra as sociedades rumo ao futuro. E isso não costuma acontecer sem
conflitos. Velho e novo se chocam mais cedo ou mais tarde. Daqueles tempos
adolescentes, restou um aprendizado: o mundo muda, é inevitável, e vai
continuar mudando.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Crônica publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-pagination: none; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #222222; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: large; text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-63422417474015118922022-06-07T11:18:00.004-03:002022-06-07T11:21:26.685-03:00Presta atenção! <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> Renato Muniz B. Carvalho</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Tem uma coisa complicada no mundo:
prestar atenção. A minha vida inteira tentaram me ensinar a prestar atenção: no
quadro, ao atravessar a rua, na carteira que sempre levo no bolso de trás, no ponto
certo para descer do ônibus, nas entrelinhas do discurso político, na pessoa sentada
na cadeira ao lado e na estrada afora. Presta atenção! Atenção às coisas do mundo,
aos sinais do clima, às nuvens, à chuva, aos indícios de que os ventos podem mudar
de direção, aos acenos dos amigos, aos olhares enigmáticos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Difícil é perceber os detalhes e
desvendar seus significados. Eu sempre fui um desatento, um distraído. Fui descuidado
quando o professor de matemática tentou me explicar trigonometria, seno, cosseno
e tangente. Não sei onde estava com a cabeça quando meu avô tentou me ensinar a
ganhar dinheiro. Eu queria namorar, conhecer o mundo, inventar caminhos para percorrer
sem preocupações, nas montanhas a escalar, nos mares em que poderia navegar, mas
ele insistia em falar de juros, de ações, do mercado financeiro, de câmbio e outras
tantas situações incompreensíveis para um adolescente sonhador.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Fui um eterno desmazelado com minhas
roupas, meus sapatos, e nunca aprendi a dar nó em gravata. Mas nunca fui desleixado
com a dor alheia, com a revolta dos injustiçados, com as carências históricas dos
desamparados. Nunca vacilei ao denunciar o desmatamento, a poluição das águas e
do ar, o envenenamento dos alimentos ou a opressão contra os mais fracos.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Nos raros momentos em que presto
atenção em algo, é quando leio histórias empolgantes e me envolvo no enredo; só
largo o livro quando chego ao final, mesmo que seja de madrugada. Distraído, nem
reparo no amanhecer, sei que é impossível abandonar a leitura.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Queria ter prestado mais atenção
às árvores. Algumas pessoas dizem que conversam com elas, afirmam que sabem quando
estão tristes. Não sou refratário às tristezas, às angústias e a outros sentimentos
importantes; podem me acusar de ingenuidade, mas não de descaso. Confesso os lapsos
de memória, fraqueza nos assuntos do coração, talvez, fascínio e atração exagerada
pelo mundo ao meu redor. Deve ser paixão o que me faz admirar as pessoas, as árvores
e os animais sem pedir explicações. Queria olhar para os troncos das árvores e encontrar
os indicativos da passagem do tempo, olhar o movimento dos galhos e das folhas,
o colorido das flores, suas infinitas formas, e descobrir os segredos da natureza.
Queria prestar mais atenção aos pássaros, aos seus voos, à dança das abelhas, aos
rastros dos animais noturnos que bebem água na beira do rio. Queria identificar
as aves pelo seu canto e a intenção das pessoas pelo aperto de mão, pelo olhar,
pelo beijo e pelo abraço que nos dão ou negam. E queria saber o que está pensando
a menina ao meu lado quando sorri para mim.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-76588882920928292762022-06-01T10:20:00.003-03:002022-06-01T10:21:17.027-03:00Esperar é uma arte<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> </span><span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">As pessoas se dividem entre as que
sabem esperar e as que não sabem. Esperar é uma arte, não importa o quanto se vai
esperar, não é para qualquer um. Tem gente que escuta: “me espera que eu já volto”,
mas a pessoa nunca mais retorna. É a tal história, um minutinho se transforma numa
eternidade. Esperar ou não, deixar esperando ou não, é de cada um, é prova de resistência
ou demonstração de impaciência.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Dom Sebastião, por exemplo, rei de
Portugal entre 1568 e 1578, fiel defensor da religião e das soluções militares,
foi ao Marrocos lutar uma guerra e nunca mais voltou. Muitos portugueses esperaram
a vida inteira pelo retorno do monarca. Os historiadores afirmam que ele morreu
na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Quem disse que o povo acreditou? Virou lenda
o pobre Dom Sebastião. Seu desaparecimento levou Portugal à formação da União Ibérica
com a Espanha, o que significou a perda da independência portuguesa.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Acredite quem quiser, mas no Brasil
também teve quem ficou esperando o rei português retornar para ajudar na luta contra
o “ateísmo reinante”. Foi no século XIX, no sertão da Bahia, durante a Guerra de
Canudos. Fato semelhante também teria acontecido durante a Guerra do Contestado
(1912 e 1916), mas pode ter sido intriga dos opositores. Bem, para não ser parcial,
sempre aparece alguém clamando por mitos, até nos dias atuais. Será que esperar
demais provoca algum tipo de trauma?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Tempos de espera são desiguais de
pessoa para pessoa. É como se cada uma tivesse seu próprio relógio biológico — melhor
dizendo: seu despertador biológico, onde o que conta é a capacidade de esperar.
Uns adiantam, outros atrasam, e não tem a “hora oficial”. Algumas pessoas esperam
a vida inteira, como os portugueses que esperaram por Dom Sebastião, e tem quem
não consegue esperar o sinal abrir e já acelera, provocando acidentes, colocando
a vida dos demais em risco.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">A espera, e a sua negação, têm consequências
diversas para a vida humana e o planeta. O apressadinho não consegue esperar uma
árvore crescer e, talvez, por isso mesmo nunca se preocupa com o plantio ou o reflorestamento,
além de ignorar o esforço de quem planta. Falta-lhe compreensão do processo biológico,
da germinação da semente, da brotação, do crescimento, da fotossíntese. Outros não
se importam com o desenvolvimento das crianças, desde seu nascimento, seu crescimento
e sua felicidade. São os que negam seus direitos, impedem o exercício de sua autonomia,
recusam-lhes educação de qualidade, saúde, segurança e carinho.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">É necessário saber esperar, mas,
igualmente, é preciso agir para mudar o rumo das coisas. Não se deve esperar um
déspota cair de podre, mas acelerar sua queda, não se pode esperar sentado que uma
injustiça seja reparada, mas lutar contra as arbitrariedades. É preciso plantar
árvores, viajar, amar… Está esperando o quê?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-60831860043662467252022-05-24T11:31:00.004-03:002022-05-24T11:32:16.860-03:00O sapato abandonado<p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Dia desses, ao passar por uma rua
da cidade, vi um sapato abandonado. Acreditem: a imagem era desoladora. O sapato,
um único pé, estava virado de lado, sujo, desgastado pelo uso e sem o salto. Era
um sapato feminino, com detalhes dourados, tamanho 34 ou 36, não dava para saber
ao certo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Diminuí o passo, olhei para os lados,
observei os arredores e não obtive resposta para algo que me incomodou: onde estará
o outro pé? Para muita gente, esta pode ser uma dúvida frívola, mas eu queria saber.
Devia existir outro pé ou, no mínimo, um salto descolado, estropiado. Em algum lugar
estava um sapato perdido, esquecido do mundo e das atenções do público. Não podia
estar longe. Ninguém anda com um pé calçado e outro descalço, não em sã consciência.
Já vi pessoas com meias trocadas, com cadarços desamarrados, com chinelos de dedo
diferentes, mas faltando um pé não. Deve ser muito incômodo andar assim, manquitolando,
melhor andar descalço, levar nas mãos os sapatos avariados ou abandoná-los juntos.
Qual é o sentido de salvar um pé e deixar o outro? Alguém sem uma perna? Sem um
pé? Fui investigar o assunto.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Como as lojas ainda não vendem sapatos
separados, apenas o par, achei que ali tinha um enigma, uma história triste. Quando
o sapato foi abandonado? De madrugada? Era um sapato de festa? De trabalho? De uma
secretária, de uma travesti, de uma noiva, de uma turista que se perdeu? Da Cinderela?
Tantas dúvidas! Pode ser que um cachorro tenha carregado. Terá sido briga de casal
e o pé ausente foi levado como álibi ou suvenir? Terá sido um acidente automobilístico,
um atropelamento, a vítima conduzida na ambulância deixou o pé para trás? Que azar!</span><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Não sei, prefiro não ser trágico
nem pessimista, mas pensar positivamente. Por que não podemos abandonar um sapato
no meio da rua? Alguma lei proíbe? Claro, tem a questão da poluição, da sujeira
acumulada nos logradouros públicos. Se não há leis que impedem sapatos de serem
largados ao léu em vias públicas, melhor descartá-los nas lixeiras, melhor do que
um simples abandono, uma desistência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">E alguém desiste de um único pé?
Seria como pensar com apenas um lado do cérebro, se é que isso já não foi constatado
pelos neurocientistas. Mastigar só com um lado da boca, abandonar metade do país
à própria sorte, achar que só uma margem do rio vai ser afetada pela descarga de
produtos tóxicos, coisas assim.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Aquilo não me saiu da cabeça enquanto
não entendi que as pessoas se deixam perder, por inteiro ou em partes: a dignidade,
o raciocínio, o amor, a capacidade de compreender a vida e o mundo. Queria ter
encontrado o pé que faltava. Significaria o fim do mistério, seria mais fácil
continuar minha jornada, mas a realidade é mais complexa.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p><span style="font-size: medium;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-88391537130112948012022-05-11T16:52:00.004-03:002022-05-11T16:52:49.540-03:00A vida por um fio<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Para alguém, como
eu, que passou parte da infância sem ter telefone em casa, me espanta o desespero
dos que, súbito, constatam a ausência de sinal de celular. A cara de susto e a angústia
da pessoa “descelularizada” são dignas de pesquisa antropológica — e de pena. Para
os mais agitados, é como perder uma perna, um braço, a cabeça. O que pensar disso?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Não é difícil, hoje,
constatar que certos indivíduos vivem em função do celular e das redes sociais.
Sua existência está atrelada a isso, caso contrário, desaparecem, socialmente falando.
O celular virou personagem, virou ícone, virou mercadoria com notória elegância
e apelo sensual. Mas o problema, para os obcecados, é que celulares são efêmeros,
duram pouco, logo ficam desatualizados. Pobres aparelhos ultrapassados! Quando atingem
o limite da validade, perdem o requinte, o poder e a modernidade. Os sedutores pedacinhos
de metal, que até pareciam inteligentes, viram pó, vão para a reciclagem ou ficam
esquecidos eternamente no fundo de uma gaveta. Quem diria! A solução é correr para
comprar outro.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Desde quando nos
tornamos “celular dependentes”? Ontem? Décadas atrás? Falando nisso, qual a “idade”
das redes sociais? Uma busca rápida na internet nos informa que a mais conhecida
delas surgiu nos anos 2000. Acabou se tornando popular, capaz de enviar mensagens
com eficiência, incluindo textos, áudios e vídeos, além das figurinhas. Um caso
de sucesso. Eu acho cedo para respostas definitivas. Uma finada rede social, que
balançou o coração da moçada no início do século XXI, durou dez anos e desapareceu,
alguém se lembra? Quantas mais surgirão e desaparecerão num piscar de tela? Fazem
parte do novo mundo, em constante transformação, ao qual estão atentos políticos
e empresários tentando aumentar seus lucros e dividendos.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A popularidade dos
celulares e das redes sociais não se sustentaria sem os grupos, sem a ligação
umbilical que se forma entre “amigos”, “seguidores” e “seguidos”. Grupos são formados
a toda hora, existem em função de conveniências diversas: discutir e fazer política,
debater arte e literatura, receber orientações de saúde, aleitamento materno etc.,
etc. Existem grupos de empresas, de órgãos públicos, de associações, de indivíduos
que se juntam a partir de sabe-se lá o quê. Quem forma os grupos? Qual a duração
de um grupo? Desconheço pesquisas sobre o assunto. As redes sociais ainda são muito
recentes, mal ultrapassaram o limite de duas ou três décadas.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> O</o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">s grupos nas
redes sociais substituirão a imprensa? Como ficarão a comunicação humana e a necessidade
de informação confiável nesse contexto? O impacto da internet para a imprensa tradicional
merece reflexões mais consistentes, ainda bem que tem gente séria comprometida com
os fatos e sua interpretação. Penso que a nossa obrigação é lutar pela democratização
da informação, senão a própria vida fica por um fio, o da navalha.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-45117425556766583862022-05-03T06:41:00.003-03:002022-05-03T06:42:04.886-03:00O que estamos perdendo<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">A menina — cerca de oito anos, pés
descalços, blusa de bolinhas — catava pedrinhas coloridas e colocava numa latinha.
Analisava cuidadosamente cada uma, descartava a maioria, guardava as que ela julgava
mais bonitas, mais atraentes. Outras crianças brincavam no terreno baldio, corriam
atrás de uma bola na área de terra solta, levantando poeira. Um dia, o terreno teve
cerca, teve muro, restaram os testemunhos dos limites estabelecidos, dos indicadores
de propriedade particular, do “não entre”, do “proibido jogar lixo” — avisos inúteis.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Como que isolada do mundo, ela andava
distraída, olhos perdidos no horizonte. Silenciosa, vez ou outra se abaixava para
avaliar uma pedrinha. Quando encontrava uma de seu interesse, esfregava na roupa
para limpar, lustrar, ressaltar o brilho. O destino da pedrinha estava em suas mãos:
guardava na latinha ou descartava.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">As crianças deveriam estar na escola,
abrigadas, protegidas, brincando em local seguro. No mínimo, deveriam estar num
parque ou numa praça, com quadras, equipamentos adequados, árvores, flores e gramados.
O discurso cínico grita pelos quatro cantos que a educação das crianças é o mais
importante, mas não há espaços de liberdade e de aprendizagem, apoio pedagógico,
possibilidades de encontros com a arte, com a literatura e a diversidade cultural.
O discurso hipócrita é autoritário e excludente.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">A realidade denuncia o descaso: não
há livros suficientes para todas as crianças, não há políticas de estímulo à leitura,
não há verbas para aquisição de bibliografia e reforma ou construção de bibliotecas.
Não há políticas públicas de incentivo à carreira docente. Predominam retrocessos
e desvalorização da educação democrática e libertadora. Faltam verbas para a pesquisa.
Não há políticas efetivas de combate ao racismo, ao machismo e à cultura da violência.
“Armai-vos uns aos outros” virou o novo mandamento. Dissimulações, falsidades e
interesses escusos caracterizam as práticas vigentes.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">As crianças não estão bem alimentadas,
a água não é de boa qualidade, contaminada por venenos e metais pesados. Aceitam-se
alimentos ultraprocessados na merenda e não há preocupação com a presença de agrotóxicos,
aliás, “agrotóxico” virou palavra proibida, o termo a ser usado é “produto fitossanitário”
ou “defensivo” — mas deveria ser considerado o que realmente é: veneno. O lixo acumula-se
nas beiradas, em sacolas rasgadas, remexidas, garimpadas por persistentes
recolhedoras e recolhedores de material reciclável. Restos de uma sociedade que
não sabe o que fazer com os resíduos, com sobras reaproveitáveis, que são levados
para deposição em aterros e remunerados por quantidade, ou seja, “quanto mais lixo,
melhor”.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">A menina encheu a latinha. Pensativa,
olhou o resultado do seu esforço, do tempo passado longe das demais crianças e das
brincadeiras. Um adulto apareceu e gritou qualquer coisa ininteligível: hora de
voltar para casa. A menina deixou cair a latinha no chão e foi embora. O presente
e o futuro, deixados para trás, pouco lhe diziam respeito.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p><p><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px;" /></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-52249416955602612852022-04-26T12:14:00.010-03:002022-04-26T15:09:37.939-03:00A solidão<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-size: medium;"> <span> </span><span> </span></span></o:p><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">A solidão é uma coisa complicada.
Para uns é uma dádiva, para outros é um flagelo. Pior é quando os dois grupos se
topam. O atrito costuma ser inevitável.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Imaginem duas situações, ambas num
domingo à tarde, dia ocioso, ar parado, um calor dos diabos, a chuva ameaça, mas
não vem, nada para assistir na televisão, nada que justifique sair de casa ou tomar
as ruas para fazer a revolução. Um daqueles dias em que temos a sensação de que
não vamos fazer nada que preste. Ou melhor: não faremos nada do que é preciso fazer
e muito menos o que gostaríamos de fazer. Que tristeza!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Num dia assim, o tempo não passa,
a solidão se agrava e se torna um problema social. Não sei se para entendê-la é
suficiente descrever o comportamento dos dois indivíduos hipotéticos que ilustram
este texto. Mas vamos tentar.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Um deles está na porta de casa, de
calção, camiseta, copo de cerveja numa mão e celular na outra. O sujeito parece
inquieto, sem rumo, entra e sai do interior da casa, provavelmente para manter o
copo sempre cheio. Talvez procure alguém, uma companhia, um cachorrinho, sabe-se
lá! Não confundir com depressão, ainda que uma sensação de desamparo não esteja
descartada.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Vamos às particularidades do fato:
após o almoço, o sujeito acima dedicou pelo menos duas horas do seu precioso tempo
para limpar o carro. Puxou a mangueira d’água para fora, municiou-se de bucha e
sabão, ligou o som em alto volume e mãos à obra. Visto de longe, parecia que conversava
com o carro, fazia-lhe carinho. Terminado o serviço, puxou um banquinho e por ali
continuou, com o copo na mão. Até aí, temos um sujeito zeloso de seu automóvel,
o que incomodava o outro era o som alto da música repetitiva: antes, durante e após
a lavada. E daí se isso importunava os outros! E daí? O zeloso e solitário lavador
compartilhava seu som com mais gente, talvez o bairro inteiro, o país e o mundo
todo se pudesse — e se tivesse caixas de som mais potentes.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">E o outro? Trata-se de um bisbilhoteiro,
ou melhor, o outro era eu, querendo descansar um pouco no que me restava do domingo.
Se fossem caracterizar a solidão que me assolava, poderiam dizer que eu apresentava
desconexão, não conseguia articular o pensamento, construir frases inteligíveis,
desenvolver alguma ideia coerente e edificante para fazer alguma coisa que
prestasse. Confesso que estava confuso: quem aguenta um barulho desses? Devia chamar
a polícia ou jogar pedra? Deveria lavar louça ou assistir a um filme? Dançar um
tango ou um samba? Dormir nem pensar. Querem saber? Para não perder a dignidade
e a decência, fui escrever uma crônica. Cá entre nós, o mundo está muito barulhento.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p><p><br /></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-19054847622195485422022-04-22T06:27:00.007-03:002022-04-22T06:27:58.121-03:00O córrego do segredo<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <span> </span><span> <span> </span></span></span><span style="font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Eu gosto de viajar, acho que já contei
para vocês. Viajo por diversão, por necessidade, para visitar parentes, a trabalho,
para estudos, por vários motivos. Vou à procura de novos ares, outros pontos de
vista, de água limpa, de conhecimento, de estímulos para os olhos e para o cérebro.
Já li em algum lugar que viajar faz bem à saúde, só não me perguntem a fonte. Quanto
ao “fazer bem”, as viagens nos trazem alívio, amenizam as preocupações diárias,
nos colocam desafios de mobilidade, de trânsito, de segurança, aguçam a curiosidade
sobre paisagens, comidas, sons, cores e a interação com estranhos. Acho que só isso
basta para você sair correndo e arrumar suas malas, nem que seja para ir até a cidade
vizinha passar o fim de semana. Se me permite uma sugestão, coloque o item “viagem”
como prioritário na sua vida.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p><span style="font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Dá para viajar a pé, de bicicleta,
de carro, de moto, de trem, de navio, de avião etc. De carroça não recomendo, deixe
o pobre do cavalo em paz! O importante é seguir em frente, mas voltar é sempre uma
possibilidade e se desviar do caminho também. De preferência, vá devagar para poder
apreciar o visual, conversar com as pessoas, curtir lugares diferentes.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p><span style="font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Eu gosto de observar o horizonte,
o uso do solo, as cidades, as estradas, as árvores. Cursos d’água me chamam atenção,
sejam rios, córregos, riachos, arroios ou ribeirões, todos têm sua importância.
Aliás, nenhum rio nasce grande, caudaloso, em algum momento é tão somente um manancial
escondido no meio da vegetação, um olho d’água na encosta do morro, daí a importância
de preservarmos as nascentes e as matas. Pequenos, médios, grandes, anônimos ou
famosos, todos me encantam. E os nomes? Ah, os nomes! Muitos se chamam “Córrego
Fundo”, “Rio Claro”, “Rio Escuro”. Use a imaginação, observe a diversidade e o cenário
que os cerca. Muitos devem ter sido nomeados devido aos animais existentes nos arredores:
“Córrego da Capivara”, “Córrego da Onça”, “Rio Sucuri”, “Ribeirão da Anta”. Do jeito
que as coisas andam, restaram apenas os nomes. Pobre onça, que já foi dona de um
córrego e hoje é só uma placa na rodovia! Outros foram batizados para marcar fatos
históricos: “Ribeirão da Conquista”, “Córrego da Batalha”, “Rio da Vitória”. Tinha
um que se chamava “Rio da Dúvida”. Têm os que receberam nomes de santos: “Rio São
Francisco”, quem não conhece? Vários têm nomes indígenas: “Rio Tietê”, “Ribeirão
Anhumas”, “Rio Paraopeba”.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p><span style="font-size: large; text-indent: 35.45pt;">Um dos que eu mais gosto é o “Córrego
do Segredo”. Que eu saiba, existe mais de um, talvez você conheça. Que segredos
se escondem nas suas águas, ou será nas suas margens? Uma história de amor? Um tesouro
enterrado? Uma tragédia? Tomara que não! Lugar ideal para descansar, sossegado,
bom para ouvir a água contar histórias e fazer confidências.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-82061456655657050032022-04-13T11:25:00.001-03:002022-04-13T11:26:35.096-03:00O lugar da crônica<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A crônica é uma tradição brasileira.
O país tem ótimos cronistas e um histórico notável em relação ao simpático texto,
presente na maioria dos jornais e revistas. Digamos que elas têm um lugar cativo
na literatura nacional. Sou suspeito para falar do assunto, pois, além de gostar
bastante delas, me considero um aprendiz no gênero.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">Um autêntico bilhete, do tipo: “Fui
comprar pão e já volto” ou “Fulana ligou pra você”, cabe num mero pedaço de papel.
No máximo, numa folha daqueles bloquinhos que serviam para anotar a lista de compras
da minha tia: “polvilho”, açúcar”, “sabonete” etc. Ela anotava com sua letra miudinha
e aguardava alguém ir ao armazém do Seu Waldemar. Depois, rasgava, o papelzinho
tinha cumprido sua missão.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">Jornais, livros e revistas eram mais
solenes. À tarde, quando chegavam do trabalho, meus pais sentavam-se na varanda.
Gostavam de ler os jornais e de comentar as notícias. Do chão, brincando com meus
carrinhos numa cidade imaginária, eu, que ainda não sabia ler, observava os dois.
Prestava atenção e às vezes me levantava curioso para olhar o jornal. Tentava decifrar
as razões de uma risada ou de um comentário aflito. Aquilo me deixou familiarizado
com os jornais antes de reconhecer as palavras e descobrir os segredos da montagem
das frases.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">Com o tempo, aprendi onde estavam
as notícias internacionais, o espaço dedicado aos anúncios, o cantinho das palavras
cruzadas, dos quadrinhos e qual era o lugar da crônica. Quando entrei na escola,
eu já conhecia o mundo da escrita, dos textos jornalísticos e da literatura.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">Ao me tornar um leitor mais experiente,
a sensação era a mesma de entrar no armazém do Seu Waldemar e localizar a prateleira
onde estava o polvilho da lista da minha tia. Cada coisa em seu lugar, até o dia
em que passou um redemoinho e espalhou as páginas dos jornais, misturando a análise
do futebol com o avanço das tropas inimigas, a adorável crônica do Drummond com
os sonhos da mulher mais elegante do ano segundo a coluna social.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium; text-indent: 35.45pt;">Como num pé de vento, tudo aconteceu
muito rápido, inesperado. De repente, minha tia foi embora, para sempre, e ninguém
mais usou o bloquinho para anotar a lista de compras. Ao voltar do trabalho, solitários,
passamos antes no supermercado e compramos comida pronta. Sem muita opção, passamos
a ler as notícias pelo celular, em silêncio. Na tela brilhante e sedutora, parece
que os assuntos estão fora de lugar. Eu ainda não organizei meu mapa mental para
encontrar todas as informações e os textos que me interessam. A sequência das páginas
me parece aleatória, há uma lógica que ainda não domino. Cadê a crônica? Só ela
para possibilitar meu reencontro com o mundo e comigo mesmo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: Revise Reveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><br /></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-12648604273596234652022-04-05T10:54:00.004-03:002022-04-05T10:54:32.836-03:00Arroz com feijão<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> R<i style="text-align: right;">enato
Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> <span> </span></span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Você é daqueles
que se preocupa com a origem da sua comida, com o modo de preparo e com os ingredientes?
Muitas pessoas não estão nem aí para essas coisas, o que importa é comer, de
preferência comida saborosa. Na fazenda do meu avô, a comida era muito óbvia,
mas extremamente gostosa. O que será que eu quero dizer com “comida óbvia”? É
que ela tinha por base arroz com feijão, verduras da hortinha do quintal,
alguma carne e, para finalizar a refeição, queijo fresco acompanhando compotas
de frutas ou doce de leite. Tudo muito simples e saudável. Somente anos depois,
ao me mudar para São Paulo, conheci a comida internacional, a gastronomia como um
saber aprimorado e complexo.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">O que fazia a comida
da minha adolescência tão apetitosa? Apesar da distância no tempo, penso em
diversos fatores: a preparação, os temperos, a qualidade dos ingredientes e a fome
da turma. Poucas coisas vinham de fora: sal, açúcar, macarrão, cebola, alho, canela
e cravo, conforme me recordo, eram os produtos trazidos da cidade. Arroz, feijão,
milho, mandioca, verduras, frutas, ovos, banha e carnes eram produzidos na fazenda.
Fundamentais eram a dedicação e o carinho da minha avó paterna, a dona da cozinha,
das panelas e dos temperos. Numa sociedade machista, meu avô era o dono do tempo:
vinha dele a definição dos horários. Hoje, engrenagens geopolíticas mais sofisticadas
decidem turnos, ingredientes e processos, de preferência com pressa — o </span><i style="text-indent: 35.45pt;">fast
food </i><span style="text-indent: 35.45pt;">não surgiu por acaso.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Meu avô cuidava
da produção, do preparo da terra, da colheita e da comercialização. Até os anos
1960, ele guardava parte das sementes para a próxima safra. Num espaço curto de
tempo, tudo mudou. Para começar, a decisão de desativar o moinho, onde se processava
o milho, base da alimentação de pessoas e animais. Lembro-me das duas pedras imensas,
solenes e pesadas, que trituravam os grãos transformando-os em fubá, quirela etc.
Eram movidas pela força da água do córrego que passava no fundo do quintal. Eram
admiráveis as pedras mó e o mecanismo que as fazia girar. Eu garanto: tinha algo
de mágico.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Um dia, a partir
dos anos 1970, já não se guardavam mais as sementes, elas seriam compradas a cada
safra. Se isso, num primeiro instante, acarretou aumento de produtividade, também
representou acréscimo no consumo de adubos e venenos, aumentando a dependência da
“cidade”. Minha avó não gostou da novidade, mas o que ela podia fazer? Engoliu em
seco e, depois, foi ela própria engolida pelas engrenagens do sistema. Em 1970,
ela e meu avô morreram num trágico acidente de automóvel. Acho que eles não calcularam
a velocidade do caminhão que passou por cima dos dois. Era a vida que se acelerava,
trazendo novos costumes e ritmos; a comida de comer transformava-se em comida de
vender.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-88596198779785338072022-03-29T19:29:00.007-03:002022-03-29T19:29:43.274-03:00A taubinha<p style="text-align: justify;"><i style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B. Carvalho</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Ah, as palavras! Tão simples e tão
complexas, dependendo do que fazemos com elas, de quem as utiliza. O que fazer?
Endeusar, engessar, ignorar, modificar, estudar… Eu prefiro brincar, prefiro rir,
sonhar, descobrir novos significados e usos. Prefiro guardá-las na algibeira, ou
será no alforje, no embornal, no bolso? Quando precisar de uma, eu pego e escrevo,
falo, grito, sussurro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Será que alguém ainda sabe o que
é um embornal? Melhor guardar na pochete. Pochete? Por acaso, os lexicógrafos já
registraram esta palavra? Meu computador não reconhece. Se não está registrada,
não pode? Mas está lá, nos dicionários: substantivo feminino, veio do francês “</span><i style="text-indent: 35.45pt;"><span lang="FR">pochette</span></i><span style="text-indent: 35.45pt;">”, perdeu um “t” e foi aportuguesada.
Hoje, está nas cinturas, servindo para guardar dinheiro, documentos, bugigangas,
além dos meus medos, que não os quero esparramados por aí. Alguns a consideram brega,
fora de moda, mas eu gosto e sigo usando, o objeto e a palavra.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Na minha infância, eu gostava de
prestar atenção nas conversas dos adultos, com o consentimento deles, é claro! Eu
queria aprender muitas coisas, saber das novidades do mundo, conhecer palavras diferentes,
até inventar algumas. Na fazenda do meu avô, convivíamos com uma realidade diferente
daquela com a qual estávamos acostumados na cidade. Outra cultura, outros hábitos
e palavras desconhecidas para mim. O que me deixava admirado eram as pronúncias,
as gírias, os sons. Eu ficava curioso com os sotaques, com a articulação do texto,
com a espontaneidade da fala.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Jovem inexperiente, abarrotado de
ignorâncias, principiante quanto ao vocabulário e inábil com os códigos, eu enxergava
erros, imperfeições, falhas. Mas o equivocado ali era eu. Mais tarde, reconheci
os preconceitos e iniciei um longo caminho de superação. Quanto mais eu tentava
compreender a multiplicidade da linguagem, mais eu ficava maravilhado, mais eu percebia
sua riqueza. Um mundo fantástico. Depois, veio o tempo das leituras, das descobertas
literárias, da fantasia e da vontade de mudar o mundo.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Tem coisas que a gente pega depressa,
outras demandam mais tempo. Adolescentes são afobados, quase tudo relacionado a
essa fase é urgente, é cachoeira, e não remanso. O exercício da paciência deveria
fazer parte do currículo escolar. Com impaciência, passamos por cima de muita coisa,
pulamos etapas, escalamos a montanha sem ter aproveitado a planície. Nesse processo,
muitas palavras ficam pra trás, sentimentos são menosprezados, perdem-se conceitos,
ganha a intolerância. Eu segui incorporando palavras.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Minha tristeza foi quando, um dia,
encontrei uma taubinha — para quem não sabe: “tábua pequena” —, e não pude usar.
De uso muito comum no meio rural e presente na música popular brasileira, uma simpatia.
Mas não constava dos dicionários. Logo apareceu alguém que desaprovou, até topei
com um termo incomum: metátese. Negaram, assim como hoje pretendem impedir expressões
capazes de incorporar a diversidade humana, promover maior inclusão. Com autoritarismo,
querem congelar algo que não se controla: a língua. Será medo do futuro?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Referências:</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Adoniram Barbosa: Saudosa Maloca (1951): “Cada táuba que
caia/Doía no coração”; e Tiro ao Álvaro (1960): “De tanto leva frechada do teu
olhar/Meu peito até parece sabe o quê?/Táubua de tiro ao Álvaro...” Esta música,
escrita em parceria com Osvaldo Molles, foi censurada pela ditadura militar “por
conter uma letra humorística com palavras propositadamente incorretas”.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: </span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="background-color: white; color: #5588aa; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">. </span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-18408541720321984602022-03-15T14:38:00.001-03:002022-03-15T14:38:12.550-03:00Um diálogo possível<p style="text-align: justify;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B.
Carvalho</i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> <span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Quem nunca tentou conversar com
um animal que atire a primeira pedra. Calma, é só uma figura de linguagem, uma
expressão de origem bíblica; não sou favorável a essa prática arcaica. Sabendo
que não vamos atirar pedras em ninguém, muito menos nos bichos, podemos iniciar
a conversa.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Penso que, se alguém deseja
cruzar as fronteiras da comunicação entre humanos e animais, uma das primeiras
providências deve ser saber o nome do interlocutor, sejam papagaios, cãozinhos,
bovinos, porquinhos, galinhas etc. Cavalos sempre tiveram personalidade forte.
Um cavalo que me vem à memória é o famoso Rocinante, a magricela montaria de
Dom Quixote, personagem do livro de Miguel de Cervantes. O cavalo do meu avô
chamava-se Gavião. Qual cavalo vem à sua memória: Pégaso, Pé de Pano, Ventania?
Uma vez nomeados e identificados, os bichos adquirem personalidade e espera-se
deles que compreendam as ordens humanas ou, ao menos, deem algum retorno.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Na fazenda do meu avô, eu
gostava de observar as várias “linguagens”. Eu gostava de ouvir o “ti ti ti”,
da Dona Auxiliadora ao chamar as galinhas, o “cocho, cocho, cocho” do
Bastiãozinho quando ele chamava os porcos no mangueiro. Os cachorros recebiam
maior atenção e vocabulário diferenciado: “pega!”, “deita!”, “quieto!”, além de
conversas mais elaboradas.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Atenção inconfundível também
recebia a vacada leiteira. Elas tinham nomes e orientações específicas
relacionadas a cada momento da vida: prenhez, parição, ordenha, desmama etc. Eu
gostava de vê-las chegando ao curral, respondendo ao chamado: “vem, vem, vem…”.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Onomatopeias à parte, uma falsa
ideia de superioridade leva muita gente boa a crer que os animais os
compreendem e, portanto, os obedecem. Esperam respostas no mesmo nível de
complexidade — o que para alguns humanos não é difícil —; respostas às ordens e
aos comandos, na maior parte dos casos. Eis a origem de tanta incompreensão, de
tantas agressões, distorções e desentendimentos. Ah, o desprezo pela
comunicação! Não me refiro à correção gramatical, isso é outra coisa.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Eu presenciei, durante as férias
passadas na fazenda, inúmeras tentativas frustradas de conversação. O lado mais
triste disso tudo é que a aparente incapacidade animal de entender ordens era
punida com pauladas, chicotadas e coisas piores. Inadmissível! Sempre existiam
os mais pacientes e condescendentes — neste caso, refiro-me aos humanos, que tinham
um carinho especial com as criações, e não ficavam irritados se não havia retorno.
Reconheça-se, eram os que recebiam alguma resposta, os que sabiam ouvir o que
tinham a dizer bezerros, cães e outros animais, fosse por vocalização, olhar ou
expressão corporal. Muita gente não tem ideia da força de um olhar. Nesses
momentos, é inútil ter pressa ou agir com violência, atitude comum da maioria,
infelizmente. O diálogo, para humanos e animais, se há boa vontade, é possível.
E imprescindível!</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Publicada no Jornal da Manhã:</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-91676547901798008702022-03-09T10:36:00.006-03:002022-03-09T10:37:11.585-03:00Minhas férias<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Penso que nenhum estudante do ensino
fundamental escapou do título acima nas redações obrigatórias de início do ano escolar.
Provavelmente, uma boa parte das narrativas relacionava-se às férias passadas em
fazendas de parentes ou amigos, sobretudo no interior, onde a ligação com o meio
rural era significativa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Os relatos concentravam-se nos passeios
a cavalo, nos banhos de cachoeira, na gostosa comida feita no fogão a lenha e nos
namoros efêmeros. A memória afetiva conservou e se deixou levar, anos afora, por
essas recordações. Paixões, lembranças e descobertas povoaram — e ainda povoam —
os textos produzidos. Parece, entretanto, que essa referência temática vai entrando
em declínio diante da urbanização acelerada da vida social e das inevitáveis transformações
socioeconômicas em curso.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Nas idas à fazenda do meu avô, me
recordo da quantidade de pacotes, sacolas e objetos diversos. Era muita coisa, mesmo
que fôssemos ficar apenas um final de semana. Pensando bem, com a devida distância
no tempo, dava dó da minha mãe: cabia a ela separar, organizar e guardar roupas,
botinas, alimentos, querosene, vela, esparadrapo etc. O volume da bagagem indicava
que passaríamos, no mínimo, um mês na fazenda. Um dia, meu irmão caçula ficou para
trás. Quando meus pais se lembraram, estavam quase saindo da cidade e tiveram de
voltar, apavorados com o esquecimento.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Já adolescentes, meu irmão e eu ganhamos
autonomia para irmos sozinhos à fazenda. Naquele tempo, a eletricidade já tinha
dado as caras. Meu avô vinha nos buscar e saíamos bem cedo, escuro ainda, curtindo
o frio da madrugada na carroceria de uma velha camionete. Na tralha que levávamos
não faltava pão sovado, baralho, livros, chapéu e uma muda de roupas. Certa vez,
como não nos agradasse a programação das estações de rádio — e indiferentes em
relação ao tamanho da bagagem —, resolvemos levar um toca-discos portátil. Queríamos
escutar o Milton, o Chico, o Vandré, o Gil, o Caetano, o Bob Dylan, a Joan Baez
e outros artistas de nossa preferência. À noite, na varanda, escutávamos música,
conversámos e líamos bastante.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Tenho certeza de que não incomodávamos
ninguém, nem bicho nem gente. O som alcançava poucos metros, não indo além do limite
tênue da luz. Penso nisso quando me deparo com recente relatório do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que identifica alguns problemas ambientais
atuais (fevereiro de 2022). Segundo o documento, a poluição sonora nas cidades é
uma ameaça à saúde pública. Som alto e constante prejudica a saúde, acarretando
“irritação crônica e distúrbios do sono, resultando em doenças cardíacas e distúrbios
metabólicos graves, como diabetes, deficiência auditiva e saúde mental mais comprometida”.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Tenho boas recordações daquele tempo.
Certas canções entraram para a história, sem se perderem os sons suaves daquelas
noites guardadas na memória. Hoje, quem não tira férias são os ruídos que nos cercam,
insensatos e insanos. Um flagelo!</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Para ter acesso ao Relatório
completo, clicar aqui: <a href="https://www.unep.org/pt-br/resources/fronteiras-2022-barulho-chamas-e-descompasso">https://www.unep.org/pt-br/resources/fronteiras-2022-barulho-chamas-e-descompasso</a></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 14.95px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Publicada no Jornal da Manhã:</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 14.95px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 14.95px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; line-height: 14.95px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-indent: 35.45pt;">. </span></span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-13606461824755445522022-02-22T15:52:00.004-03:002022-02-22T15:52:30.126-03:00Desobediência<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: left;"><i><span style="font-size: medium;">Renato
Muniz B. Carvalho<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Lá em casa, nunca
fomos obedientes. O que não significa que fôssemos desobedientes, revoltados ou
insurgentes. Nenhum de nós saía por aí quebrando coisas, ofendendo pessoas, pondo
fogo no mundo. Às vezes, confesso, dava vontade. Tínhamos nossos instantes de rebeldia,
mas nunca nos faltou civilidade nem bons modos.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Tomávamos banho
todo dia; as refeições eram feitas à mesa da sala, com os mais velhos; tínhamos
nossas responsabilidades em relação aos cômodos onde dormíamos e brincávamos. Os
horários definidos para comer, estudar, dormir e brincar eram respeitados. Existiam
normas, mas não eram impostas, eram negociadas. Não era perfeito, nem tinha a exatidão
de um relógio, mas funcionava. Isso afetava os relacionamentos com as outras pessoas,
pois muita gente nos tachava de, no mínimo, excêntricos, mesmo parentes próximos.
Alguns nos enxergavam como um bando de bagunçados. Nunca quebrávamos as normas?
Quase sempre! Ora, o que é a aprendizagem senão avançar além dos limites? Éramos
uma família comum, com seus problemas, fragilidades e dificuldades, mas a maioria
das questões polêmicas era resolvida na base da conversa: Posso sair hoje à noite?
Que horas devo voltar? Posso dormir na casa do meu colega? Posso viajar com meu
tio? Não quero ir à escola hoje. Não estou com fome. Posso ficar pelado no meio
da casa? Tentativas, experimentos e verificação dos limites eram relevantes. Em
outras palavras: aprendizagem para a vida, com seus inevitáveis erros e acertos.
Não foi fácil! As imposições da época exigiam: “regras existem e não devem ser quebradas”.
O comportamento padrão e patriarcal reforçou, em muitas pessoas, atitudes amarguradas,
desconfiadas, acanhadas, conservadoras. É triste constatar isso.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Passar as férias
na fazenda do meu avô ampliava a sensação de liberdade. Tínhamos espaço à disposição,
contato com árvores, animais, rios, cachoeiras e pessoas diferentes, que ali trabalhavam
ou que por ali passavam. A orientação era respeitar e entender as diferenças. Não
maltratar o cavalo que nos carregava nos passeios, não estragar troncos nem quebrar
os galhos das árvores, não causar danos às plantações, seja na hortinha de couve
ou nas extensas lavouras de milho e arroz, e jamais discriminar, humilhar ou debochar
das pessoas.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Éramos livres e
abertos para indagações e questionamentos diversos. Sabíamos que não viriam safanões
ou cara feia por desejar saber como funcionava o mundo, embora soubéssemos que certas
perguntas eram inconvenientes para uns, enquanto outras eram restritas ao mundo
adulto. Meus pais rebolavam para se desviar das armadilhas pedagógicas quando o
assunto era controverso. Política, sexo e religião eram os assuntos mais delicados,
mas nunca escamoteados.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">De modo geral, salvou-se
uma melhor compreensão do mundo e de suas contradições. O melhor de tudo: uma educação
não repressora apresenta melhores resultados, mas muita gente não compreende e não
está disposta a abrir mão de seu micropoder. É pena!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-indent: 35.45pt;">. </span></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-7382274877092305912022-02-15T11:08:00.000-03:002022-02-15T11:08:24.248-03:00Viva o progresso! <p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <i style="text-align: right;">Renato
Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Tudo aconteceu tão
rápido que parece nem ter acontecido. Começou com os automóveis ocupando as ruas,
as avenidas e as rodovias. Exigentes, eles foram chegando, jogando charme, seduzindo
a maioria com promessas de liberdade, aventura, emoções fortes e autonomia. Quem
não queria?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Os deslocamentos
sempre representaram um quebra-cabeça para a espécie humana. Apesar disso, correr
atrás das grandes manadas, realizar travessias marítimas intermináveis, enfrentar
filas de restaurante no fim de semana tem algo de épico. Ah, como é bom poder ir
aonde queremos, cruzar fronteiras e atravessar desertos! Durante muito tempo, para
realizar essas façanhas só dependíamos de combustível barato, malha rodoviária razoável
e uma boa rede de assistência mecânica. O sonho se tornou realidade, pelo menos
para alguns. Os outros continuaram dependendo de ônibus ou trens lotados.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Logo que surgiram,
os automóveis tornaram-se merecedores de regalias, dentre elas cômodos exclusivos,
também chamados de garagem, vaga ou estacionamento. Prédios antigos e construções
históricas foram derrubados para dar lugar aos carros, áreas verdes ficaram
cada vez mais escassas. Aos espaços específicos e delimitados seguiram-se regras
gerais de circulação, controle de velocidade, sinais, semáforos, linhas, signos,
placas etc. Uma complexidade de dar inveja aos burocratas. Até gatos e cachorros
respeitam o trânsito: já viram cachorros atravessando uma rua movimentada? A atenção
com que atravessam é impressionante, alguns inclusive usam as faixas de pedestre,
comportamento que muitos humanos têm dificuldade de executar.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Com o passar do
tempo, os automóveis se tornaram cada vez mais inteligentes. Dos modelos que estacionavam
sozinhos aos que ganharam plena autonomia, foi um passo ou, melhor dizendo, uma
volta do pneu. Não sei bem quando foi, mas, um dia, um dos mais tecnológicos veículos
da nova safra, totalmente informatizado, desses que circulam sem motorista, virou-se
para seu proprietário e se ofereceu para ir à farmácia comprar um analgésico: “Pode
deixar que eu vou, continue assistindo à TV, não saia daí”.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Pronto! Nunca mais
a história foi a mesma, desde o tempo em que os beduínos atravessavam o deserto
em camelos. Os carros dominaram o mundo. Tentativas de controle foram inúteis: radares,
legislação restritiva, pedágios, buracos na pista, falta de vagas e preços dos combustíveis
nas alturas não impediram o aumento da frota. A forte e desigual relação de dependência
se consolidou — a favor dos automóveis! Até o dia em que os carros cercaram as portas
das residências, bloquearam as vias de circulação e grandes congestionamentos se
formaram. Foi o caos! A partir daí, os humanos passaram a trabalhar para os carros:
encher o tanque, deixá-los limpos e brilhantes, econômicos, ergonômicos, confortáveis…</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Hoje, nós entramos
nos carros sem saber aonde vamos, por que, quando e se chegaremos. Eles, os veículos,
dizem que tudo se fez e se faz em nome do progresso, da riqueza da nação. Então
tá!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique </span><a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none; text-indent: 35.45pt;">aqui</a><span style="text-indent: 35.45pt;">. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-34845127856056729652022-02-09T09:27:00.006-03:002022-02-09T09:28:25.698-03:00Mudança de paradigma<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">A primeira vez que um veterinário
apareceu na fazenda do meu avô foi um reboliço. Para começar, a dificuldade em pronunciar
a palavra “veterinário” e, mais ainda, entender o que isso significava. No fim,
virou “o doutor de bicho” e ficou por isso mesmo. O sofisticado homem era olhado
com desconfiança. Tinha gente que no dia marcado para a visita do ilustre doutor
desaparecia nas baixadas, outros vestiam as melhores roupas. A meninada subia nas
tábuas do curral só para observar de longe os vidros, as seringas e admirar o jeitão
do especialista em saúde animal. Eu mesmo quis saber do meu avô se aquela presença
era de fato necessária e ele confirmou, dizendo que era preciso melhorar o rebanho
e garantir melhores condições de trabalho para todos os envolvidos na lida diária
da fazenda.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Melhoria da produtividade, sanidade
do rebanho e adequação da atividade às novas regras, que mais cedo ou mais tarde
viriam, eram imprescindíveis, segundo meu avô. Vacinas, antibióticos, controle de
parasitas, métodos de manejo racionais eram tendências que não podiam ser ignoradas.
Mas o choque cultural inicial foi grande, eu me lembro.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">As práticas tradicionais começavam
na hora do nascimento da bezerrada. Após o parto, no piquete, mãe e filho eram conduzidos
ao curral. Se a vaca era brava ou novilha de primeira parição, vinha debaixo de
muita pancadaria; dizia-se que ela tinha ciúmes da cria. Uma vez apartados, o pobre
filhote era jogado no chão e recebia uma boa quantidade de desinfetante no umbigo.
Em seguida, era levado para um lugar onde já estavam os outros bezerros, que só
voltavam a ter contato com a mãe na manhã do dia seguinte. O colostro era destinado
à porcada. Dias depois, a língua era raspada a canivete para eliminar uma enfermidade
denominada “sapinho”. Os animais acometidos por ela não conseguiam mamar, aparentavam
fraqueza, levando muitos à morte. Se acaso surgisse uma bicheira, o animal era derrubado
e tratado onde estivesse, geralmente retirando os parasitas com o canivete de sempre
e enchendo o buraco, a ferida, com tecido velho e, não raro, esterco seco. É claro
que o Dr. Veterinário condenava essas práticas e apresentava outras soluções. Incomodava-me
observar que, às vezes, bastava ele virar as costas para tudo voltar a ser como
antes.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Lembranças boas eu tenho dos dias
de vacinação do rebanho. Meu avô gostava de começar cedo, zeloso da caixa de isopor
cheia de frascos e gelo. Todo o gado passava no curral, oportunidade para conferências
e apartações. A vacinação passou a ser obrigatória, mas o que deixava meu avô atônito
era saber que alguns fazendeiros recusavam-se a vacinar. Isso foi nos anos 1960
e 1970. Hoje, imagino, todos compreendem a importância das vacinas e da ciência,
afinal, o mundo mudou. Ou não?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-71682043467929995432022-02-01T18:14:00.006-03:002022-02-01T18:14:55.079-03:00Recomendações de leitura<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> Crônica de <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p> <span> <span> </span></span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Ouço com frequência uma pergunta:
“quantos livros você já leu?”. Aí bate uma dúvida constrangedora: e eu lá sei? Faço
as contas, mas é difícil chegar a um resultado satisfatório. Vejamos: o primeiro
livro foi aos sete anos de idade; comecei devagar, um por ano, mas teve ano em que
li trinta, quarenta livros ou mais. Teve ano em que fui mais lento, um por mês,
talvez menos. Por quê? Não sou uma máquina de ler e nunca fiz curso de leitura dinâmica.
Teve livro que li duas vezes ou mais, teve livro que parei na metade — esses contam?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Ler me ajudou muito, mas não me fez
melhor nem pior do que as outras pessoas. Jamais imaginei a leitura como um indicador
de inteligência ou de esperteza. Li tanto por prazer como por obrigação. Sim, como
milhares de estudantes, fui obrigado a ler livros ditos “obrigatórios”, seja porque
as autoridades assim estipulavam ou porque ia “cair no vestibular”, ia “cair na
prova”. Quanta gente não foi atrás de resumos dos tais livros, de filmes, de peças
de teatro por não gostar de ler, por estar com preguiça, não ter sido suficientemente
estimulado ou não ter acesso aos livros? Que perda de tempo! Ler o livro vem antes,
anos-luz antes de qualquer sucedâneo.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Outra pergunta recorrente diz respeito
às recomendações de leitura: “Que livro você me indica?”. Responder é mais ou menos
como sugerir um vinho, um carro ou uma viagem. Que vinho você prefere? Tinto,
branco, rosé? Brasileiro, chileno, argentino, francês, português, espanhol? Carro
conversível? Carro econômico? Picape? Utilitário? Qual a viagem de seus sonhos?
Lua de mel em Cancun? Viagem com as amigas, com os amigos? Um cruzeiro marítimo?
Uma viagem de camelo no deserto do Saara? Peregrinação pelo Caminho de Santiago
de Compostela ou romaria até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida? Viagem
ao litoral no feriadão? Tenho pena dos </span><i style="text-indent: 35.45pt;">sommeliers</i><span style="text-indent: 35.45pt;"> e dos agentes de viagem.
No caso dos livros, respondo com prazer e interesse. Pergunte! Tenho mil sugestões.
Não podemos desperdiçar uma oportunidade de leitura.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Tem gosto pra tudo: romance, conto,
poesia, crônica; são inúmeros os gêneros literários. Tem quem goste de romance policial,
outros preferem contos de terror; não há o melhor ou o pior, a não ser o interesse
ou a necessidade de quem vai ler, considerando se são livros científicos, técnicos
ou de filosofia, sem esquecer os manuais de carpintaria e os livros de culinária.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Meu conselho preferido: leia! Leia
no ônibus, leia no banheiro, leia antes de dormir, leia nas férias, leia junto com
a sua turma. Leia e não deixe de comentar, leia e, se possível, passe adiante, divulgue.
Não guarde só para você, divida com outras pessoas o prazer da leitura!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-11187372682398341652022-01-25T18:31:00.009-03:002022-01-25T18:32:27.503-03:00Trocas, afetos, correspondências<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span><i style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">Renato Muniz B.
Carvalho</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A última coisa que eu devia ter feito
naquela tarde chuvosa era mexer nas caixas em que eu guardo minha correspondência
pessoal. Não sei que motivos me levam a guardar esses papéis, por isso ainda não
os joguei fora. Ocupam espaço, empoeiram, mas trazem boas recordações — a maioria.
Cartas, cartões e diversos bilhetinhos recebidos ao longo de mais de cinquenta anos.
Fiquei envolvido a tarde inteira. Querem saber? Para mim, são um tesouro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">O que essa correspondência tem de
especial? Muita coisa, a começar pela caligrafia, única, de cada pessoa que enviou.
Da cor da tinta à forma de desenhar as letras, tudo é maravilhoso, carregado de
sentimentos, de emoção. Os envelopes, os selos, os lugares de onde foram enviadas
— muitas vieram do outro lado do mundo ou de recantos espalhados por esse brasilzão
— compõem uma história, revelam preocupações pessoais e coletivas de um tempo que
não existe mais, trazem informações e saudades.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Cartas dos pais, dos irmãos, dos
amigos e amigas, de parentes distantes, de pessoas apaixonadas, de gente que não
está mais entre nós, de alunos e alunas e até daqueles de quem eu não me lembro
mais, sem contar os que eu nem sei quem são: por que guardei essas se nem sei quem
são os remetentes? Razões misteriosas, curiosidade — um dia eu descubro!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A chuva não parou e eu segui remexendo
a correspondência guardada. Lá fora, raios e trovões, muita água escorrendo, lavando
ruas e calçadas, aqui dentro, relâmpagos estouravam na minha cabeça despertando
memórias. Relâmpagos que se pareciam com transmissões sinápticas ligando neurônios
adormecidos em algum canto do cérebro. Dava para mapear as cidades onde meus parentes
passavam as férias no século XX; as praias preferidas dos amigos nos verões mágicos
dos anos 1970; as angústias dos amigos e amigas durante os anos difíceis da censura,
da repressão, do silêncio, quando desconfiávamos da possibilidade de alguém violar
nossas correspondências. Quantos segredos? Quantas confidências deixaram de ser
ditas?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Um caso à parte é o dos cartões postais.
Uma das primeiras coisas que eu fazia ao chegar numa cidade nova, de férias ou
a trabalho, era logo comprar postais para enviar aos amigos, aos meus pais e aos
filhos: “olha, estive aqui!”. Não importava se a fotografia era de uma pracinha
da cidade do interior ou de um monumento magnífico numa capital, era fundamental
fazer o registro, ir aos Correios, escolher o selo e enviar aos destinatários, sem
envelope, com muitas expectativas para saber se ia chegar.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Será que as mensagens eletrônicas,
as mensagens de texto, de voz e de vídeo que trafegam pela Internet possuem a mesma
magia? É impressão minha ou é mais fácil apagar um e-mail do que jogar uma cartinha
fora? Se alguém souber a resposta, me conte.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-50667733449052013842022-01-18T09:29:00.006-03:002022-01-18T09:31:30.925-03:00Numa manhã chuvosa...<p><span style="font-size: medium;"><o:p> </o:p><i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><o:p><span> <span> </span><span> </span></span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Acordar e descobrir que o dia amanheceu
chuvoso é desanimador para muita gente. Reconheça-se que para outros é muito bom:
para quem pode ficar na cama, por exemplo, também para os agricultores que acabaram
de plantar sua roça e, enfim, para quem precisa de água para beber, para viver,
seja no meio rural ou na cidade. Sem a chuvinha — ou chuvona —, as nascentes não
sobrevivem, não ocorre a recarga dos aquíferos, as plantas não crescem e não se
desenvolvem etc.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Embora eu não faça parte do grupo
que pode ficar na cama curtindo a manhã chuvosa, eu me permito uns minutinhos de
contemplação e recordação. Quando eu era criança, lembro-me que a chuva ao amanhecer
me deixava sorumbático, principalmente quando estava passando as férias na fazenda
do meu avô. Significava que não poderia andar a cavalo, não poderia ir pescar no
corguinho no fundo do quintal, nada de passeios pelos capões de mato em busca de
frutas do cerrado e de lugares novos para ampliar minha geografia.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">O melhor de tudo é que raramente
a chuva durava a manhã toda. Verdade que a angústia me dominava logo nas primeiras
horas; antever que ela me forçaria a ficar em casa era terrível. Da janela do quarto
ou da varanda, eu procurava sinais de que ela passaria em breve: o canto dos pássaros,
as teias das aranhas, a direção do vento, o formato e o tamanho das nuvens e por
aí afora. Eu me transformava num doutor em climatologia, especialista em previsão
do tempo, desejando o fim imediato da chuva para que não atrapalhasse minhas atividades.
Que ilusão!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Se a chuva continuasse, era bom partir
para outros afazeres. Interrogar minha tia para extrair dela os segredos da família;
convencer minha mãe de como eu era exímio cozinheiro; fuçar na caixa de ferramentas
do meu pai e imaginar que eu daria conta de produzir móveis, brinquedos e soluções
mágicas para o dia a dia, inclusive algum mecanismo para interromper a chuva. Se
na fazenda estivessem mais pessoas, primos, primas, amigos e amigas, a solução eram
os jogos de tabuleiro, o baralho e as brincadeiras para estimular o emocional: mímicas,
competições e desafios. Em especial, conversas e reflexões. Leitura sim, televisão
nem pensar! Se nesta época já existissem os celulares e as redes sociais, estaríamos
todos apartados, com a solidão correndo solta nas ondas da internet. Ufa!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Não sou contra a tecnologia, é claro,
mas acho que está sobrando delírio, tapeação, e anda faltando raciocínio nos dias
de hoje. Será que precisamos de uma boa chuva para nos fazer repensar o mundo e
a realidade que nos cerca? Uma manhã chuvosa para nos ajudar a refletir sobre as
contradições sociais, a política e aberrações como o negacionismo científico, o
autoritarismo, a apologia da ignorância e a distorção do passado.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-11721998756373468822022-01-11T11:29:00.007-03:002022-01-11T11:30:46.505-03:00Bom dia! <p style="text-align: justify;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> <span> </span><span> </span></o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Acordei disposto a dar um cordial
bom-dia às pessoas ao meu redor. Não quero deixar ninguém de fora, mesmo porque,
como dizem uns e outros, “fora” não existe. Antes de tudo, é preciso assumir as
responsabilidades em relação ao dia que começa. Lixo, poluição, fumaça, ignorância,
mentiras, ódio, tristezas e desigualdades sociais não combinam com um dia bom.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Como tenho certeza da esfericidade
do planeta, se pudesse dava a volta ao mundo dando bom-dia a toda a gente, sabendo
que não posso me esquecer dos que estão mais próximos. Seria descortesia ignorá-los.
Acho bom dar ampla publicidade ao singelo cumprimento. Admitindo a hipótese de que
não estamos sozinhos no universo, e para não melindrar ninguém: bom dia, extraterrestres!
Meu bom-dia vai para todas as pessoas em todos os cantos, não importa quem, embora
nem todos correspondam. Sempre é tempo de ser atencioso. Afinal, eu não dormi com
essas pessoas. Conforme meu avô me ensinou: “Como você não dormiu comigo, diga bom-dia
ao seu avô!”.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Meu sincero bom-dia ao porteiro do
prédio onde moro, bom-dia ao rapaz dos correios que traz a correspondência, bom-dia
ao entregador de pizza do aplicativo, bom-dia à faxineira com seus paninhos, seus
apetrechos e seu bom humor. Bom dia aos funcionários silenciosos e compenetrados
que varrem as ruas e recolhem o lixo urbano. Bom dia aos jardineiros, pelo cuidado
constante com os jardins e gramados que nos alegram a vida. O bom-dia há de ser
também para aqueles que começam cedo sua jornada e trabalham de sol a sol, incansáveis
batalhadores.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Bom dia, ranzinzas! Embora eu discorde
de sua visão de mundo, vocês que se julgam superiores, acordam tarde e não dão sequer
bom-dia àqueles que, segundo vocês, nasceram para servir-lhes; não vou entrar no
seu jogo mesquinho. Bom dia também aos egocêntricos que passam por nós e fingem
que não nos enxergam.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Acordei cedo e abri logo a janela.
Olhei para a rua desejando gritar bem alto meu bom-dia para quem vai à luta, para
o motorista do ônibus, que certamente começou sua jornada quando ainda estava escuro,
para o cara esforçado que pedala sua bicicleta com afinco, de olho no trânsito louco.
Bom dia, distinta senhora que saiu de casa com seu pet para que ele faça suas necessidades
matinais! Não se esqueça de recolher o cocô do cãozinho! Não gritei porque não quis
atrapalhar o sono dos que dormiram mal, não quis interferir na angústia dos insones;
provavelmente, eles não compreenderiam essa manifestação de civilidade.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Do fundo do coração, meu bom-dia,
mesmo que você não esteja nesta lista. Eu teria de me apoderar do espaço inteiro
do jornal se fosse contemplar a todos. Minha especial saudação a você que estiver
lendo esta crônica, tenha um bom dia!</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-indent: 35.45pt;"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1259928662908790515.post-66733938021220032532022-01-02T16:04:00.003-03:002022-01-02T16:07:12.159-03:00A lanterninha<p style="text-align: center;"> <i style="text-align: right;">Renato Muniz B. Carvalho</i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> <span> </span><span> <span> </span></span></o:p><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Eu tenho poucas certezas. Uma delas,
talvez a mais forte, é que existem os dias e as noites. O resto é pura especulação,
matéria para a linguística, a história e a filosofia. Foi devido a essa constatação
que eu decidi nunca abrir mão de uma boa lanterna.</span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Minha primeira lanterna eu ganhei
de presente do meu pai. Nós íamos passar as férias na fazenda do meu avô e lá não
tinha energia elétrica, tudo dependia de lampiões e velas, as noites eram escuras
e misteriosas. A lanterninha me proporcionou autonomia diante da escuridão e tornou-se
item indispensável nos passeios e viagens. Que felicidade a minha! Se no início
servia para olhar o jardim, o vão debaixo da escada e se o portão da entrada estava
fechado, depois me permitiu investigar os seres noturnos: morcegos, insetos, vagalumes,
aranhas, curiangos e corujas, mas vou parar por aqui, a lista é longa. Pouco a pouco,
fui mais longe, para verificar se vacas e cavalos estavam mesmo dormindo, se a água
do córrego no fundo do quintal continuava correndo e se as estrelas não tinham
caído do céu. Ingenuidade? Que criança nunca se perguntou isso e muito mais?<span style="text-indent: 35.45pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">A energia elétrica não demorou a
chegar e a lanterna adquiriu outras serventias. Memoráveis pescarias só foram possíveis
graças a ela. Preparada a tralha de pesca, nós — meus irmãos, amigos e eu — descíamos
para o córrego e ali ficávamos até tarde da noite, incomodando os peixes nos
poços calmos e profundos. Mais conversávamos do que pescávamos. As boas sensações
vinham de poder estar ao relento, sob o céu das noites frescas do Cerrado, ouvindo
o sussurro da água escorrendo entre as pedras, os pios e os chiados de animais desconhecidos
para nós e outros sons não identificados.<span style="text-indent: 35.45pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">As lâmpadas das lanternas eram frágeis,
queimavam-se com facilidade, as pilhas eram grandes e caras. Por isso, economizávamos
o uso. Não raro, na volta subíamos em fila indiana, com o primeiro iluminando o
caminho para os demais. Na beira do barranco, a luz era acessa só em caso de fisgada
certeira ou para trocar a minhoca no anzol. Ficávamos preocupados com cobras, mas
não nos metíamos em locais com mato alto e troncos caídos. O pior que podia acontecer
era a linha enroscar num galho, perder o anzol e quebrar-se a frágil varinha de
bambu.<span style="text-indent: 35.45pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Com o tempo, as lanternas se transformaram.
Nós e o mundo também. Chegaram as importadas dos países asiáticos, as lâmpadas de
LED, e sumiram as pilhas grandes, substituídas por baterias e pilhas recarregáveis.
As pescarias acabaram. As conversas agora giram em torno da poluição dos rios, da
falta de tempo, das doenças, dos atropelos da vida. Hoje, muitas pessoas não estão
nem aí para lanternas, meio ambiente e ciência. Acho que não ligam de ficar no escuro.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Publicada no Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 13px; line-height: 14.95px; text-indent: 35.45pt;">Revisão: ReviseReveja. Clique <a href="http://www.revisereveja.com.br/p/quem-sou-eu.html" style="color: #5588aa; text-decoration-line: none;">aqui</a>. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></p>Renato Munizhttp://www.blogger.com/profile/10073282393059328556noreply@blogger.com0