terça-feira, 11 de outubro de 2022

Praias: era só o que faltava



Renato Muniz B. Carvalho

O Brasil é um país abençoado. Tem florestas incríveis, tem montanhas, cânions, orquídeas belíssimas, biodiversidade, cachoeiras, um povo lindo e acolhedor. O que mais? Tem… Ah, tem praias, muitas praias! Tem um litoral com cerca de oito mil quilômetros de extensão, com mais de duas mil praias, cada uma mais bonita que a outra, algumas são famosas no mundo inteiro e recebem milhares de turistas o ano todo. Praias extensas, praias escondidas, praias paradisíacas, praias de areia fina, boas para caminhar, para apreciar a paisagem. Se tem algo realmente democrático no país, além dos botecos, são as praias. Quando se juntam botecos e praias, a felicidade está completa.

 Essa felicidade pode estar ameaçada. Um dos burocratas de plantão apareceu com a ideia estapafúrdia de vender as praias. Não sei de onde tiram essas ideias mirabolantes. Será que eles não têm coisas mais importantes para fazer? Por que não cuidam da economia, do combate à inflação, da geração de empregos, do câmbio e deixam nossos sonhos em paz? Sim, o sonho da maioria dos brasileiros e brasileiras é um dia poder ir à praia, deitar-se na areia, curtir as ondas, levar a meninada para se divertir. Mas não, eis que surge o burocrata propondo a privatização das praias. Sim, você leu direitinho: vender nossas praias. Um dos argumentos é a má gestão das mesmas. Como assim? Talvez ele esteja se referindo aos dias nublados, aos dias de chuva, às ressacas… Tá, é preciso administrar isso. Como resolver? Não dá para viajar centenas de quilômetros e encontrar chuva na praia. Acaba o passeio.

 Má gestão? Talvez ele tenha se referido à ausência de salva-vidas. Não, eles estão lá, atentos, solícitos, salvam vidas. Será que ele se referiu à carência de bares, de quiosques, banheiros públicos? Isso nunca foi problema para nós. Em qualquer praia, da mais badalada à mais distante, sempre existirá um barzinho que vende água de coco. Então deve ter se referido à aparição de tubarões em algumas praias, assustando os banhistas. Será que faltou combinar com os tubarões para eles não se aproximarem da orla? Faltou diálogo com os peixes? Será a presença de águas-vivas? Poucas conchinhas? Som alto nas barracas, muitos vendedores de bugigangas? Será que algum desses itens é suficiente para caracterizar má gestão e justificar a venda?

Desculpem a ironia, mas observem a seguir um exemplo do que alguns consideram boa gestão. Vendidas as praias, deve-se fazer um imenso alambrado, ok? Depois de cercadas, limitar o acesso, construir guaritas, cobrar ingressos, rever as concessões dos quiosques, estabelecer regras, definir quais as vestes permitidas, qual o tempo de uso, as práticas esportivas autorizadas, determinar o tamanho e formato dos guarda-sóis, a metragem permitida para cada família na faixa de areia, exigir licença para uso pedagógico dos castelinhos de areia, limites para se cobrir de areia etc. As cadeiras devem ser alugadas. Ah, não pode mais entrar com cerveja, bolacha ou biscoito nem sorvete. Só faltava essa! 

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