segunda-feira, 16 de maio de 2011

UNIVERSIDADE POPULAR: OS NOVOS PASSOS DA CAMINHADA...

 

Por Jorge Bichuetti (Publicado no Blog Utopia Ativa, em 16 de maio de 2011).

Universidade Popular Juvenal Arduini - Upop-JA - educação em movimento na caminhada pela libertação. Arte-alegria-criticidade-diálogo-escuta-experimentação-inovação... Sonho e poesia...

Aqui, hoje postaremos os Espaços Coletivos de Produção com um pequeno resumo do conteúdo e já iniciaremos as matrículas, explicando que todas as atividades geram certificados e irão, igualmente compor com formações mais aprofundadas para os que desejarem ir tecendo um conhecimento maior...

ESPAÇOS COLETIVOS DE PRODUÇÃO:

1. MARXISMO. Agenciador: Renato Muniz

Carga Horária: 20 horas Duração: um semestre

(6 hs presenciais; 8 hs de estudo dirigido e 6 de trabalho na comunidade)

Conteúdo:

* O marxismo: contexto histórico (das origens à Comuna de Paris)

* Marx e Engels: vida e obra

* A produção historiográfica e o marxismo

* Marxismo e natureza

* Marxismo ontem e hoje: no Brasil e no mundo

2. DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E PRÁTICAS SOCIAIS Agenciador: Jorge Bichuetti

Carga Horária: 20 horas Duração: um semestre

(6 hs presenciais; 8 hs de estudo dirigido e 6 de trabalho na comunidade)

Conteúdo:

* As instituições totais e a sociedade disciplinar (a lógica do modelo asilar)

* Processos de desinstitucionalização e práticas sociais inovadoras-instituintes

* Práticas Sociais, inclusão e cidadania na Sociedade Mundial de controle. Novas práticas sociais

3. CUIDADO E CLÍNICA DA VIDA: A CAIXA DE FERRAMENTAS Agenciadores: Celso P. Macedo e Odila Braga

Carga Horária: 20 horas Duração: um semestre

(6 hs presenciais; 8 hs de estudo dirigido e 6 de trabalho na comunidade.)

Conteúdo:

* A clínica e o cuidado: da exclusão ao novo cuidado-acolhimento

* Caixa de ferramentas e uma clínica inventiva e humanizante

* Novos cuidados e o exercício no cotidiano de práticas inventivas de acolhimento e emancipação

4. AMBIÊNCIA: ECOLOGIA E VIDA Agenciador: Sumaia Debroi

Carga Horária: 20 horas Duração: um semestre

(6 hs presenciais; 8 hs de estudo dirigido e 6 de trabalho na comunidade)

Conteúdo:

* O cuidar de si e do meio ambiente.

* Sustentabilidade e novas subjetividades

* Ecologia - As três ecologias: ambiental, social e mental...

Todos estes espaços coletivos de produção serão ministrados/vivenciados nos segundos sábados de cada mês, com início em junho. Horário: 13:30.

***

Das 14:30 às 15:30 ocorrerão oficinas:

a. Arte;

b. Como trabalhar com o povo;

c..Comunicação e jornalismo;

d. Ética e vida.

(Estes trabalhos também serão certificados e comporão os currículos).

***

GRUPO DE ESTUDO DA OBRA DE JUVENAL ARDUINI

Horário: das 19:00 às 21:00 horas. Nas terças-feira da semana que se dá o encontro mensal.

Inscrições no Bog Utopia Ativa: http://jorgebichuetti.blogspot.com/search/label/universidade%20popular

O caminho é a travessia onde a vida acontece... O sonho é uma ponte que nos dá no hoje o porvir e o devir...

domingo, 8 de maio de 2011

Diálogo produtivo na Escola Bernardo Vasconcelos




A Escola Estadual Bernardo Vasconcelos, de Uberaba – MG, nos convidou para uma fala com os professores, na manhã de sexta-feira, dia seis de maio. Também estavam presentes alguns pais de alunos.

Conversamos, por quase uma hora, sobre ecologia, educação e outros assuntos de interesse dos presentes.

Durante minha fala, fiz uma provocação: sugeri aos professores que trocassem o “vermelho” do boletim dos alunos pelo “verde”. Apesar de me declarar admirador da cor vermelha, por tudo o que ela representa historicamente, eu afirmei que uma educação “verde” deve levar em consideração diferentes identidades, deve respeitar saberes e histórias, e deve estimular, cada vez mais, a participação e o envolvimento de todos no processo educacional, invertendo antigas equações de poder que têm dificultado transformações urgentes e necessárias na educação brasileira.

A Diretora, Regina, que abriu a escola para a comunidade nesse dia, disse que iria plantar um roseiral no jardim da escola e estimular as atividades práticas numa horta de verduras. Quanto ao roseiral, disse: “De rosas vermelhas também”, aceitando a minha “provocação.

Mara falou no final e destacou a necessidade de todos buscarem, juntos, soluções inovadoras para velhos problemas de disciplina, de desânimo, do chamado baixo rendimento escolar. E reforçou a importância de os professores se inspirarem no meio ambiente, na mata, no espaço natural para conseguirem “dar conta do recado”. E, com muita sensibilidade, ouvir mais o que cada um quer para o seu crescimento pois é a partir desse diálogo que todos se dão e recebem mais atenção.

É isso aí: recado dado!




quinta-feira, 5 de maio de 2011

Viva a vida!

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Certa ocasião, num encontro na Universidade de Salamanca, em 1936, um general espanhol, partidário do fascismo, admirador de Francisco Franco – o ditador espanhol, de triste memória –, ressentido com a resistência e o desejo de autonomia dos bascos durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), bradou em alto volume as seguintes palavras: “Viva la muerte!”. E completou: “Abajo la inteligencia!”. Típica reação de quem usa a força e a opressão para resolver diferenças políticas e ideológicas. Como resultado desta maneira de ver o mundo, o povo espanhol amargou uma terrível ditadura até os anos 1970. O próprio país só viria a retomar o desenvolvimento pleno e as liberdades civis com a volta da democracia e a morte de Franco, em 1975.

Foram mais de um milhão de mortos e milhares de exilados. Tristeza e pobreza marcaram a Espanha neste período. Foi a vitória de Hitler e de Mussolini, do fascismo e do nazismo mesmo após sua derrota na Alemanha e na Itália em 1945.

A humanidade respirou aliviada ao final da Segunda Guerra Mundial, sentiu-se melhor com o fim da Guerra do Vietnã, comemorou o fim dos regimes ditatoriais na América Latina e torce pelo fim dos ditadores africanos e asiáticos que ainda sobrevivem. O mundo vive uma nova fase, em que não há mais lugar para regimes opressores, para a tortura, para a corrupção, para a existência de mortes sem sentido, para guerras entre irmãos, para a miséria. Mesmo assim, alguns ainda insistem em permanecer neste caminho. Muitos continuam no poder, outros defendem sua crença no obscurantismo por outras vias. O mundo mudou, e continuará mudando, mas alguns insistem em retroceder, em voltar a um passado de violência e terror.

A humanidade quer viver, e viver bem, o que significa viver em paz. A maioria defende a vida como bem maior de todos os povos, peleja pelo direito a uma vida saudável, por uma vida sem medo, sem fome, sem tragédias sociais. Algumas concepções, entretanto, tropeçam no rumo contrário, caminham trôpegas em direção à opressão da mulher, contra a diversidade cultural, contra a liberdade sexual, contra a livre expressão artística e contra o patrimônio natural. O mundo já não as quer mais, já não as aceita mais.

Um mundo em que não há mais lugar para afirmações como a do general espanhol, não deve admitir a morte como solução para conflitos ideológicos ou de qualquer outro tipo. Não se deve concordar com os métodos violentos defendidos por radicais religiosos, seja de qual crença for, não se deve concordar com métodos tirânicos de ditadores, seja de qual ideologia for. Igualmente, até por uma questão didática, não se deve admitir que a morte, de quem quer que seja, até mesmo do mais terrível assassino, seja colocada como solução para se resolver pendências de qualquer natureza, até mesmo se causaram comoção internacional. Ou defendemos a vida, acima de qualquer coisa, ou aceitamos um mundo pior, triste, retrógrado, inculto, infeliz. Viva a inteligência! Viva a vida!

Publicado no Jornal Clarim, de Araxá, MG. http://clarim.net.br/colunistas/colunista/4

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bienal do Livro de São José dos Campos

 

As feiras e bienais de livros estão cada vez mais presentes nas cidades brasileiras. Além das capitais, acontecem em outras cidades, grandes ou pequenas, com o intuito principal de divulgar o livro e estimular a leitura. Caracterizam-se, também, por oferecerem uma excelente oportunidade de leitores, autores, editores e livreiros se encontrarem.

São José dos Campos, cidade paulista localizada no Vale do Paraíba, realiza sua primeira Bienal do Livro, de 08 a 17 de abril de 2011. Segundo o prefeito, Eduardo Cury, “Durante 10 dias, São José dos Campos, terra do poeta Cassiano Ricardo, será a cidade dos livros e estará de portas abertas não só aos 40 mil estudantes da nossa rede de ensino, mas a todos os cidadãos.”

Pois lá estivemos, Mara e eu, a convite da Giz Editorial e da Selecta Livros, no dia 13 de abril. Foi uma tarde gostosa, no meio de crianças e de livros. As crianças, curiosas e interessadas nos livros, acompanhadas por dedicados professores, receberam um incentivo extra da Prefeitura: o “cheque livro”.

Confiram, abaixo, algumas fotos tiradas pela Mara no estande da Selecta Livros.

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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Visita ao Colégio Jean Christophe

 

Mara e eu visitamos, na manhã de hoje, 11 de abril de 2011, o Colégio Jean Christophe, de Uberaba - MG. Fomos recepcionados pela diretora Célia Peres, conversamos com os alunos e vimos um belo mural confeccionado a partir das indagações e discussões relacionadas à leitura do livro “Os bichos são gente boa”.

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O Colégio Jean Christophe valoriza e estimula a leitura em seus projetos e programas, além de sempre trabalhar temáticas atuais com os alunos. Esse foi o caso do mural, em que eles recriaram as histórias do livro e ao mesmo tempo se dedicaram a reflexões sobre as Florestas. A ONU declarou 2011 como o Ano Internacional das Florestas para estimular sua preservação.

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Segundo a diretora Célia Peres, o Colégio Jean Christophe faz questão de receber escritores para diálogos sobre a obra literária proporcionando aos alunos que conversem, façam perguntas e dêem depoimentos sobre a leitura realizada, numa dinâmica gostosa e produtiva para todos.

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Conversando sobre as histórias do livro, ficamos sabendo que os alunos estão montando uma ONG em defesa das florestas. É importante ressaltar que as florestas cobrem mais de 30% de toda a área terrestre do planeta e são responsáveis pela sobrevivência de mais de um milhão de pessoas e por cerca de 80% da biodiversidade existente na Terra. O Cerrado brasileiro apresenta formações florestais típicas, como o cerradão, caracterizado pela presença de inúmeras espécies arbóreas, como ipê, angico, copaíba, pequi, aroeira, dentre outras.

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Um novo encontro foi marcado para o Centro de Educação Ambiental Sítio da Pedreira, numa programação que ampliará as reflexões sobre o meio ambiente, práticas sustentáveis, visita ao minhocário do Sítio e trilha ecológica.

Publicado originalmente no Blog do CEA Sítio da Pedreira.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os tiros de Realengo

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Tragédia numa escola do Rio de Janeiro. Crianças mortas. Comoção nacional. Afinal, quando é com os nossos, o caso se complica. A polícia foi bastante ouvida, psicólogos também. Jornalistas praticamente acamparam no local. Com cenas comoventes, insistem em nos convencer de alguma coisa, de alguma culpa.

Não tenho como julgar perfil psicológico, muito menos arrisco meros palpites para saber como e porque a sociedade vai se tornando cada vez mais violenta. Nem vou especular porque um rapaz consegue entrar numa escola atirando com tanta facilidade, apesar de todos os esforços em segurança pública, de tantas grades e aparatos similares.

Mas quero falar de educação e de escola. Por que a escola é o local preferido deste tipo de ação? O que se passa dentro desta instituição que a torna alvo de tantos questionamentos e violência?

Menos importa saber a origem das armas e sobre como se aprende a atirar, mas desvendar a origem de tanta raiva e desajuste e qual o papel da escola nisso. A família, a sociedade e a escola não perceberam isso antes? Que mágoas e frustrações guardava esse indivíduo que essas instituições não conseguiram resolver? As respostas estão mais na escola do que no indivíduo. A escola falhou em algum momento. Não deve ter sido fortuita a escolha deste local para a ação, para o massacre.

Sem desconsiderar outros fatores, é preciso parar para pensar um pouco naquilo que a sociedade considera educação e função da escola. Nunca se defendeu tanto a “educação”, nunca se fez tanto discurso sobre a importância dela. Mas a prática está direcionada para aspectos relacionados à punição, às multas, ao controle, à repressão. Então, de que serve a educação? Há uma contradição que precisa ser exposta de forma urgente. O discurso é contraditório, a distância entre intenção e gesto é cada vez maior.

Algo não vai bem neste ambiente que deveria ser um lugar de alegria, de descobertas maravilhosas, de relacionamentos saudáveis e construtivos. Ao invés disso, o que se observa é cobrança, é desempenho a qualquer preço, é quantidade, é a tecnologia suplantando as relações humanas. Salas lotadas, critérios econômicos e técnicos se colocam como prioritários em detrimento da formação, da humanização e da libertação do ser humano. Os sonhos e pesadelos de cada um, especialmente dos mais sensíveis, dos mais tímidos, não encontram a amplitude necessária para serem compreendidos e exorcizados numa escola onde o tempo que conta é o do relógio de ponto. Deu no que deu.

Bullying, tristezas, frustração, medo, individualismo, descaso, jornadas estressantes, baixos salários, desvalorização dos profissionais da educação resultarão em mais tragédias. É preciso buscar no interior da própria escola, além da sociedade onde ela se insere, as razões de sua atuação sofrível e porque ela não tem conseguido superar essas dificuldades tão angustiantes. É preciso saber o que temos feito em termos de produção do futuro. Que tipo de sociedade nos interessa? Tecnicista, violenta, individualista ou fraterna, alegre, inclusiva, humana e livre?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Universidade Popular Juvenal Arduini

No sábado, dia 19 de março, dia da “famosa” enchente de São José - e choveu muito! -, um grupo de pessoas de Uberaba, de Frutal e da região reuniu-se em torno de uma bela ideia: dar mais um passo na criação da Universidade Popular Juvenal Arduini.

Discutimos ideias, ações e frases instigadoras, como a de Rosa de Luxemburgo: “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”

Foi pensando nisso, e no que conversamos nesse dia, que me lembrei de um grande educador francês: Georges Snyders. Autor de várias obras, entre as quais se destacam: Escola, classe e lutas de classes (1977), Alegria na escola (1988), Pedagogia progressista (1974) e Para onde vão as pedagogias não diretivas? (2001). É um dos grandes estudiosos da pedagogia contemporânea. Conheçam alguma coisa de seu pensamento.

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“Entendo que o objetivo (da Escola) é levar o aluno, partindo de sua experiência e sensibilidade, a interpretar de maneira única e individual a cultura que nós lhe propomos. Ele não vai criar o novo sentido de um grande criador, não vai realizar uma grande obra, mas também não vai se limitar a uma repetição mecânica. O aluno tem uma personalidade única e o que me interessa é como esta personalidade única vai reter, amar, vibrar e, então, transformar esta cultura que a Escola lhe propõe.”

“Durante muito tempo baseamo-nos na idéia de que bastava dar prosseguimento à experiência dos alunos para que eles progredissem. Acreditávamos que se eles observassem bem os fenômenos, fizessem pequenos experimentos sozinhos e os olhassem atentamente, eles aprenderiam. Esta Didática é a de Freinet, de Claparède e mesmo de Piaget. Ela se apóia na continuidade. A grande mudança atualmente é que se sabe que os alunos partem de uma concepção sobre as coisas. Mas estas concepções são, geralmente, falsas. Eles formam estas idéias a partir das possibilidades de nossa civilização, da TV, de tudo que existe por aí. Há, então, uma primeira tarefa que é ajudar os alunos a desconstruir estas noções falsas e a compreender por que elas são falsas.”

“Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades - de ordem física e econômica - mais a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo do prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles que sofrem mais fora da Escola.”

“Sei que é um pouco utópico, mas de vez em quando é necessário sonhar. Estou aposentado e sei que sonho; mas o mundo precisa, de tempos em tempos, de pessoas sonhadoras.”

É isso aí!

Veja mais no blog: http://jorgebichuetti.blogspot.com/search/label/universidade%20popular

terça-feira, 1 de março de 2011

Bicicletas: por uma questão de princípio

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Bicicletas no trânsito, mesmo que em situação de erro, devem ter nosso respeito e a preferência. Eu explico: depois da caminhada, as bicicletas representam a alternativa mais ecológica e saudável de locomoção que existe.

Bicicletas não fazem barulho, não soltam fumaça, pois não queimam combustíveis poluentes e não têm escapamento para gazes prejudiciais ao meio ambiente, ocupam pouquíssimo espaço, podem ser transportadas nas costas, empurradas morro acima e morro abaixo, em carrocerias, em suportes variados, podem ser guardadas em apartamentos, podem ser pilotadas por pessoas de todas as idades, desde que se tomem alguns cuidados básicos de segurança, dependendo do modelo, não custam caro... E o quê mais? Amplie a lista, acrescente mais uma qualidade deste veículo do futuro, fique à vontade.

Andar numa bicicleta pode ser um ato de muita elegância. Se não deixarmos o pé enroscar na corrente, pode-se andar numa bicicleta de calça fina, até de terno. Ajeitando-se bem a saia, ela não atrapalha. Deve-se, por questões de segurança, evitar o uso de sapato de salto alto, mas, cá entre nós, esse tipo de calçado faz mal à coluna.

Pode-se ir de bicicleta na panificadora, no supermercado, no banco, na escola, ao trabalho, ao cinema, onde puder e quiser. Você já viu alguma restrição às bicicletas? Algo do tipo: “proibido andar de bicicleta aqui”. Tudo bem que não se deve andar de bicicleta nas calçadas, nos passeios, pois isso pode incomodar os pedestres, pode machucar alguém, mas fora isso não há restrições. É claro que existem locais onde é inconveniente andar de bicicleta, por exemplo, nos corredores de um shopping ou de uma escola, mas nesses lugares todos existem estacionamentos apropriados.

Bicicletas não pagam taxas abusivas e injustas para circularem nas vias públicas. Delas não se exigem placas, nem carteira de motorista aos ciclistas. Não se cobra pedágio de bicicletas (tomara que continue assim, nunca se sabe até onde vai a sanha arrecadadora de certos políticos!).

Convencidos? Como cavalos, mulas, burros, búfalos, cabras, carros de boi, charretes e carroças não devem circular nas grandes cidades, a não ser em parques, grandes praças ou trajetos de trânsito mais livre, restam as bicicletas como alternativa saudável e ecológica.

Por tudo isso, devem ser protegidos, acima de qualquer lógica, os ciclistas, os bicicleteiros, os amantes da magrela, os que gostam das bikes. Então, se um menino abusado cruzar na sua frente de bicicleta, contrariando todas as regras de trânsito, respire fundo, diminua a velocidade, e deixe-o passar. Se uma bicicleta vai pela esquerda, ultrapasse com cuidado. Se você perceber uma bicicleta à frente, ou do seu lado, pense como o mundo e as grandes cidades seriam bem melhores se mais pessoas andassem de bicicleta, pense na poesia que é ir ao encontro da namorada de bicicleta, no quanto é bom poder curtir uma paisagem bonita no ritmo lento de algumas pedaladas. Entendeu? Concorda?

Este texto foi publicado no Blog do CEA Sítio da Pedreira, em 17 de fevereiro de 2011.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Escrituras

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Você tem alguma dificuldade na hora de escrever um texto? A maioria das pessoas tem. O que fazer? Sair correndo? Enfiar a cara num buraco? Brigar com uma folha de papel em branco ou com o teclado do computador até que um ataque de fúria ponha tudo a perder? Eu tenho a sugestão ideal: escolha uma roupa confortável, feche as janelas, tranque as portas, apague as luzes e saia de casa. Não se esqueça de levar uma caneta, ou lápis, e uma caderneta de anotações. E deixe sua casa para trás, caia na estrada. Vai, vai...

Escrever é como deixar rastros no chão de terra de uma estrada poeirenta. Pode ser que não passe ninguém, que não chova, que não vente muito e os sinais riscados vão permanecer ali por certo tempo. Pode ser que logo a seguir caia um pé d’água e a enxurrada carregue tudo, limpe tudo. Qual é a sua expectativa? Qual é a sua previsão do tempo? Chuvas e trovoadas? Tempo seco? As escolhas são muitas. Portanto, é melhor deixar algumas marcas, caminhar devagar, suave, sentindo cada passo dado. Escrever e caminhar são quase um jogo.

Jogo de dados, baralho, xadrez, sorte ou azar, tanto faz, o ruim é caminhar pesado, como se estivéssemos carregando um fardo maior do que damos conta. Você tem o olho maior do que a barriga? Minha avó gostava de dizer: “devagar, porque quem vai com muita sede ao pote termina por se afogar”. Ela não sabia nadar. Eu adoro. Mas não entro em qualquer poço, principalmente não entro naqueles em que não enxergo o fundo. Águas turvas, estou fora. Medroso? Covarde? Cauteloso? Pouco importa. Talvez...

Talvez esse jeito caipira de ser não me permita ir longe. Talvez, quem saberá? Só vou parar quando meus pés doerem bastante, o joelho estourar ou o combustível acabar. Até lá, pulo porteiras fechadas, se não tem caminho eu faço um, invento, dou a volta, passo no meio de cerca de arame farpado, subo em árvores, atravesso rios rasos e fundos. Se for preciso, dou calote no pedágio. Descubro um jeito. Vou a pé, de cavalo, de trem, de carro, de avião, de barco. Comigo não tem tempo ruim, só quando chove o dia inteiro, que nem dá vontade de sair de casa.

Casa? Não sou de me fechar em casa. Gosto do mato e das ruas da cidade, do cheiro de terra e de asfalto molhado. Aprendi com Drumonnd que quando estou na roça queria estar na cidade, e quando estou na cidade gostaria de estar na roça. Por isso meu pai diz que eu vivo na estrada. Então sou mesmo é viajante, motorista e passageiro. Inquieto, não tenho parada, só trajeto, só próximo ponto, sem chegada, só partida.

Estou sempre de partida. Escrevo para marcar o caminho, como João e Maria na floresta. Jogo migalhas de pão no chão para ver se não me perco. Não adianta nada. Parece até que não li a história direito. As migalhas somem e eu já não sei onde estou. Tenho de começar tudo de novo. E lá vamos nós, refazer roteiros, aprender como se faz, voltar para o jardim de infância, abrir as picadas que o mato acabou de fechar, cheias de espinhos e carrapichos. Precisava aprender a ler melhor o manual de instrução, as gramáticas, as antologias rodoviárias e literárias.

Literaturas, geografias, histórias, eu gosto mesmo é de olhar para trás, mas enxergo pouco. Minha vista não anda boa. O Sol me sufoca, mas a claridade da Lua também não me ajuda muito. Se eu pudesse, organizava as estrelas do meu jeito e fazia um mapa que eu pudesse ler no céu. Como não compreendo nada de astronomia, sigo meu caminho de dia. Aí eu coloco os óculos escuros e sigo adiante. Se escurecer eu diminuo a marcha. Parar não. Então, para não esquecer, eu escrevo e guardo tudo num embornal. Vez ou outra meto a mão lá dentro, que é fundo, e tiro alguma coisa que presta. Quase nunca.

Quase nunca durmo ou acordo na hora certa. Luto contra o sono para ver se consigo escrever mais um pouquinho, caminhar mais um tanto. As costas ficam doloridas, não encontro uma posição melhor, dos dedos escapam as teclas. Só me resta dormir sonhando com um texto perfeito, uma bíblia libertária, uma enciclopédia só de verbetes felizes, de amor e de sexo, de viagens maravilhosas.

Falando nisso, boa viagem. A gente se vê por aí.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Chuvas, trovoadas e o clima no Cerrado: modo de usar

Renato Muniz Barretto de Carvalho

O Cerrado costuma ter dois momentos bem marcantes: um desses momentos é chamado de “tempo das chuvas” ou “tempo das águas”, geralmente vai de outubro a abril. Como o próprio nome diz, chove muito nesta época, com chuvas torrenciais, acompanhadas de muitos raios, às vezes tempestades, que derrubam árvores e assustam todo o mundo, bichos e pessoas. A temperatura esquenta, em alguns lugares os termômetros ultrapassam a marca dos 40 graus. A partir do mês de maio já esfria bem, as frentes frias do Sul começam a vir com força, e é quando chegam as chuvinhas finas, geladas, que convidam para o aconchego de um fogão de lenha.

A outra estação é a da seca, quando chove pouco, tudo fica amarelado, seco, é claro! As pastagens, os animais e as pessoas se ressentem por causa da baixa umidade. O tempo da seca, geralmente, vai de maio a setembro, às vezes se prolongam até outubro ou novembro. É quando acontecem muitos incêndios, o ar fica carregado de poeira e o céu, nos fins de tarde, adquire tons alaranjados, até vermelhos, com paisagens e flagrantes lindos.

Parece que a maioria dos habitantes dessa região não se acostuma com as mudanças e os ritmos anuais. Como alguns reclamam! No tempo das chuvas as pessoas comentam, preocupadas, que está chovendo muito, que a chuva “atrapalha” isso e aquilo. No tempo da seca é a mesma coisa, dizem que “nunca viram um ano tão seco” e outras observações curiosas, desencontradas, tão típicas, tão características nossas.

O tempo das chuvas traz preocupações com as enchentes, com os deslizamentos de encostas, mas é o tempo da fartura, das colheitas, das pastagens verdes. O solo fica encharcado e as minas d’água – se choveu bem e elas estão protegidas por árvores, por matas, e se estão em refúgios adequados – vão abastecer os reservatórios, garantir a fartura de água nas cidades e o fluxo dos rios, córregos e riachos.

O tempo da seca traz outras preocupações, principalmente com as queimadas, mas o período sem chuvas facilita a lida no campo, pois permite que vários serviços sejam executados, permite que novas formas de vida apareçam e, de certa forma, há uma preparação para o próximo período. Se ninguém retirar ou colocar fogo, as folhas secas que caírem nessa época servirão como um importante componente de proteção para a vida do solo.

Em janeiro e fevereiro ocorrem os mais altos índices de precipitação pluviométrica. Costuma chover na metade dos dias dos dois meses, isto é, em 59 dias, 31 dias de janeiro e 28 dias de fevereiro, costuma ocorrer chuva em 30 dias ou mais. Se não vier o veranico, que é um intervalo sem chuva.

É bem diferente o que acontece em julho ou agosto. São meses secos, quando torcemos por um diazinho que seja de chuva, para aliviar a poeira e a sequidão.

No tempo das chuvas, a umidade toma conta de tudo. Às vezes, uma fina camada de mofo cobre os móveis de madeira. A roupa no varal demora a secar, os motoristas sofrem com as estradas cheias de buracos. Nas várzeas e nas encostas o medo toma conta dos mais simples, miseráveis e desafortunados. Até que as chuvas diminuem e, parece, tudo volta ao normal, sem nunca ter deixado sua normalidade, se é que a natureza tem uma norma, regras fixas. Se regras existem, não são tão rígidas quanto uns querem fazer crer. Não são.

O tempo da seca traz a possibilidade de finais de semana ensolarados e, se não esfria muito, permite ousadias nas refeições, banhos de rio e duchas deliciosas em cachoeiras escondidas. O ruim é que o tempo seco prejudica a pele dos mais sensíveis, o pó que se acumula nos móveis incomoda as donas de casa e afeta a saúde dos alérgicos. Os hospitais ficam cheios de crianças com problemas respiratórios.

Nesse período, os governos e todos nós deveríamos ficar atentos para impedir e denunciar as queimadas, o desmatamento e a poluição do ar e dos cursos d’água.

O melhor de tudo isso é saber que um dia a seca termina, que a chuva volta, que o nível dos rios sobe novamente. As árvores se enchem de folhas verdes, os pássaros cantam bastante e constroem, frenéticos, seus ninhos.

Mas, é no mês de abril que o tempo nos reserva sua melhor surpresa. A paisagem ainda está bem verde, mas as chuvas diminuem. Então, aproveite para se deitar num gramado à sua escolha, num local seguro, de preferência bem cedo, ou de tardinha, e tente ouvir o coração da Terra bater. Feche os olhos, relaxe, deixe as preocupações de lado um pouco e perceba que você faz parte deste imenso e belíssimo mundo. Se você se sentir confortável, durma, e acorde só de noite, quem sabe com a sorte de ter uma estonteante e linda Lua cheia despontando no horizonte.

Publicado também no Blog do CEA Sítio da Pedreira.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011





No final de dezembro de 2010, participei do programa de TV “Negócio Fechado” (TV Universitária – Uberaba, MG), dirigido pelo excelente jornalista Francisco Marcos Reis. Na ocasião, ganhei um belo presente: o livro “Uberaba – 100 anos de olhares e memórias”, de sua autoria. Em retribuição, entreguei ao Chico Marcos o meu livro “Os bichos são gente boa” (Giz Editorial). Conversamos sobre história, demografia, meio ambiente e política. O programa foi ao ar na quinta-feira, dia 22 de dezembro, com reprise no domingo, 25/12/2010. Acima, reproduções das capas dos livros e flagrantes da entrevista.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Palestra no dia do jardineiro





Para comemorar o Dia do Jardineiro (15 de dezembro), a empresa Triângulo Máquinas, de Uberaba - MG, sempre promove um café da manhã e convida os jardineiros que atuam na cidade. Neste ano, fui chamado para fazer uma palestra para os convidados especiais do dia.

A palestra foi sobre novas tendências em jardinagem. Falei, especialmente, sobre as mudanças de concepções e a incorporação de posturas ecológicas nesta área. Após um breve histórico e questões teóricas, destaquei as cobranças cada vez maiores quanto à redução do uso de produtos tóxicos, sobre o respeito à biodiversidade, a valorização dos ecossistemas locais e sobre as exigências crescentes voltadas para o que se pode denominar consumo verde, ou consumo responsável e suas aplicações à jardinagem.

Num clima descontraído e participativo, conversei com os presentes sobre atitudes sustentáveis em jardinagem e sobre o solo considerado como um organismo vivo, sobre compostagem e reciclagem. Também conversamos sobre a importância da atualização e sobre a necessidade de se praticar uma relação ética com os clientes, entre a própria classe e com a natureza.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Representando o PROLER em Delta, MG






No dia dez de dezembro de 2010 tive o prazer de representar o Comitê Regional do PROLER Vale do Rio Grande no III Encontro Anual de Leitores da cidade de Delta, MG.

O Encontro foi promovido pela Biblioteca Pública Municipal “José Camilo”.

Estavam presentes jovens leitores, professores do município, a prefeita de Delta, Lauzita, a secretária de Educação do Município, Maria Tereza, a representante da Usina Delta, do Grupo Caeté, Marisa Benotti, e a diretora da Biblioteca, a professora Ivonete Silva.

Durante o Encontro foram premiados os jovens leitores que mais retiraram livros durante o ano. Uma lembrança foi entregue a todos os presentes, expressando o compromisso da Prefeitura de Delta com a educação, a cultura e o incentivo à leitura para todos os cidadãos deste município.

O PROLER – Programa Nacional de Incentivo à Leitura – é um projeto de valorização social da leitura e da escrita vinculado à Fundação Biblioteca Nacional e ao Ministério da Cultura (MINC). O Comitê do Vale do Rio Grande do PROLER realiza, há mais de dez anos, um encontro anual, um fórum de discussão das políticas públicas para o livro e a leitura e reuniões setoriais nas cidades que compõem o Comitê. A principal razão de sua existência é a democratização do acesso à leitura.


O Centro de Educação Ambiental Sítio da Pedreira participa do Comitê Vale do Rio Grande do PROLER e apóia o Programa em todas as suas ações.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bibliotecas para o futuro

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Para muitas pessoas, ler é um prazer indescritível. Para outros é uma obrigação. Estudantes não poderiam passar pela escola sem ter lido umas tantas páginas, embora eu já tenha encontrado quem se vangloriasse de nunca ter lido um livro. Esse não soube o que perdeu. Em cada casa deveria existir uma biblioteca, por pequena que fosse, pois os livros são imprescindíveis, combinam com liberdade, com independência, com autonomia, com felicidade.

Do mesmo modo, cada cidade também deveria ter sua biblioteca pública, ou mais de uma(*). O ideal é que brotassem nos bairros, nas escolas, que fossem tantas quanto as praças existentes numa cidade, e que em cada uma delas existisse um local agradável para leitura, um caramanchão, uma pérgula, bancos confortáveis onde se pudesse passar belas manhãs ou tranquilas tardes. Imaginem as crianças brincando num gramado e as mães aproveitando seu tempo para ler. As pessoas mais velhas poderiam se reunir para trocar impressões de leituras, para comentar o último romance lido ou fazer uma indicação aos mais novos.

Associações de bairro, sindicatos, clubes deveriam se preocupar em montar sua própria biblioteca. Poderiam encarregar jovens estudantes universitários para que adquirissem os livros, montassem projetos de estímulo à leitura. Poderiam arregimentar pessoas dispostas a organizar as estantes, poderiam contar com a ajuda de bibliotecários para catalogar os livros. Bibliotecas comunitárias seriam montadas e dirigidas por moradores que dispusessem de tempo para tal. Professores poderiam elaborar roteiros, discutir autores, selecionar e sugerir a leitura dos clássicos, criar oficinas de criatividade, orientar quem quisesse escrever poesias, contos, romances...

Existem bibliotecas imensas, a maior delas nos Estados Unidos, a Biblioteca do Congresso, em Washington, DC. Foi fundada em 1800. Abriga cerca de 120 milhões de itens entre livros impressos, gravuras, manuscritos, discos e outros.

O Brasil possui boas bibliotecas, sendo uma das maiores a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. É considerada pela UNESCO a oitava biblioteca nacional do mundo, e é, também, a maior biblioteca da América Latina. Sua história relaciona-se com a antiga Livraria Real, de Portugal. No Brasil, constituiu-se a partir da transferência da rainha D. Maria I, de D. João, o Príncipe Regente, e da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808. As sessenta mil peças iniciais, entre livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas, transformaram-se, hoje, em mais de nove milhões de itens.

Grandes ou pequenas, antigas ou novas, as bibliotecas deveriam ser respeitadas e frequentadas por todas as pessoas. Suas portas deveriam ficar sempre abertas para se garantir a chegada do futuro.

(À professora Tânia Ulhoa, pelo apoio).

* Só 17 cidades ainda não têm biblioteca

(Por Galeno Amorim: http://www.blogdogaleno.com.br/, em 02/12/2010)

Das 1.300 cidades do País que não possuíam uma única biblioteca em 2003, segundo levantamento da época do IBGE, só 17 ainda não instalaram a sua. Dotar cada município de uma biblioteca é um esforço que agora completa cinco governos: teve início com Afonso Romano de Sant´Anna como presidente da Fundação Biblioteca Nacional na década de 1990 e ganhou impulso no governo Lula. Por que ainda não zerou essa lista suja? Porque alguns prefeitos simplesmente se recusam com a desculpa de que isso dá muito trabalho e alguma despesa.

Para tentar quebrar esse tipo de resistência, o Ministério da Cultura radicalizou: publicou, esta semana, portaria em que suspende repasses de verbas da pasta para cidades que não possuírem pelo menos uma biblioteca em funcionamento.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Em Araxá




No final de novembro, estive em Araxá (MG), para divulgar o livro “Os bichos são gente boa” e o Centro de Educação Ambiental (CEA) Sítio da Pedreira.

O convite partiu da jornalista Ana Paula Machado Kikuchi, do Jornal Clarim, um dos mais lidos na cidade de Araxá e região. O Clarim completa, em 2011, quinze anos de circulação ininterrupta, e eu colaboro com artigos e crônicas desde o início, sempre na página dois, na coluna “Opinião”.

Além do Jornal Clarim, o Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ), a Fundação Cultural Calmon Barreto e a Academia Araxaense de Letras promoveram minha ida e a da Mara, esposa, professora como eu, diretora do CEA Sítio da Pedreira e responsável pelas ilustrações do livro.

Uma agradável noite de autógrafos aconteceu no átrio da Fundação Cultural Calmon Barreto, na quarta-feira. Entre os presentes estavam alguns vereadores, o livreiro Luiz Henrique Maluf, proprietário da Livraria Empório do Livro, a Secretária de Educação, Giovana Maria Mesquita de Paula Guimarães, e a superintendente da Fundação de Assistência à Mulher Araxaense, Lídia Jordão, além da equipe do Jornal Clarim, dando a maior força.

Na cidade, quem nos acompanhou o tempo todo, com muito carinho e atenção, foram a Ana Paula e a professora Cátia Maria Lemos Melo Zema, que é presidente da Academia de Letras, ouvidora do UNIARAXÁ e assina uma coluna semanal no Clarim.

Visitamos as escolas Colégio Atena, Colégio São Domingos, Escola Municipal Dona Gabriela, Escola de Aplicação Lélia Guimarães e o UNIARAXÁ. Em todas as escolas tivemos a oportunidade de conversar com os alunos e professores.

A experiência de conversar com crianças sobre literatura, livros e educação ambiental é extremamente gratificante e marcou a visita feita à cidade de Araxá. Perguntas espontâneas, revelações pessoais descontraídas, desejos ingênuos e singelos e a confiança num mundo melhor é a marca registrada das crianças. Nisso vale a pena apostar.



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cuidar da água: uma obrigação

Renato Muniz Barretto de Carvalho

O mundo sempre mudou desde que é mundo, e vai continuar mudando. Eis aí uma constatação óbvia que, no entanto, não nos livra da obrigação de perceber e estudar estas mudanças e seus reflexos na vida humana. A segunda metade do século XX foi pródiga em mudanças. Mudanças geopolíticas importantes e outras de paradigmas que nos orientaram na busca de novos modelos e de respostas para os novos problemas que surgiram.

A economia mundial expandiu-se de forma fantástica no século XX. Esta expansão ocorreu de forma muito desigual, afetando países e povos de maneira positiva ou negativa em circunstâncias díspares e contraditórias, trazendo impactos significativos na vida das pessoas. A indústria desenvolveu novos materiais, processos e produtos sem os quais não se sabe se a humanidade conseguiria viver da forma como vive hoje. Entre eles estão os automóveis, a aviação, a informática, as telecomunicações e o plástico. Ao lado do grande progresso representado por tudo isso agravou-se a poluição e o que ficou conhecido como o custo social do progresso. Se a produção e o avanço técnico aumentaram numa rapidez incalculável em relação aos padrões do século XIX, o acúmulo de lixo no planeta torna-se um dos principais desafios no começo do século XXI. Oceanógrafos e outros estudiosos dos oceanos fizeram advertências graves sobre as condições de poluição dos mares, contaminados com toneladas de material plástico e outros poluentes, nem sempre visíveis. Até o século XIX, o lixo produzido era basicamente lixo biodegradável, hoje não.

Esta situação de degradação afeta principalmente as águas, bem imprescindível ao ser humano. Talvez a idéia de ciclo fechado presente no ciclo hidrológico tenha contribuído para se tratar a água com descaso. Além disso, a água é um solvente por excelência. Há quem diga que o planeta devesse ser chamado de planeta água devido à sua abundância na superfície terrestre.

Das mudanças que os últimos 20 anos trouxeram, uma delas refere-se às nossas concepções e práticas a respeito do uso da água. Existem aqueles que já falam na guerra da água como uma das tensões geopolíticas contemporâneas. Conflitos que já estariam ocorrendo, por exemplo, na África e no sudeste asiático.

Da água consumida no Brasil, uma parte é usada no abastecimento urbano residencial, outro tanto na indústria e uma grande parte na irrigação. Como se percebe, para que o setor agropecuário continue crescendo, a água é fundamental. Algumas estimativas dizem que um tomate necessita de 30 litros de água, um litro de leite precisa de 4 litros de água, e um quilo de carne consome 16 mil litros. Se a água é constante na superfície terrestre, temos de perceber, no entanto, que sua demanda cresce desproporcional em relação à capacidade de usá-la racionalmente, de garantir um aproveitamento de modo a não causar desperdício. Duas questões se colocam de forma preocupante: o seu aproveitamento racional e sua qualidade. De nada adianta a existência de água poluída, nem a fúria destruidora das águas que descem violentas, arrasando barrancos, arrancando árvores, isso para não falar de casas, pontes e plantações.

A água não vai acabar, mas cuidar dela é urgente. Seu uso sustentável significa conhecer melhor suas características, os efeitos das atividades econômicas sobre sua disponibilidade e sua qualidade, a correta administração dos mananciais e uma distribuição eqüitativa e justa. Significa também tratar o esgoto urbano e industrial e os dejetos oriundos da atividade agropecuária.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Grupo de trabalho da SBPC e ABC pede revisão do Código Florestal embasada na ciência

Membros do GT reiteram em carta que "qualquer aperfeiçoamento no quadro normativo em questão deve ser conduzido à luz da ciência"

O grupo de trabalho formado pela SBPC e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) para analisar o Código Florestal vigente e seu substitutivo, atualmente em discussão no Congresso, deve concluir suas atividades até dezembro, com apresentação de relatório técnico.

Desde julho, quando foi criado o grupo, foram realizadas três reuniões para debater a questão.

Em carta assinada pelos presidentes da SBPC, Marco Antonio Raupp, e da ABC, Jacob Palis, os membros do grupo defendem que a revisão do Código Florestal deve "considerar o grande avanço tecnológico na capacidade de observação da superfície continental a partir do espaço e indicar as lacunas de conhecimento científico ainda existentes".

Leia a íntegra da carta:

"Em 6 de julho de 2010, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) se manifestaram conjuntamente ( www.jornaldaciencia.org.br/links/Carta_SBPC_ABC_6dejulho.pdf ) com respeito a modificações no marco legal sobre a proteção e uso da vegetação brasileira em discussão pelo Congresso Nacional.

Ao mesmo tempo, essas instituições representativas da comunidade científica brasileira instituíram um grupo de trabalho composto por cientistas e representantes dos setores ambiental e agrícola brasileiros (lista dos participantes do grupo de trabalho abaixo) com a missão de analisar em profundidade a questão ampla do Código Florestal vigente e do substitutivo ao PL 1.876/1999, aprovado pela Comissão Especial de Revisão do Código Florestal.

O grupo de trabalho se reuniu por três vezes, desde julho último, e planeja concluir suas atividades até final de dezembro de 2010, com apresentação de relatório técnico detalhado. Julga-se apropriado tornar público, a título exemplificativo, alguns pontos importantes das análises realizadas pelo mencionado grupo de trabalho, como segue:

A comunidade científica brasileira deseja contribuir, significativamente, com informações confiáveis que embasem a modernização do Código Florestal brasileiro.

Análises aprofundadas da disponibilidade de terras para a expansão da produção de alimentos, fibras e bioenergia, para atendimento ao mercado interno e externo, pelo menos até o horizonte de 2020, não deixam dúvidas de que há estoque suficiente de terras agrícolas apropriadas para suportar uma expansão da produção, destacando-se o fato de que há ainda grande espaço para significativos aumentos sustentáveis da produtividade alicerçados em ciência e tecnologia.

A constatação anterior permite que se analise a necessidade de modificações do Código Florestal sob outra ótica, não premida por excessiva urgência e imediatismo, para que não se perca oportunidade histórica de incorporar os aperfeiçoamentos realmente necessários a tão importante diploma legal e feitos à luz do melhor conhecimento científico.

Os aperfeiçoamentos do Código Florestal, visando modernizá-lo e adequá-lo à realidade brasileira e às necessidades requeridas para promover o desenvolvimento sustentável, clamam por uma profunda revisão conceitual embasada em parâmetros científicos que levem em conta a grande diversidade de paisagens, ecossistemas, usos da terra e realidades socioeconômicas existentes no país, incluindo-se, também, a ocupação dos espaços urbanos.

Essa revisão deve considerar o grande avanço tecnológico na capacidade de observação da superfície continental a partir do espaço e indicar as lacunas de conhecimento científico ainda existentes.

Em essência, reiterando o que já manifestamos em 6 de julho passado: entendemos que qualquer aperfeiçoamento no quadro normativo em questão deve ser conduzido à luz da ciência, com a definição de parâmetros que atendam à multifuncionalidade das paisagens brasileiras, compatibilizando produção e conservação como sustentáculos de um novo modelo socioeconômico e ambiental de desenvolvimento que priorize a sustentabilidade."

Participantes do Grupo de Trabalho Código Florestal:

Aziz Ab´Saber (USP)

Carlos Alfredo Joly (Unicamp e Biota)

Carlos Afonso Nobre (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe)

Celso Vainer Manzatto (Embrapa Meio Ambiente)

Gustavo Ribas Curcio (Embrapa Florestas)

Helton Damin da Silva (Embrapa Florestas)

Helena Bonciani Nader (SBPC e Unifesp)

João De Deus Medeiros (Ministério do Meio Ambiente - MMA)

José Antônio Aleixo da Silva (SBPC e UFRPE, coordenador do GT)

Ladislau Skorupa (Embrapa Meio Ambiente)

Peter Herman May (UFRRJ e Amigos da Terra- Amazônia Brasileira)

Maria Cecília Wey de Brito (ex-secretária de Biodiversidade e Florestas, MMA)

Mateus Batistella (Embrapa Monitoramento por Satélite)

Ricardo Ribeiro Rodrigues (Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal - Esalq-USP)

Rute Maria Gonçalves Andrade (SBPC e Instituto Butantan)

Sergio Ahrens (Embrapa Florestas)

Tatiana Deane de Abreu Sá (diretora da Embrapa)

Publicado em: JC e-mail 4125, de 27 de Outubro de 2010.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CEA Sítio da Pedreira - paisagens

CEA Sítio da Pedreira - Entardecer de inverno

CEA Sítio da Pedreira

Centro de Educação Ambiental Sítio da Pedreira

O Centro de Educação Ambiental Sítio da Pedreira (CEA) é um local de vivências e aprendizagem que funciona junto à Fazenda Aroeirinha, zona rural do município de Uberaba, MG. Está situado a 15 km do centro da cidade, próximo à BR 050, sentido São Paulo.

Possui uma grande e agradável área verde, com muitas árvores e água por perto. Tem uma sala de aula, local para refeições, uma biblioteca e equipamentos de lazer. Oferece algumas trilhas, definidas a partir de critérios de aprendizagem do meio natural e contemplação da natureza. Na essência e propósitos, é um espaço de cultura, arte, lazer e reflexões sobre o meio ambiente e o mundo em que vivemos.

Um dos seus objetivos básicos é a oferta de cursos, nas mais diversas áreas, em especial os voltados para a Educação Ambiental, para aspectos relacionados a uma vida saudável, à alimentação orgânica, à produção sustentável e às diferentes leituras do mundo. Sua linha de atuação está focada na prática de atividades pautadas nas vivências ambientais, como trilhas, dinâmicas pedagógicas e demonstrações sobre preservação do solo, água, flora e fauna.

O espaço está aberto a propostas variadas, em que alguns princípios estejam sempre presentes: a consideração à sociobiodiversidade, a valorização da arte e da cultura, a flexibilidade, a ética e o respeito à individualidade. A intenção é trabalhar com crianças, adolescentes, adultos e pessoas da terceira idade interessados nestas temáticas. Na construção dos espaços, simples e rústicos, porém aconchegantes, foi observada a preocupação com a acessibilidade e o conforto ambiental.

No CEA Sítio da Pedreira é possível participar dos cursos, realizar atividades variadas, fazer caminhadas, conhecer trilhas na mata, acampar, fazer pesquisas ou simplesmente descansar e ouvir o som dos pássaros. O acervo da biblioteca está disponível para pesquisas e leituras.


O CEA Sítio da Pedreira é um espaço em permanente construção, aberto a novas ideias, propostas e parcerias. Venha nos fazer uma visita. Escreva um e-mail para sitiodapedreira@gmail.com ou então ligue para (34) 9972-6843 ou (34) 9996-6843. Blog: http://cea-sitiodapedreira.blogspot.com/


domingo, 19 de setembro de 2010

Manhã de autógrafos na Livraria Alternativa em Uberaba


Thiago de Melo Andrade e Renato Muniz

Sessão dupla de autógrafos


Na ensolarada manhã de sábado, dia 18 de setembro de 2010, aconteceu a sessão dupla de autógrafos dos autores Renato Muniz e Thiago de Melo Andrade. Foi na Livraria Alternativa, onde os dois receberam amigos e familiares, tudo sob os cuidados da excelente equipe da Alternativa: Thaís, Marcelo, Cátia, Joziane e os demais.

Os escritores autografaram seus livros “Os bichos são gente boa” (Renato Muniz – Giz Editorial) e “O ovo do elefante” (Thiago de Melo – Melhoramentos), recentemente lançados na XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo.



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O colecionador de embalagens

Renato Muniz Barretto de Carvalho

Preciso contar a história do Zeca Antônio, um conhecido meu. Coitado! Desapareceu um dia desses e não há meio de encontrá-lo. Já tentamos de tudo: cartas espalhadas na Internet, cartazes pregados em postes, apelos dramáticos em portas de festas e até panfletos, que ironia!

Ninguém sabe contar ao certo como tudo começou. Parece que foi uma coisa simples, algo corriqueiro, assim como uma correspondência à toa colocada debaixo da porta. Alguns vizinhos, em depoimentos à polícia, disseram que acontecia de vez em quando. Ora uma propaganda, ora produto em oferta, uma loja em liquidação, revistas, convocatórias para reuniões, propagandas do governo, jornalecos de políticos repletos de fotografias três por quatro dos próprios, uma novidade qualquer, convites de casamento e, o pior, as contas a pagar e os extratos bancários. Tais papéis começaram a aparecer com maior freqüência e, como se não bastasse, às vezes viam em dobro, como para lembrar ao sujeito quanto ele tinha no banco ou qual era o seu saldo devedor.

Na lógica do Zeca Antônio, nada podia ser jogado fora. Segundo depoimento dos porteiros e faxineiros do prédio onde ele morava, nem os envelopes eram descartados, ele dizia que um dia poderia precisar deles. Para terem uma idéia do problema, até os catadores de lixo reciclável que atuavam na região reclamaram da pouca quantidade de material colocado para fora. O resultado foi que o volume de papel e assemelhados aumentou consideravelmente no interior do pequeno apartamento.

No começo, tudo cabia numa simples gaveta. Com o tempo, ele teve de procurar alternativas para o aumento do material guardado com esmero e carinho. A primeira solução foi passar a armazenar em pastas o seu acervo. Depois, tornou-se um verdadeiro profissional, começou a organizar por título, por assunto, por autoria, e não parou mais. Passou a arrumar as pastas em prateleiras, em estantes e armários. Separou as pastas por cores diferentes, organizou um índice, pensou inclusive em contratar um especialista em arquivos.

Em pouco tempo, todos os cômodos do apartamento já estavam tomados por pilhas de papéis. Pilhas enormes de folhetos, de envelopes, de panfletos, de cartas, de avisos etc. Em certa ocasião, tive uma oportunidade de visitá-lo e fiquei preocupado com o que vi. Tive de sentar numa pilha de jornais, as cadeiras e o sofá estavam tomados por papéis, e o Zeca ficou preocupado, me vigiava para ver se eu não tirava nada do lugar. Eram pilhas separadas por assuntos que só ele sabia o que significavam. Outras pilhas espalhadas pelo chão indicavam revistas e até documentos de imposto de renda de anos anteriores.

O Zeca já não tinha tempo para mais nada. Não saía com os amigos, não ia ao cinema, nem se interessava mais por futebol. Passava seus preciosos minutos organizando e arrumando papéis. E qualquer intervalo era pouco. Reclamava da falta de tempo, queixava-se que dormia pouco, já não se alimentava direito. Como não tinha tempo de preparar suas refeições, e como sua ajudante pediu demissão, pois não agüentava mais tanto papel, passou a pedir comida pelo telefone. Começou a colecionar as embalagens. No início por tipo de comida, por tamanho, por cor, por cheiro e daí por diante.

Um dia desses, liguei para ele e ninguém respondeu. O telefone tocou até a ligação cair. Liguei de novo e fiquei preocupado. Fui até o apartamento, toquei a campanhia e nada de atender. Conversei com o pessoal da portaria e nenhuma notícia dele. Com autorização policial arrombamos a porta e, para surpresa nossa, não encontramos o Zeca. Sumiu, sem deixar notícias. No apartamento apenas pilhas de papel. Quero acreditar que ele se encontra distante da realidade, perdido num mundo de papel, mas que um dia possa voltar. Tem gente que é assim, se esquece do mundo e das pessoas e se perde em preocupações e pilhas de papel.