Renato Muniz B. Carvalho
As pessoas se dividem entre as que
sabem esperar e as que não sabem. Esperar é uma arte, não importa o quanto se vai
esperar, não é para qualquer um. Tem gente que escuta: “me espera que eu já volto”,
mas a pessoa nunca mais retorna. É a tal história, um minutinho se transforma numa
eternidade. Esperar ou não, deixar esperando ou não, é de cada um, é prova de resistência
ou demonstração de impaciência.
Dom Sebastião, por exemplo, rei de
Portugal entre 1568 e 1578, fiel defensor da religião e das soluções militares,
foi ao Marrocos lutar uma guerra e nunca mais voltou. Muitos portugueses esperaram
a vida inteira pelo retorno do monarca. Os historiadores afirmam que ele morreu
na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Quem disse que o povo acreditou? Virou lenda
o pobre Dom Sebastião. Seu desaparecimento levou Portugal à formação da União Ibérica
com a Espanha, o que significou a perda da independência portuguesa.
Acredite quem quiser, mas no Brasil
também teve quem ficou esperando o rei português retornar para ajudar na luta contra
o “ateísmo reinante”. Foi no século XIX, no sertão da Bahia, durante a Guerra de
Canudos. Fato semelhante também teria acontecido durante a Guerra do Contestado
(1912 e 1916), mas pode ter sido intriga dos opositores. Bem, para não ser parcial,
sempre aparece alguém clamando por mitos, até nos dias atuais. Será que esperar
demais provoca algum tipo de trauma?
Tempos de espera são desiguais de
pessoa para pessoa. É como se cada uma tivesse seu próprio relógio biológico — melhor
dizendo: seu despertador biológico, onde o que conta é a capacidade de esperar.
Uns adiantam, outros atrasam, e não tem a “hora oficial”. Algumas pessoas esperam
a vida inteira, como os portugueses que esperaram por Dom Sebastião, e tem quem
não consegue esperar o sinal abrir e já acelera, provocando acidentes, colocando
a vida dos demais em risco.
A espera, e a sua negação, têm consequências
diversas para a vida humana e o planeta. O apressadinho não consegue esperar uma
árvore crescer e, talvez, por isso mesmo nunca se preocupa com o plantio ou o reflorestamento,
além de ignorar o esforço de quem planta. Falta-lhe compreensão do processo biológico,
da germinação da semente, da brotação, do crescimento, da fotossíntese. Outros não
se importam com o desenvolvimento das crianças, desde seu nascimento, seu crescimento
e sua felicidade. São os que negam seus direitos, impedem o exercício de sua autonomia,
recusam-lhes educação de qualidade, saúde, segurança e carinho.
É necessário saber esperar, mas,
igualmente, é preciso agir para mudar o rumo das coisas. Não se deve esperar um
déspota cair de podre, mas acelerar sua queda, não se pode esperar sentado que uma
injustiça seja reparada, mas lutar contra as arbitrariedades. É preciso plantar
árvores, viajar, amar… Está esperando o quê?
Publicada no Jornal da Manhã: https://jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,67
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