domingo, 29 de julho de 2012

O diário de uma professora (parte IX)


Elisa Wey Muniz Barretto e Dr. João Gonçalves Muniz Barretto


A partir daqui (nesta parte do Diário), já aposentada, Elisa não mais faz referências às questões escolares, à sua profissão. Seus interesses resumem-se à família, aos filhos e netos, a quem se dedica integralmente. Suas observações sobre o cotidiano, sobre as viagens valem a leitura.

Foi um tempo de perdas: a mãe, Joãozinho e a nora Eunice.

Foi um tempo de nascimentos: netos e bisnetos.

O tempo passou...

Quatro gerações: Ana, Elisa, Olga e Neusa


O Diário (parte IX)

Quando, pela 2ª vez, mudamos para Avaí, eu já estava aposentada, após 31 anos de luta. Encontrei Avaí muito decadente e aí permanecemos apenas cinco meses, pois Joãozinho foi convidado para substituir um médico da Caixa em Aquidauana (Mato Grosso) (1).

Viemos passar uns dias em São Paulo, preparamos as nossas malas e seguimos para lá, levando Sylvio conosco.

Aquidauana é uma cidade quentíssima e, por ser plana, quando chove as águas não têm escoamento e daí a grande quantidade de pernilongos. Não aguentei Aquidauana e, no fim de 6 meses, regressei à São Paulo, em companhia de Sylvio. Em Aquidauana há mangas e bananas maçãs deliciosas, porém o calor é sufocante. Sylvio dormia no nosso quarto e, ao levantar-se, tirava o pijama e torcia: pingavam gotas de suor.

A nossa viagem de Aquidauana a São Paulo, foi cansativa, pois havia muita poeira e calor. Ao chegarmos em Bauru, fomos para um hotel e pedimos banho. A camisinha do Sylvio estava tão suja que não se conhecia a cor; de branca que era, passou a cor de chocolate. Ele, então, disse-me: vovó, não lave essa camisa, pois eu quero mostrá-la à mamãe.

Joãozinho ficou ainda alguns meses em Aquidauana e, terminada a licença do médico, regressou a São Paulo.

Saímos ainda diversas vezes para o interior: Araçatuba, Guararapes, Guaraçaí, Castilho e Dracena.

Estávamos em Castilho, quando Cid, estando a terminar o curso de Engenharia, telegrafou-nos pedindo autorização para casar-se com Mercedes. Casou-se e, logo depois, formou-se. Já é pai de 3 filhos: Marilisa, Cybele e Nelson. Cid foi sempre um bom filho. Muito quieto, muito comportado e estudioso. Seus filhos são bonzinhos, Mercedes é uma boa esposa. Cid é muito trabalhador, cumpridor de seus deveres e está bem colocado.

Mamãe

Morávamos ainda no Cambuci quando mamãe foi passar uma temporada em nossa companhia. Ela estava com 84 anos. Uma noite, levantou-se e, ao voltar para a cama, caiu de joelhos e, nessa ocasião, fraturou a cabeça do fêmur. Coitada! Não poude mais sair da cama e veio a falecer em consequência de uma pneumonia. Já lá se vão 19 anos que ela não pertence mais a este mundo. Mamãe foi uma santa. Quantas saudades deixou no meu coração!

Quando Olga casou-se, Dulce ficou noiva do Homero. Um ano depois, Dulce formou-se e, como Homero estava desempregado, não marcamos o casamento. Ele só se colocou mais tarde no Novo Mundo e foi então que se casaram, e ficaram morando conosco no Cambucy.

Ali nasceram Dácio e Heraldo. Júnior só chegou 10 anos depois do Heraldo e já morávamos na Rua Vergueiro.

Em Dracena (2), Joãozinho foi professor de português no ginásio. Ali ele comprou um terreno e mandou construir uma casa na qual ficamos residindo. Dracena é uma boa cidade, cujo progresso é enorme. Lá estivemos quase dois anos. Joãozinho era muito estimado no Ginásio, tanto pelos colegas, como pelos alunos. Ele vivia muito feliz lá.

Certa ocasião eu vim a São Paulo e quando quis voltar, não foi possível, pois suspenderam as viagens da Real, único meio de transporte. Fiquei aqui [SP] aguardando o novo início do avião e, certo dia, recebi um telegrama do prefeito de Dracena, Sr. Irio Spinardi, avisando-me que meu marido se achava muito doente e reclamava minha presença. Telefonei ao Homero pedindo que comprasse uma passagem, de avião, até Tupã e segui para lá. Em Tupã não encontrei condução para Dracena, mas depois de muito indagar, resolvi seguir no teco-teco. Encontrei Joãozinho um pouco melhor e fiz-lhe companhia até o fim do ano. Depois de terminados os exames do ginásio, preparamos a nossa mudança e viemos para cá, deixando a casa alugada a um casal de italianos.

Mais tarde, Joãozinho voltou, só, a Dracena e achando a casa muito mal cuidada, cheia de pregos nas paredes, suja, etc. resolveu vendê-la por 100.000 cruzeiros.

Não saímos mais para o interior, ocupamos aqui, em casa de Homero, um bom quarto; mas estando muito cheio de livros, resolvi aproveitar uma área nos fundos e transformá-la em um cômodo para servir de escritório. Terminado este, transportamos para ele todas as estantes com livros, escrivaninha e cadeira.

Os meninos da Dulce, Dácio e Heraldo ocupam um quarto bem espaçoso e Junior, como é pequenininho, dorme no quarto dos pais. Dácio já fez o ginásio e o clássico, e Heraldo está terminando o ginásio.

Neyde está concluindo o curso de odontologia e Marina está terminando o ginásio [filhas de Lúcio]. Neusa [filha de Olga], já é professora e continua o curso de direito. Brevemente teremos uma advogada na família. Sylvio [filho de Romeu], trabalha no Rio, na P.H.A. e é um rapaz muito ajuizado, muito querido e bondoso. Lucia também trabalha e Elza casou-se e está residindo em Uberaba [filhas de Romeu]. Marilisa já está no ginásio, Cybele freqüenta o primário e Nelson também começou a frequentar a escola [filhos de Cid]. Sylvia Heloisa [filha de Romeu] está muito crescida e Júnior [Homero, filho de Dulce] também.

No dia 23 de novembro de 1954, à noite, recebemos notícia de que Eunice havia sido operada. Telefonamos para o hospital, no Rio, e soubemos que ela estava passando muito mal. No dia seguinte, muito cedo, eu e Dulce tomamos o avião e seguimos para lá. Olga, avisada, foi também.

Ela estava agonizando, a coitadinha! Como senti a morte desta nora! Era tão bondosa e muito amiga. Lúcio estava inconsolável; fazia dó vê-lo chorar. Ele ficou viúvo quase dois anos, muito triste, pois não se conformava em ficar só e, finalmente, casou-se com Terezinha. Foi uma ótima escolha, pois ela é muito carinhosa, tanto para Lúcio como para as meninas.

Em janeiro de 1956, Dulce festejou os aniversários, porque Junior fez anos no dia de Reis, dia 6, Heraldo, dia 21 e Dácio, dia 30.

Nessa ocasião, Joãozinho já andava doente. Vomitava muito, tinha insônia e angustia. Ele mesmo se medicava, mas não apresentava melhoras, e assim foram se passando os dias, até que, em abril, resolveu consultar um especialista. Telefonei ao Antoninho, meu mano, pedindo sua opinião sobre o médico que devíamos consultar. Consultem o Dr. Felipe Figliolino, que é meu amigo, disse-me ele. Fomos ao seu consultório. O Dr. Figliolino examinou-o minuciosamente e aconselhou-nos a tirar chapas. Rumamos para o gabinete do radiologista e foram batidas 6 chapas; mas na última Joãozinho não pode suportar o copo de bismuto e vomitou abundantemente. Digo bismuto, mas não sei se o nome é esse mesmo. É um líquido grosso e branco como leite.

À tarde, Homero foi buscar as chapas e levou-as ao Dr. Figliolino que, ao examiná-las, disse que havia urgência em uma operação; havia obstrução na passagem do piloro para o intestino. Telefonamos ao Plínio pedindo-lhe que se encarregasse da operação e assim, no dia seguinte, ele foi internado no Hospital Matarazzo. Logo que lá chegamos, Joãozinho começou a tomar soro e sangue, fazendo diariamente, lavagens de estomago. E assim, reanimou-se bastante. Avisamos os filhos que a operação estava marcada para o dia 10 de abril e, nesse dia, com a presença de todos no Hospital, realizou-se a operação. Correu tudo bem. Antonino e Romeu estiveram presentes na sala de operações e, nessa ocasião, o Plínio verificou que o caso do meu marido era incurável, pois o fígado estava canceroso. Como fiquei triste em receber tão dolorosa notícia!

Logo que ele teve alta no hospital viemos para casa. Passou regularmente os primeiros dias, alimentou-se um pouco e fez as digestões; mas começou a emagrecer rapidamente. Veio-lhe então um grande fastio. Só aceitava uma chicarazinha de café, isto é, nescafé que eu preparava mesmo no quarto para que ele o tomasse bem quentinho.

Olga, sempre que vinha ver o pai, convidava-o a ir passar uns dias em Santos, pois o apartamento dela é silencioso, com vista para o mar. No dia 6 de junho, véspera de seu aniversário, Joãozinho disse-me que gostaria de passar uns dias em Santos. Fomos no dia seguinte e quem nos levou, de automóvel, foi  Mercedes.

Ele chegou cansado e foi para a cama. No dia seguinte, à hora do almoço, Olga convidou-o a ir até a mesa, pois vendo os pratos talvez apetecesse comer alguma cousa. Foi e comeu com grande apetite: feijoada, brócolis e terminou tomando um copo de vinho. Nós ficamos espantados ao vê-lo comer com tamanha disposição; mas, à noite, vomitou tudo o que havia comido. Desse dia em diante, não aceitou mais nada e, uma semana depois, quis regressar a São Paulo. Veio de Santos muito abatido, deitado no banco de traz e com a cabeça no meu colo. Subiu as escadas amparado por mim e pela Olga e deitou-se. Em Santos, Joãozinho, conversando com Sylvio, disse-lhe que ia suicidar-se, pois tinha certeza que não sarava. Ao receber essa notícia, fiquei alarmada. Passei a vigiá-lo, não o deixando só, um instante; porem um dia ele me falou: estava resolvido a acabar com a vida, mas tanto pedi a Jesus, que ele me tirou essa ideia da cabeça. Foi um alivio para mim. Joãozinho continuou a definhar a olhos vistos e, ultimamente, sentia-se tão fraco que não se ouvia mais a sua voz.

Ditou suas ultimas vontades; Não queria ser enterrado com pompa, não queria coroas nem missa. Pediu que sua família não puzesse luto. Eu fiz-lhe todas as vontades, menos uma, isto é, ser enterrado com cova rasa. Comprei o terreno e mandei fazer um túmulo muito singelo. Para lá irei eu e, possivelmente, alguns dos filhos.

Estamos em julho de 1958. Já lá se vão dois anos que meu velho se despediu deste mundo. Quanta saudade! Lembro-me sempre dele principalmente à noite, pois não mudei de quarto. Vejo-o deitado, muito magro e com os olhos encovados. Quando sonho, ele me aparece robusto, cheio de vida: Faz mais de 10 anos que eu sou diabética e tenho sofrido dores lancinantes nas pernas; no entanto, aqui estou e ele, que vendia saúde, já partiu.

Felizmente sarei da perna e a diabetes não me incomoda. Tenho os meus filhos que muito me querem e isto me consola em parte. Estou com 13 netos, 2 bisnetos e mais um bisneto que, brevemente chegará. Completei 75 anos e me sinto forte, graças a Deus. (Continua na próxima semana).



 Elisa cercada  pelos netos


Notas:

(1) Aquidauana (Mato Grosso do Sul - MS)


Histórico

A história que registra a data de 15 de agosto de 1892 como o início do povoamento de Aquidauana insere-se num espaço físico e humano marcado por parcos registros de quatro séculos anteriores. Isso porque os primeiros colonizadores que por aqui passaram, teriam sido os espanhóis, por volta do século XVI.
[...]
Alguns estudiosos definem o ano de 1600 como uma das referências mais longínquas da presença de colonizadores na região. Neste ano, Ruy Dias de Guzman fundou o povoado de Santiago de Xeres, às margens do Rio Mbotetey, conforme denominação dada pelos Guaranis e que queria dizer rio sinuoso.
Mais tarde veio a chamar-se Aquidauana. Foram, porém, poucos anos de história, pois em 1632 a povoação foi destruída por força das investidas de indígenas e dos bandeirantes paulistas. Quanto aos moradores do povoado, alguns seguiram de volta a Assunção no Paraguai; outros se juntaram aos Bandeirantes e se estabeleceram no atual Estado de São Paulo.
O segundo momento de colonização às margens do piscoso rio se verificou em 1776, quando o explorador João Leme do Prado visitou as ruínas da antiga povoação. Foi uma presença temporária, mas suficiente para registrar a presença de laranjeiras e limoeiros na região. ″Tal era a abundância que formavam verdadeira mata″, registram crônicas mais antigas.
Foi em torno da pecuária que a região, mais tarde, começou a ser, gradativamente, povoada. A necessidade de um local apropriado para as embarcações que navegavam pelo rio Miranda e que fosse mais próximo de Nioaque e de Campo Grande, referências populacionais mais densas, motivou a fundação da nova vila.
Registram os anais que a 15 de agosto de 1892, ″A convite do prestimado cidadão major Theodoro Paes da Silva Rondon, dirigiram-se para a margem do rio Aquidauana diversos fazendeiros e pessoas residentes na Villa Miranda. Essa reunião tinha por fim a escolha do local e do nome da nova povoação e a constituição de uma comissão que proveria à todas necessidades reclamadas″. Reuniram-se para ato cerca de 40 cidadãos, na região onde hoje situa-se a Praça Nossa Senhora Imaculada Conceição.
A opção pelo nome ″Aquidauana″ revela a influência da cultura indígena em várias regiões de Mato Grosso do Sul, que tem diversos municípios nominados com termos comuns a etnias indígenas. Segundo a toponímia Guaicuru o termo denomina rio estreito, fino. O nome ″Aquidauana″ aparece em mapas datados do século XVII, pelo menos 200 anos antes da fundação do povoado.
[...]
″Nesta época o lugar era um completo sertão, nada existindo″, registram os anais. Três anos depois, porém, o povoado já dava os primeiros sinais de prosperidade.
″A partir de 1893, sucederam-se os ranchos, uns após outros, e foi-se formando assim um agrupamento de expressão social″, registra o ″Resumo Histórico e Estatístico de Aquidauana″, um dos poucos documentos disponíveis nos arquivos do município sobre suas origens. 
Fonte: Cid@ades (IBGE)

Aquidauana - MS



(2) Dracena (SP)

Histórico

Dracena, cujo nome nasceu de um concurso lançado pelo seus fundadores, Irio Spinardi, João Vandramini, Virgílio e Florêncio Fioravanti, na cidade de Tupã, significa a designação de uma planta ornamental, da família das liliáceas, com folhas verdes e amarelas.
Em 08 de dezembro de 1945, foi lançada a pedra fundamental, em cerimônia que contou com grande número de interessados, numa gleba de 300 alqueires, adquirida em setembro do mesmo ano.
Planejada a cidade, foi construído um hotel num prédio de dois pavimentos, que constituiu o povoamento, enquanto a gleba era subdividida em pequenas propriedades, proporcionando melhores oportunidades de aquisição.
A construção de moderna estação rodoviária e o maior número de casas trouxe um progresso rápido para Dracena, que em dezembro de 1948 passou a Distrito de Paz e em dezembro de 1953 elevada a Município, sendo hoje constituído dos Distrito de Jamaica e Jaciporá
Fontes: Cid@ades (IBGE)

 Dracena - SP





domingo, 22 de julho de 2012

O diário de uma professora (parte VIII)


Elisa e Joãozinho (sentados) e os filhos. Em pé, da esquerda para a direita: Cid, Romeu, Dulce, Olga e Lúcio.


Corria o ano de 1925, logo após os acontecimentos da Revolução de 1924, que tantos transtornos trouxeram à vida de Elisa e família, e ela consegue sua transferência para São Paulo. O termo usado na época era “remoção”. Lembra objeto, lembra deslocar de um lado para o outro, sem maiores cuidados, um objeto, não uma pessoa. Mas os tempos eram outros, e a língua também. Fica registrada a estranheza com o termo “remoção”.

Estranho também, repito a observação feita antes, é perceber o quanto esta professora andou pelo estado de São Paulo: Conchas, Santa Isabel, São Paulo, Barretos, Avaí, Presidente Venceslau, São Paulo de novo... E não parou por aí. Interessante é observar o quanto a estrada de ferro estava presente nesses deslocamentos e, talvez, na própria decisão de mudar-se de um local para outro.

Em São Paulo, os filhos cresceram, casaram-se e nasceram os netos mais velhos. Finalmente, ela conseguiu comprar uma casa e aposentar-se, depois de 31 anos de docência (1901 – 1932).

O Diário (parte VIII)

[“Removida” para a capital (São Paulo), Elisa e família recomeçam a vida]. Fomos morar na Rua Cândido Vale. Como não ficava muito distante do grupo, eu e Cid íamos a pé. Cid estava fazendo o terceiro ano primário e era aluno de Dona Alzira. Olga, a convite de sua madrinha, foi para Barretos lecionar às crianças da fazenda de seu Moço. Dulce ficou em casa e Romeu, que havia se casado quando ainda estávamos em Wenceslau, veio morar conosco, trazendo Ciloca (Esposa do Romeu) e Sylvio, seu primeiro filhinho. Dulce afeiçoou-se muito ao Sylvio e auxiliava Ciloca a cuidar dele. Lúcio frequentava a Escola de Farmácia e, nesse ano, devia terminar o curso. Foi um aluno muito estudioso, inteligente e cumpridor de seus deveres.

O meu ordenado nessa ocasião, era apenas 500$ e pagávamos 250$ de aluguel de casa. Com os 250$ restantes tínhamos que nos alimentar e era preciso que sobrasse alguma cousa para miudezas e condução. Passei a lavar toda a nossa roupa. Foi nessa ocasião que eu e Lúcio fizemos o cálculo para saber qual a comida que ficava mais barata. Conclusão: sopa de macarrão no caldo de feijão.

Morávamos então na Rua Candido Vale. Da Rua Candido Vale nós nos mudamos para Santana, à Rua Duarte de Azevedo e Romeu arranjou emprego na Casa Bayton, trabalhando com rádio. De lá, fomos para a Rua Voluntários da Pátria e nessa ocasião Dulce aprendeu a fazer plissê [num outro trecho do Diário há a seguinte observação: “e ganhou algum dinheiro”.]. Olga voltou da fazenda, tendo passado lá um ano.

Joãozinho resolveu trabalhar como dentista e, para isso, adquiriu um ótimo gabinete dentário na Praça do Patriarca. Mais tarde, mudamo-nos para a Rua Duque de Caxias e ele transferiu o gabinete da Praça do Patriarca para a nossa residência, pois estávamos pagando um aluguel muito alto para nossas posses.

Eu continuei a lecionar na Vila Gomes Cardim.

Como o aluguel da Rua Duque de Caxias era também muito elevado, fomos procurar uma casa mais em conta. Mudamo-nos, então, para a Rua Vergueiro, nas proximidades da Igreja Santo Agostinho. Ali nasceu a Lúcia [filha do Romeu] e Dulce ficou conhecendo Homero, nosso vizinho.

Dessa casa [Rua Vergueiro], fomos para outra, em frente à Creche Baronesa de Limeira.

Joãozinho vendeu o gabinete e foi clinicar em Cambará, no Paraná. No período das férias, fui para lá com Dulce, Cid e Sylvio. Terminadas estas, regressei somente com Sylvio, pois resolvi interromper o namoro de Dulce com Homero. Ela era ainda muito criança (14 anos) e não queria estudar. Olga, tendo feito um bonito exame de suficiência, já estava frequentando o 1º ano Normal. Mais tarde eu voltei, de licença, a Cambará e Dulce resolveu preparar-se para o Normal. Fez exame e entrou. Nessa ocasião, Cid também fez exame e entrou para o ginásio.

[Nota escrita por Elisa: Dulce começou a namorar Homero e eu resolvi levá-la para Cambará, onde meu velho estava clinicando. Dulce ficou uns meses em Cambará e mais tarde tirei uma licença no Grupo e aproveitei a ocasião para prepará-la, pois estava resolvida a fazer o curso normal. Dulce, voltando a São Paulo, fez exames e entrou no Normal, mas continuou a namorar Homero. Quando Olga se casou, Dulce ficou noiva do Homero].

Eu, há muito, desejava possuir uma casa própria, pois gastávamos muito com aluguel e mudanças. Fiz o meu requerimento pedindo um empréstimo da Caixa Beneficente dos Funcionários Públicos e logo que este foi despachado, favoravelmente, comecei a procurar casa. Foi uma luta! O dinheiro era muito pouco, apenas 21 contos e casa por esse preço, só muito pequena, velha ou muito longe. Depois de muito procurar, encontrei uma no Cambuci [antes, Elisa escreve Cambucy, com y], à Rua Hermínio Lemos, mas a proprietária pedia 32 contos.

Finalmente, comprei-a por 28 [contos], obrigando-me a pagar corretagem e escritura. A Caixa entrou com 21 e o restante Joãozinho mandou-me de Cambará. O empréstimo da Caixa foi pago em 12 anos, isento de impostos. Eram descontados do meu ordenado 230$ mensalmente e durante 12 anos.

Antes de mudarmos da Rua Vergueiro para o Cambuci, Lúcio formou-se em Farmácia e foi trabalhar em uma fazenda nas proximidades de São Manuel e poucos meses depois, casou-se com Eunice. Ela já estava formada em Odontologia e trabalhava no Grupo Escolar da Lapa. Foi uma ótima esposa, a bondade em pessoa e uma nora muito minha amiga. Morreu cedo e muito sentimos a sua partida.

No Cambuci, nasceu Neyde [filha do Lúcio], no dia 11 de junho e dia 24 do mesmo ano [1931], nasceu Elza [terceira filha do Romeu].

Quando Eunice faleceu, Neyde estava quase formada em odontologia e Marina [segunda filha do Lúcio] frequentava o ginásio.

Marina nasceu em Uruguaiana, estado do Rio Grande do Sul. Nessa ocasião, eu, Dulce e Dácio [primeiro filho de Dulce], (este com 2 anos e meio), fizemos uma viagem, de navio, até Pelotas e de lá, até Uruguaiana, de trem.

Quando Joãozinho veio do Paraná (Cambará) ficou algum tempo em casa. Realizou-se, nessa ocasião, o casamento de Olga.

Dulce ainda não estava formada. Romeu, Ciloca e filhos continuavam a residir conosco. Mais tarde, Joãozinho resolveu sair de São Paulo e ir clinicar no interior, tendo escolhido Avaí. Foi então que Romeu mudou-se e Olga veio para nossa casa, a fim de cuidar de Dulce e do Cid. Antes da nossa ida para Avaí, nasceu Neusa [filha de Olga], dia 23 de outubro, uma criança muito bonita e boazinha. Estávamos em Avaí, quando ela completou um ano. Não pudemos vir passar em sua companhia o seu primeiro aniversário. Pouco tempo depois, Olga mudou-se para Santos, indo morar à Rua João Pessoa. Mais tarde, mudou-se para a Rua Senador Feijó e, finalmente, para a praia [Avenida Presidente Wilson]. 

Neusa, muito inteligente, fez o curso primário, o ginásio, o curso normal e Escola de Direito, sem perder um ano. Hoje é professora e advogada.

Netos de Elisa. Da esquerda para a direita: Sylvio, Lúcia, Neyde, Elza e Neusa.  

 Sylvio de mãos dadas com Elisa

Elisa e netos

Observação importante: A respeito do Sr. Pedro Voss, pessoa que muito ajudou Elisa, em duas ocasiões, conforme mencionado em postagens anteriores (Parte VII), a pesquisadora Toty Maya gentilmente nos escreveu e trouxe informações novas. O nome correto é "Pedro Voss" e não "Vass", como tínhamos entendido no manuscrito de Elisa. Fica o registro e meus agradecimentos a Toty Maya. (Ver comentário de 16 de julho de 2012, na Parte VII). Pedro Voss foi Diretor-geral de Educação de São Paulo, hoje é nome de escola, na Vila Clementino, e de rua, na Vila Carrão, em São Paulo.

São Paulo na década de 1920:

Parque da Aclimação
Esta fotografia está no blog:   http://artebrasilis.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html


 Avenida Paulista

Avenida São Luís

 Estudantes em protesto na frente da Delegacia do Cambuci em 1924

Rua São Bento

Fotografias de São Paulo na década de 1920. 
Retiradas do blog:   http://bairrosdesaopaulo.blogspot.com.br/2009/06/fotos-antigas-arquivo-da-prefeitura.html


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Encontro de Educadores em Uberaba, MG


Nos dias 18, 19 e 20 de julho de 2012, aconteceu o XXXIII Encontro de Educadores de Centros de Educação Infantil, Creches e Casas de Adolescentes, em Uberaba, MG.

Durante três dias, estiveram reunidos centenas de educadores das cidades de Araguari, Coromandel, Cristalina, Monte Carmelo, Patos de Minas, Patrocínio, Uberlândia e Uberaba para discutir e trocar experiências sobre seu cotidiano profissional. Com o tema “Ética e Sustentabilidade na Prática Docente”, o Encontro propiciou aos participantes vários momentos de reflexão sobre sua prática docente. Com palestras, oficinas e atividades culturais, o Encontro conseguiu encantar a todos, merecendo destaque a organização, que ficou a cargo do pessoal da Creche Coração de Maria, de Uberaba.

No segundo dia do Encontro foram oferecidas várias oficinas aos participantes (Ioga, Diversidade cultural na escola, Bem viver: o grande paradigma indígena, Cuidado com a mente e o corpo, Capoeira na escola, Economia solidária e práticas alternativas sustentáveis, Primeiros socorros, Medicina fitoterápica, Elaboração de projetos, Terapia ocupacional e Dificuldades de aprendizagem). Professores de Uberaba e de outras cidades, dentre eles Dr. JorgeBichuetti, Dr. Francisco Mauro Guerra Terra, Mariângela Camargos, Claricinda Massa e Mara Maciel, encarregaram-se das oficinas.

No Encontro, Mara e eu tivemos a oportunidade de ministrar a oficina sobre Economia Solidária e práticas alternativas, com enfoque na questão dos resíduos sólidos. Trata-se de questão que precisa ser encarada como parte do processo educativo e não pode ser desconsiderada no dia-a-dia das instituições. As soluções, dentro de uma visão propositiva, fazem parte das ações de Educação Ambiental vivenciadas nas instituições. São questões que devem ser trabalhadas num contexto participativo e integradas ao processo ensino-aprendizagem.

Durante a oficina, mostramos e discutimos aspectos teóricos e práticos das soluções, envolvendo a produção e o equacionamento dos resíduos sólidos. A caixa de minhocas foi apresentada como uma boa alternativa, tanto para redução de resíduos orgânicos, como em termos de material pedagógico.


Foi uma honra poder participar do evento e estar presente no Encontro, partilhando com os educadores um momento agradável de aprendizagem significativa. Confiram as fotografias abaixo.















terça-feira, 17 de julho de 2012

Para ganhar um dinheirinho a mais





Renato Muniz Barretto de Carvalho

Já descobri um jeito honesto e garantido de ganhar um bom dinheiro. Vou me dedicar à produção e à comercialização de um novo produto. Eu conto.

Depois de longos anos pesquisando e observando algumas atitudes humanas, em especial numa certa cidade do Cerrado brasileiro, desenvolvi uma linha de produtos que, espero, fará grande sucesso em todo o território nacional e, quiçá, no estrangeiro.

Não tenho grandes ilusões e nem alimento expectativas além das minhas possibilidades, mas já fiz uma boa sondagem do mercado e estudei bastante o comportamento do consumidor potencial.

Chega de suspense: trata-se de árvores artificiais. Isso mesmo, árvores artificiais! Não me decidi ainda sobre o material que empregarei, mas certamente será algum derivado de petróleo, um plástico qualquer, mais resistente às intempéries, aos ventos, às chuvas, aos raios solares, às garras dos passarinhos, ao estilete dos apaixonados e ao xixi dos cachorros. Nada muito aprimorado, pois o produto tem de ser barato e bem acessível a todos. Sem sofisticações, poderá ser manuseado por crianças e idosos. Estudo uma linha exclusiva para órgãos públicos, especialmente prefeituras municipais deste nosso grande país.

O produto será do tipo “monte você mesmo”, ou “do it yourself”. Será enviado numa caixa de papelão reciclável, com um destacado apelo ecológico. O cliente poderá escolher vários modelos, com alturas diferenciadas, dimensões da copa, aplicações diversas e até mesmo algumas espécies selecionadas, de acordo com seu gosto pessoal. Isso eliminará alguns incômodos verificados atualmente, como, por exemplo, o plantio inadequado de eucaliptos e pinheiros nos logradouros de cidades da região do Brasil Central. Elas crescem muito, ou não se adaptam, morrem, caem os galhos e causam problemas. Com as árvores artificiais acabam-se esses inconvenientes, pois é possível comprar uma araucária e plantar, por exemplo, em Gurupi (TO), sem culpa ou remorso. 

O grande diferencial do produto será o formato da árvore. Estamos desenvolvendo toda uma linha especial para ser colocada debaixo da rede elétrica, já que as companhias de energia não estão dispostas a trabalhar com fiação subterrânea. Nesses casos, teremos árvores em formato de “V”. Forneceremos também árvores pendidas para um lado ou para o outro, à escolha do freguês e das circunstâncias do imóvel, da calçada, ou do quintal. Se não há espaço entre os postes e a frente do imóvel, poder-se-á adquirir uma árvore pendida para a direita ou para a esquerda, dependendo do lado da calçada e de onde se queira a sombra. Teremos ainda árvores que já virão podadas no formato que o freguês desejar: redondinhas, em forma de cone, imitando pinheiros, quadradas, chapéu, imitando bichinhos e o que mais a criatividade conseguir alcançar. É bom ressaltar que, uma vez escolhido o formato, não serão necessários serviços de poda anual ou reparos devido ao crescimento de galhos, pois o produto é completamente artificial. Os jardineiros não deverão ficar satisfeitos, mas é o progresso chegando!

Outra grande vantagem das árvores artificiais é a ausência de folhas e frutos que caem no chão e sujam os logradouros. Acabam-se os problemas de entupimentos de calhas, de esgotos e a varrição fica mais fácil. E, se alguém quiser atrair pássaros e outros animais, já estamos pensando em criar uma linha paralela de produtos, como ninhos artificiais, ocos especialmente planejados para corujas, e até animais exóticos, para pendurar nos galhos, como esquilos, etc. Tudo de plástico, é claro!

Do jeito que as coisas caminham, acho que o sucesso virá com ânimo total neste meu novo empreendimento. É a força da Economia verde!






Fotos: Mara Maciel

Esta crônica foi publicada antes em:  http://clarim.net.br/colunistas/colunista/4



sábado, 14 de julho de 2012

O diário de uma professora (parte VII)


Elisa, década de 1930

Com cinco filhos e um marido irriquieto, Elisa está na cidade de Avaí, SP, quando, em 1924, estoura a “Revolução de 1924” (1). Estes acontecimentos vão afetar muito a sua vida e a da sua família. Com o fim da revolta, Elisa muda-se para Presidente Venceslau, SP, e, depois, para São Paulo. Trata-se de um período penoso para a família.

Com mais de vinte anos de docência, Elisa ainda não conta com estabilidade e maiores benefícios no emprego de professora, sujeitando-se a escolas precárias no interior do estado. Conforme se pode ler abaixo, nem aos seus dois filhos mais novos estava garantida a escola.

De certa forma, acompanhando a penetração das estradas de ferro, Elisa foi uma espécie de desbravadora. Quando chega a Presidente Venceslau, esta era uma cidade recém-fundada (2).

Depois de Presidente Venceslau, Elisa vai para São Paulo, graças à intervenção de um amigo da família, o Sr. Pedro Vass. Não consegui, até o momento, informações sobre ele, mencionado por duas vezes no Diário. Se alguém souber, me conte. Pelo que se lê no Diário, foi pessoa que muito ajudou Elisa. 

Vamos ao Diário.

O diário (parte VII)

[Corria o ano de 1924]. Joãozinho veio a São Paulo buscar Olga que estava interna no Colégio des Oiseaux e Lúcio que continuava frequentando o Conservatório, e ao mesmo tempo fazendo preparatório para a Escola de Farmácia. Eu aborreci-me com uma colega que queria, teimosamente, que fechássemos o Grupo. Como não havia motivo para isso, neguei-me e ela zangou-se, retirando-se da escola.

Assim, num ambiente inquietante, foram se passando os dias da revolução, até que esta terminou com a vitória do governo. Então, aqueles que ficaram de cima, começaram a perseguir os derrotados.

Como Joãozinho (como médico) havia atendido um ferido revoltoso, foi denunciado e preso como revolucionário.

Prenderam também Romeu, que nada havia feito. Ficamos revoltados com tamanha injustiça e, nessa ocasião pedi minha demissão de diretora passando apenas a tomar conta de minha classe.

Romeu foi logo posto em liberdade, mas Joãozinho ficou detido, em sala livre, 46 dias!

Voltando a Avaí, desgostosos, resolvemos nos mudar daquela localidade e consegui minha remoção para Presidente Wenceslau. Ali comecei a trabalhar em uma casinha de madeira, muito mal acomodada, com 40 alunos entre meninos e meninas. Nessa ocasião era obrigatória a frequência entre 9 e 10 anos. Com alunos dessa idade, eu completei o número de 40, ficando Dulce sem escola, porque estava com 11 anos e Cid também, porque tinha apenas 7.

Interessante: os filhos da professora sem escola! Em Wenceslau passei os piores dias da nossa vida... Até que, depois, de uma grande luta, consegui minha remoção para a capital. Era, nessa ocasião Diretor Geral da Instrução Pública, o Sr. Pedro Vass, muito amigo de minha família.

Fui com mamãe à sua casa, expliquei-lhe a minha situação e o meu desejo de vir para cá. Ele, muito bondoso, disse-me: procure-me na Diretoria de Ensino, em dia que não seja de audiência.

Fui. Disseram-me que o Sr. Pedro Vass não atendia naquele dia, pois havia ido despachar com o Sr. Secretário do Interior. Resolvi esperar e esperei 5 horas. Quando o Sr. Pedro Vass chegou, mandou chamar-me e, risonho, disse: vá comprar os jornais da tarde e lá você lerá a sua remoção. Que surpresa agradável! Agradeci e saí. A minha remoção estava publicada nos seguintes termos: Elisa Wey Muniz Barretto, em comissão em Presidente Wenceslau, volta a ocupar o seu cargo na Vila Gomes Cardim, 5 Parada da Estrada de Ferro Central do Brasil na capital.

Foi necessária esta fórmula do despacho, porque naquela ocasião (1925) nenhuma professora seria removida para a capital, sem concurso. (Continua na próxima semana).

 Bombardeio de São Paulo - 1924

Notas:

(1) A Revolução de 1924
Pouco conhecida, a Revolução de 1924, segundo alguns estudiosos do assunto, está inserida nos desdobramentos do Movimento Tenentista (Rio de Janeiro, julho de 1922).

Em São Paulo, em 5 de julho, para comemorar os dois anos do Tenentismo, o General Isidoro Dias Lopes, lidera cerca de 1000 homens com o objetivo de enfrentar o governo do presidente Artur Bernardes. Derrotado, o grupo parte em direção ao interior do estado, liderado por Siqueira Campos e por Juarez Távora, formando a Coluna Paulista.

No Rio Grande do Sul, o tenente Luiz Carlos Prestes, também lidera uma ofensiva militar contra o governo, e desloca-se para o estado do Paraná para se encontrar com a Coluna Paulista.

Esses acontecimentos estão diretamente ligados à formação da Coluna Prestes, que depois vai percorrer mais de 25.000 km em doze estados brasileiros até entrar na Bolívia e se dissolver.

Comando da Coluna Prestes

Segundo Antonio Gasparetto Junior, “a Revolta de 1924 foi o maior conflito bélico já ocorrido na cidade de São Paulo. A República Velha brasileira é marcada por ser um período de proeminência de oligarquias políticas que dominavam o país. O principal produto da pauta de exportação era o café, o que garantia poderio político e econômico aos seus produtores. Mas essa fase também é marcada por instabilidades e revoltas vindas de setores da população que desejavam modificar o restrito cenário político.”

Também chamada de Revolta Esquecida, por não possuir a mesma repercussão da Revolução de 1932, foi o maior conflito bélico ocorrido na cidade de São Paulo, pois por 23 dias os revoltosos, que forçam o presidente do estado, Carlos de Campos, a fugir para o interior, atacam a sede do governo estadual. A reação do governo Artur Bernardes foi violenta, tendo ordenado bombardear São Paulo. Os bairros mais atingidos foram a Mooca, o Brás e Perdizes.

As manifestações também ocorrem no interior, com a tomada de prefeituras e conflitos entre grupos rivais.

Sobre a Revolução de 1924, vale a pena ler a seguinte nota:
Depois que as tropas revolucionárias deixaram São Paulo, juntaram-se a pequenos grupos do interior do estado e formaram a “coluna paulista”, que se dirigiu para o oeste do Paraná, onde se fixou até encontrar a “coluna Prestes”, vinda do Rio Grande do Sul, em abril de 1925. Dessa última junção formou-se a “coluna Miguel Costa – Luís Carlos Prestes”, mais conhecida por “coluna Prestes”. Essa empreendeu uma caminhada por grande parte do território nacional, denunciando o que identificava como os problemas sociais e políticos do Brasil, convocando a população para agir sob a liderança de Luís Carlos Prestes. Assim, o movimento tenentista buscava chamar para si a atenção do país inteiro e das autoridades. Dois aspectos parecem explicar o esquecimento que paira sobre os acontecimentos do mês de julho de 1924: a articulação entre memória e os interesses políticos, já que para os legalistas (muitos escreveram obras sobre a Revolução de 1924) não era conveniente alimentar a chama revolucionária que passou por São Paulo, isso poderia ameaçar a manutenção da República, incitando outros grupos a sublevarem-se; e o fato de que a Revolução de 1924 não teve como protagonista a elite paulista, como ocorreu, posteriormente na Revolução de 1932.

Na comparação dos dois eventos feita pelas historiadoras Ilka Stern Cohen e Vavy Pacheco Borges, suas memórias “tiveram destinos opostos”: “a memória de São Paulo em 1924 – vítima, invadida, violada e semi-destruída – e a memória de São Paulo em 1932 – heroína, matriz de uma Revolução”.

Na obra publicada logo após os acontecimentos Narrando a Verdade, ou o que se acreditava ser a realidade dos fatos, o general Abilio de Noronha (12924) confirma a busca pelo esquecimento: "Oxalá que, com a retirada dos rebeldes de S. Paulo na noite de 27 para 28 de Julho, tenham eles levado consigo, a fim de afogarem para sempre, nos pantanaes das regiões inhospitas das margens do rio Paraná, a ideia maldita da rebellião contra o governo da Republica."

Fonte: Arquivo Público Paulista
Disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_revolucao/

Cena da Revolução de 1924

E mais:
"Ao contrário do que aconteceu na célebre Revolução de 1932, quando os combates se deram nos arredores da cidade, a pouco lembrada Revolução de 1924 fez das ruas da capital um campo de batalha — 300 000 dos 700 000 paulistanos precisaram deixar sua casa. “É um capítulo sangrento e desconhecido da nossa história”, conta Duarte Pacheco Pereira, autor do livro '1924 — O Diário da Revolução: os 23 dias que Abalaram São Paulo'
Fonte: Veja SP
Disponível em: http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2158/livro-conta-historia-da-revolucao-de-1924/


Vista geral de Presidente Venceslau

Presidente Venceslau é uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo, distante aproximadamente 620 quilômetros da capital. Fundada na primeira metade do século XX, a economia de Presidente Venceslau é baseada na pecuária de corte.

(2) Presidente Venceslau, SP
História
Quando começou a Linha de Ferro Sorocabana estender seus trilhos, em 1918, aqui surgiram os primeiros desbravadores, entre estes, Paschoal Alexandre. Após a conclusão da construção da Estrada de Ferro e designada a estação, esta cidade recebeu o nome de Coroados, porém, em seguida, foi mudado para Perobal, mas, antes de receber a placa de denominação, foi alterado para Presidente Venceslau, em homenagem ao Presidente da República Dr. Wenceslau Braz, isto ocorreu em fins de 1921.

Crescendo o povoado, foi também crescendo a colonização, com o aumento do número de colônias estrangeiras.

Em abril de 1923, chegaram os primeiros alemães, depois italianos e espanhoes. Chegou também o Segundo Regimento de Cavalaria da Força Pública.

No dia 12 de Dezembro de 1925, pela Lei 2085A, foi criado o Distrito de Paz de Presidente Venceslau.

Em 2 de setembro de 1926, pela Lei 2 133, passou a Município, instalado em 13 de maio de 1 927.

No dia 28 de dezembro de 1928, foi inaugurada a Luz Elétrica por Gabriel Bombonato.

Em 30 de novembro de 1938, pelo Decreto n. 9775, foi decretada Comarca de Presidente Venceslau, instalada em 23 de abril de 1939.

Chegaram também, mais tarde, imigrantes japoneses, que desenvolveram a lavoura no Município e formaram a colônia japonesa, e que muito contribuíram para o crescimento de Presidente Venceslau.

Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Wenceslau
Disponível em: http://www.presidentevenceslau.sp.gov.br/Historia-do-Municipio/

 Localização de Presidente Venceslau, SP



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Diário de uma professora (sexta parte)


Da esquerda para a direita: Romeu, Elisa e Joãozinho


Parece que o mundo está num constante processo de mudança; uma constatação óbvia. Também parece que, em alguns momentos, alguns elementos mudam mais ou mudam menos. Um observador um pouco mais minucioso pode ver que mudam alguns aspectos da vida social e outros não, e que ora mudam, ou não, os costumes, a política, a economia, as artes, ora de modo mais rápido, ora de modo mais lento. No início do século XX, mais especificamente na década de 1920, as artes e a educação passaram por um desses momentos rápidos, intensos e profundos de mudança.

As duas primeiras décadas do século XX foram de viva transformação. Avançaram significativamente, além das artes e da educação, as questões ligadas ao urbanismo e à tecnologia, em especial no campo da construção civil, com o uso combinado do aço e do cimento, do transporte automotivo e da aviação.

Embora tendo sua origem séculos antes, a produção automobilística se altera completamente com o advento da linha de produção. “A linha de produção em larga escala de automóveis a preços acessíveis foi lançada por Ransom Olds em sua fábrica Oldsmobile em 1902. Este conceito foi amplamente expandido por Henry Ford, com início em 1914. Como resultado, os carros da Ford saíam da linha em quinze intervalos de um minuto, muito mais rápido do que métodos anteriores, aumentando em oito vezes a produtividade.” (1)

No campo da aviação, Alberto Santos Dumont (1873 - 1932) é um nome que não pode ser deixado de lado. “Santos Dumont projetou, construiu e voou os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. Esse mérito lhe é garantido internacionalmente pela conquista do Prêmio Deutsch em 1901, quando em um voo contornou a Torre Eiffel com o seu dirigível Nº 6, transformando-se em uma das pessoas mais famosas do mundo durante o século XX.” (2)

O início do século XX foi também um momento marcado por importantes movimentos políticos e sociais, como a Revolução Mexicana, de 1910, a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, e a Revolução Russa, de outubro de 1917.  

Nas artes, no Brasil, tivemos a Semana de Arte Moderna (1922), com as suas consequências na vida cultural do país, com a formação de toda uma geração de escritores, intelectuais e artistas que iria influenciar o Brasil nos anos seguintes, com uma extensão que, sem dúvida, atravessou o século. Apenas para citar alguns contemporâneos de Elisa Wey: Mário de Andrade é de 1893, Tarsila do Amaral é de 1886, Anita Malfatti é de 1889, Heitor Villa-Lobos é de 1887.

Estudiosos da educação, dentre eles Ester Buffa e Paolo Nosela, estudando o processo de modernização geral da sociedade brasileira, no tocante à educação, destacam que foi um período marcado por “importantes acontecimentos no campo educacional”. Citam as reformas de São Paulo, em 1920, realizada por Sampaio Dória, a reforma do Ceará, feita por Lourenço Filho, e a do Distrito Federal, por Carneiro Leão, em 1922. Em 1930, cria-se o Ministério da Educação. Na visão dos autores, a industrialização, a urbanização e o desenvolvimento da ciência estão na raiz do processo de modernização educacional (3).

Foi um período onde se destacaram educadores como Anísio Spínola Teixeira (1900 - 1971). “Personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização. Reformou o sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro, exercendo vários cargos executivos. Foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em defesa do ensino público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Fundou a Universidade do Distrito Federal, em 1935, depois transformada em Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.” (4)

Anísio Teixeira


Outros educadores do período são:
- Fernando de Azevedo (1894 - 1974), professor, educador, crítico, ensaísta e sociólogo brasileiro.

- Manuel Bergström Lourenço Filho (1897 - 1970). “Foi um educador brasileiro conhecido sobretudo por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova. Foi duramente criticado por ter colaborado com o Estado Novo de Getúlio. Sua obra nos revela diversas facetas do intelectual educador, extremamente ativo e preocupado com a escola em seu contexto social e nas atividades de sala de aula. Nascido no interior de São Paulo, teve uma formação marcada pela influência do pai, o português Manuel Lourenço Filho, comerciante criativo e empreendedor ávido, casado com a sueca Ida Christina Bergström. Desde menino, em contato com vasta literatura, tornou-se um leitor compulsivo. Nas suas próprias palavras: lia com "bulimia e indiscriminação”. (5)

- Júlio Afrânio Peixoto (1876 - 1947). “Foi um médico, político, professor, crítico literário, ensaísta, romancista e historiador brasileiro. Em 1902, mudou-se para a capital do país, na época, Rio de Janeiro, onde foi inspetor de Saúde Pública e diretor do Hospital Nacional de Alienados, em 1904. Ministrou aulas de Medicina legal na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de professor extraordinário da Faculdade de Medicina (1911); diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro, em 1915 e diretor da Instrução Pública do Distrito Federal no ano seguinte. Teve uma passagem pela política quando foi eleito deputado federal pela Bahia, ficando no cargo no período de 1924 a 1930. Após isto, voltou à atividade do magistério sendo professor de História da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1932. Foi reitor da Universidade do Distrito Federal em 1935 e, após 40 anos de relevantes serviços, aposentou-se.” (6)

Em 1932, é lançado o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova". Este Manifesto “foi escrito durante o governo de Getúlio Vargas e consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, dentre 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 30, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país. Além de constatar a desorganização do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. O movimento reformador foi alvo da crítica forte e continuada da Igreja Católica, que naquela conjuntura era forte concorrente do Estado na expectativa de educar a população, e tinha sob seu controle a propriedade e a orientação de parcela expressiva das escolas da rede privada.” (7)

Justamente, em 1932, ano do Manifesto, Elisa aposenta-se.

A primeira sensação que tive ao ler o Diário de Elisa é que ela passou alheia a tudo isso. Não creio que seja só uma impressão apressada, embora ainda seja preciso pensar melhor sobre o assunto. Alguns trechos do seu Diário, transcritos abaixo, revelam, entretanto, uma postura pedagógica mais liberal, quando faz, por exemplo, uma crítica a um professor do seu filho Lúcio. Talvez os leitores e a família possam ajudar a traçar melhor seu perfil. O fato é que ela não faz reflexões ou sequer observações a respeito desses acontecimentos todos, mas sua trajetória nos informa que ela estava no interior do processo, no meio dos acontecimentos. Ela viveu o momento de mudança. Seu tempo é o da mudança, mas vivida em cidades do interior, vivida para a família, envolvida com a educação das crianças, seus alunos, e dos seus filhos, muitas vezes sem a presença do marido. Da memória que ficou, destaco seu caráter íntegro e reto, sua postura sempre carinhosa e justa. Serão reflexos desses tempos? Dessas ideologias transformadoras? As respostas vão ficar mais para frente.

Na próxima postagem, vou tentar detalhar mais o impacto do contexto histórico na sua vida, com ênfase nas Revoluções de 1924 e na de 1932, cujos 80 anos se comemora neste mês de julho.

P.S.: não sei se domingo é um bom dia para postar o Diário. Na próxima semana vou tentar postar na sexta-feira ou no sábado. Nem sempre será possível.

O Diário - Parte VI

Em Avaí (8) fomos morar em uma casa tão pequena, que os móveis ficaram amontoados e a escola ficava tão próxima do mato, que em certo dia uma cobra entrou na sala de aula, alvoratando a criançada.

Mais tarde, as escolas foram reunidas e tivemos um bom diretor. Durante a nossa estadia em casa de mamãe, em Sorocaba, Lúcio, Olga e Dulce tiveram cataporas e, no dia em que viajávamos para Avaí, elas (as cataporas), atacaram Romeu, pois as bolhas iam aparecendo no rosto dele, no pescoço e nas mãos.

Lúcio aprendeu a ler sozinho e mais tarde foi para o grupo em Barretos. Fez o terceiro ano com o professor Ernesto Penteado. Mais tarde é que ele frequentou e escola em Avaí. Lúcio teve a pouca sorte de ir para uma escola cujo professor era muito ignorante. Os seus alunos estudavam a tabuada em voz alta e cantada e quando se passava pela frente da escola tinha-se a impressão de que ali havia uma grande caixa de marimbondos. Ele teimava com Lúcio dizendo que não se pronuncia Anchieta e sim “Anquieta”. Deve-se dizer “alambaris” (peixe), e não lambaris. Uma calamidade!

Romeu veio interno para o Archidiocesano, pois já estava crescido e em Avaí não havia escola para ele. Olga ficou na minha escola e Dulce começou a ler comigo.

Romeu não gostava do Colégio e, no fim do ano, não queria mais voltar, porém Joãozinho insistiu que ficasse mais um pouco.

No ano seguinte, ele falou com o Diretor e disse que estava doente, pedindo permissão para ir tratar-se em casa. Quando menos esperávamos, ele chegou (em Barretos, onde estávamos pela 2ª vez).

Durante a nossa residência em Avaí (7 anos), Joãozinho resolveu fazer o curso de medicina no Rio de Janeiro. Ele havia adquirido a Coletoria Estadual de Avaí, para estudar, tirava licença de julho a dezembro e seguia para o Rio. E assim foram os seis anos dos seus estudos. Nós passávamos, todos os anos, seis meses sem nos vermos. Foi um grande sacrifício que fizemos!

O senhor Joaquim Natel, diretor das Escolas Reunidas, resolveu tirar uma licença e escolheu-me para substituí-lo. Fiquei sobrecarregada, pois éramos três professoras e seis classes, o que quer dizer que lecionávamos em dois períodos de três horas cada um.

Além das classes, fiquei com o serviço todo da diretoria e, para cúmulo, ainda estava a meu cargo a fiscalização da Coletoria, se bem que o escrivão era muito correto e pouco trabalho eu tinha.

Nessa ocasião, Lúcio com onze anos, muito me ajudava. Ele se levantava cedo e fazia o café. Depois punha o feijão ao fogo, rachava lenha, tirava água da cisterna, fazia compras e preparava o almoço. Quando eu chegava da escola (primeiro período) o almoço estava pronto. E depois que almoçávamos, ele arrumava a cozinha. Quem fazia o jantar era a Olga; mas esta, muito amiga de andar a cavalo, punha o arroz ao fogo e ia ao pasto buscar o cavalo. Resultado: quando vinha de volta, o arroz estava queimado.

Dulce, apesar de pequena, auxiliava no arranjo da casa, tirando o pó dos móveis e fazendo outros pequenos trabalhos. Mais tarde, as Escolas Reunidas foram transformadas em Grupo e então tivemos maior número de professoras e passamos a trabalhar em um só período.

Como eu trabalhava à tarde, fiquei com a manhã disponível e aceitei alunos de preparatório. Carminha preparou-se para o Normal, Sebastiana para farmácia e os outros, isto é, Lúcio, Joaquim e João estudavam matemática, português, francês, geografia e história.

Mais tarde, mandamos para [São Paulo] Lúcio e Olga afim de frequentarem o  Conservatório Musical. Antes, Romeu também passou uma temporada aqui [SP] estudando flauta e progrediu bastante.

Quando Joãozinho se formou em medicina, a população de Avaí recebeu-o com banda de música na estação e foi-lhe oferecido um banquete no principal hotel da cidade. Ele começou logo a trabalhar e sua clientela aumentava dia-a-dia, quando rebentou a Revolução de 24. Foi um desastre para nós.

Notas e referências

(1) Wikipedia

(2) Wikipedia

(3) BUFFA, Ester; NOSELLA, Paolo. A educação negada: Introdução ao estudo da educação brasileira contemporânea. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1997. 

(4) Wikipedia

(5) Wikipedia

(6) Wikipedia

(7) Wikipedia

(8) Avaí situa-se no centro do Estado de São Paulo. Está a 325 km da cidade de São Paulo. População (2010): 4.959 habitantes.

Avaí, SP

Histórico de Avaí:

No final do século XIX, João Batista Dias, o "João Guari", acompanhado de sua família e de alguns colonos, vindos de São Manuel, chegou às margens do Rio Batalha, onde fixou residência. Procedeu à derrubada das matas e efetuou os primeiros plantios. Outras famílias, mais tarde, ai também se estabeleceram fazendo surgir um pequeno povoado, que ficou conhecido por Jacutinga, em virtude de ser comum na região o pássaro desse nome.

Em 1905, o Major Gasparino de Quadros, proprietário na região, doou dez alqueires de terras à João Batista Dias e Francisco Tosoni Decarlis, que fundaram o povoado. No ano seguinte, com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, foram fixados os limites do perímetro e a divisão em lotes, do terreno doado.

Com a construção da Capela, o povoado passou a denominar-se São Sebastião do Jacutinga, tendo este Santo como Padroeiro.

Em 1910 foi criado o Distrito de Paz de Jacutinga.

O nome da cidade de Jacutinga para Avaí, distinguindo-a de outra de igual nome, em Minas Gerais, e também para rememorar a batalha do Avaí, da guerra do Paraguai, vencida sob o comando de Duque de Caxias. Do tupi " aba-y", o rio do homem, ou o rio do povo.

Fonte: IBGE

Avaí, SP


Sobre a Estrada de Ferro:
A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil foi aberta em 1906, seguindo a partir de Bauru, onde a Sorocabana havia chegado em 1905, até Presidente Alves, em setembro de 1906. Em janeiro de 1907 atingia Lauro Müller, em 1908 Araçatuba e em 1910 atingia as margens do rio Paraná, em Jupiá, de onde atravessaria o rio, de início com balsas, para chegar a Corumbá, na divisa com a Bolívia, anos depois. O trecho entre Araçatuba e Jupiá, que até 1937 costeava o rio Tietê em região infestada de malária, foi substituído nesse ano por uma variante que passou a ser parte do tronco principal, enquanto a linha velha se tornava o ramal de Lussanvira. Em 1957, a Noroeste passou a fazer parte da Refesa. Transportou passageiros até cerca de 1995, quando esse transporte foi suprimido. Em 1996, a Refesa deu a concessão da linha para a Novoeste, que transporta cargas até hoje.

A estação de Avaí: A estação foi aberta com o nome de Jacutinga em 1906. "(...) no km 43 o rio Batalha, no 48 a estação de Jacutinga e respectiva vila, adiante passam mais duas chaves que servem serrarias e a fazenda de café do Sr. R. Swenger" (Breve Histórico sobre a E. F. Noroeste do Brasil, Sylvio Saint Martin, junho de 1913). O atual município de Avaí nasceu em volta da estação, que recebeu o nome atual mais tarde. Em 1942 foi construída a estação atual; antes, era outra, talvez ainda a original. Hoje (2006) ela está abandonada, e seus desvios já foram retirados.

(Fontes: José H. Bellorio; Daniel Gentili, 2009; Ricardo Frontera, 2001; Breve Histórico sobre a E. F. Noroeste do Brasil, Sylvio Saint Martin, junho de 1913; relatórios oficiais da Noroeste do Brasil, 1930-1954; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; O Avaiense, 2008; IBGE, 1973; Mapas - acervo R. M. Giesbrecht)

Fonte: Estações Ferroviárias do Brasil
Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/a/avai.htm