Renato Muniz Barretto de Carvalho
Certa ocasião, num encontro na Universidade de Salamanca, em 1936, um general espanhol, partidário do fascismo, admirador de Francisco Franco – o ditador espanhol, de triste memória –, ressentido com a resistência e o desejo de autonomia dos bascos durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), bradou em alto volume as seguintes palavras: “Viva la muerte!”. E completou: “Abajo la inteligencia!”. Típica reação de quem usa a força e a opressão para resolver diferenças políticas e ideológicas. Como resultado desta maneira de ver o mundo, o povo espanhol amargou uma terrível ditadura até os anos 1970. O próprio país só viria a retomar o desenvolvimento pleno e as liberdades civis com a volta da democracia e a morte de Franco, em 1975.
Foram mais de um milhão de mortos e milhares de exilados. Tristeza e pobreza marcaram a Espanha neste período. Foi a vitória de Hitler e de Mussolini, do fascismo e do nazismo mesmo após sua derrota na Alemanha e na Itália em 1945.
A humanidade respirou aliviada ao final da Segunda Guerra Mundial, sentiu-se melhor com o fim da Guerra do Vietnã, comemorou o fim dos regimes ditatoriais na América Latina e torce pelo fim dos ditadores africanos e asiáticos que ainda sobrevivem. O mundo vive uma nova fase, em que não há mais lugar para regimes opressores, para a tortura, para a corrupção, para a existência de mortes sem sentido, para guerras entre irmãos, para a miséria. Mesmo assim, alguns ainda insistem em permanecer neste caminho. Muitos continuam no poder, outros defendem sua crença no obscurantismo por outras vias. O mundo mudou, e continuará mudando, mas alguns insistem em retroceder, em voltar a um passado de violência e terror.
A humanidade quer viver, e viver bem, o que significa viver em paz. A maioria defende a vida como bem maior de todos os povos, peleja pelo direito a uma vida saudável, por uma vida sem medo, sem fome, sem tragédias sociais. Algumas concepções, entretanto, tropeçam no rumo contrário, caminham trôpegas em direção à opressão da mulher, contra a diversidade cultural, contra a liberdade sexual, contra a livre expressão artística e contra o patrimônio natural. O mundo já não as quer mais, já não as aceita mais.
Um mundo em que não há mais lugar para afirmações como a do general espanhol, não deve admitir a morte como solução para conflitos ideológicos ou de qualquer outro tipo. Não se deve concordar com os métodos violentos defendidos por radicais religiosos, seja de qual crença for, não se deve concordar com métodos tirânicos de ditadores, seja de qual ideologia for. Igualmente, até por uma questão didática, não se deve admitir que a morte, de quem quer que seja, até mesmo do mais terrível assassino, seja colocada como solução para se resolver pendências de qualquer natureza, até mesmo se causaram comoção internacional. Ou defendemos a vida, acima de qualquer coisa, ou aceitamos um mundo pior, triste, retrógrado, inculto, infeliz. Viva a inteligência! Viva a vida!
Publicado no Jornal Clarim, de Araxá, MG. http://clarim.net.br/colunistas/colunista/4
Um comentário:
Digníssimo e Prezado Prof. Renato: achei um novo tesouro, que é este seu blog. Obrigado por tal partilha de conhecimentos e ideias que nos enriquece e nos impulsiona a alçar voos maiores em busca de novos saberes! Parabéns!
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