sexta-feira, 22 de abril de 2022

O córrego do segredo

 Renato Muniz B. Carvalho

         Eu gosto de viajar, acho que já contei para vocês. Viajo por diversão, por necessidade, para visitar parentes, a trabalho, para estudos, por vários motivos. Vou à procura de novos ares, outros pontos de vista, de água limpa, de conhecimento, de estímulos para os olhos e para o cérebro. Já li em algum lugar que viajar faz bem à saúde, só não me perguntem a fonte. Quanto ao “fazer bem”, as viagens nos trazem alívio, amenizam as preocupações diárias, nos colocam desafios de mobilidade, de trânsito, de segurança, aguçam a curiosidade sobre paisagens, comidas, sons, cores e a interação com estranhos. Acho que só isso basta para você sair correndo e arrumar suas malas, nem que seja para ir até a cidade vizinha passar o fim de semana. Se me permite uma sugestão, coloque o item “viagem” como prioritário na sua vida.

 Dá para viajar a pé, de bicicleta, de carro, de moto, de trem, de navio, de avião etc. De carroça não recomendo, deixe o pobre do cavalo em paz! O importante é seguir em frente, mas voltar é sempre uma possibilidade e se desviar do caminho também. De preferência, vá devagar para poder apreciar o visual, conversar com as pessoas, curtir lugares diferentes.

 Eu gosto de observar o horizonte, o uso do solo, as cidades, as estradas, as árvores. Cursos d’água me chamam atenção, sejam rios, córregos, riachos, arroios ou ribeirões, todos têm sua importância. Aliás, nenhum rio nasce grande, caudaloso, em algum momento é tão somente um manancial escondido no meio da vegetação, um olho d’água na encosta do morro, daí a importância de preservarmos as nascentes e as matas. Pequenos, médios, grandes, anônimos ou famosos, todos me encantam. E os nomes? Ah, os nomes! Muitos se chamam “Córrego Fundo”, “Rio Claro”, “Rio Escuro”. Use a imaginação, observe a diversidade e o cenário que os cerca. Muitos devem ter sido nomeados devido aos animais existentes nos arredores: “Córrego da Capivara”, “Córrego da Onça”, “Rio Sucuri”, “Ribeirão da Anta”. Do jeito que as coisas andam, restaram apenas os nomes. Pobre onça, que já foi dona de um córrego e hoje é só uma placa na rodovia! Outros foram batizados para marcar fatos históricos: “Ribeirão da Conquista”, “Córrego da Batalha”, “Rio da Vitória”. Tinha um que se chamava “Rio da Dúvida”. Têm os que receberam nomes de santos: “Rio São Francisco”, quem não conhece? Vários têm nomes indígenas: “Rio Tietê”, “Ribeirão Anhumas”, “Rio Paraopeba”.

 Um dos que eu mais gosto é o “Córrego do Segredo”. Que eu saiba, existe mais de um, talvez você conheça. Que segredos se escondem nas suas águas, ou será nas suas margens? Uma história de amor? Um tesouro enterrado? Uma tragédia? Tomara que não! Lugar ideal para descansar, sossegado, bom para ouvir a água contar histórias e fazer confidências.


Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67

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