terça-feira, 17 de julho de 2012

Para ganhar um dinheirinho a mais





Renato Muniz Barretto de Carvalho

Já descobri um jeito honesto e garantido de ganhar um bom dinheiro. Vou me dedicar à produção e à comercialização de um novo produto. Eu conto.

Depois de longos anos pesquisando e observando algumas atitudes humanas, em especial numa certa cidade do Cerrado brasileiro, desenvolvi uma linha de produtos que, espero, fará grande sucesso em todo o território nacional e, quiçá, no estrangeiro.

Não tenho grandes ilusões e nem alimento expectativas além das minhas possibilidades, mas já fiz uma boa sondagem do mercado e estudei bastante o comportamento do consumidor potencial.

Chega de suspense: trata-se de árvores artificiais. Isso mesmo, árvores artificiais! Não me decidi ainda sobre o material que empregarei, mas certamente será algum derivado de petróleo, um plástico qualquer, mais resistente às intempéries, aos ventos, às chuvas, aos raios solares, às garras dos passarinhos, ao estilete dos apaixonados e ao xixi dos cachorros. Nada muito aprimorado, pois o produto tem de ser barato e bem acessível a todos. Sem sofisticações, poderá ser manuseado por crianças e idosos. Estudo uma linha exclusiva para órgãos públicos, especialmente prefeituras municipais deste nosso grande país.

O produto será do tipo “monte você mesmo”, ou “do it yourself”. Será enviado numa caixa de papelão reciclável, com um destacado apelo ecológico. O cliente poderá escolher vários modelos, com alturas diferenciadas, dimensões da copa, aplicações diversas e até mesmo algumas espécies selecionadas, de acordo com seu gosto pessoal. Isso eliminará alguns incômodos verificados atualmente, como, por exemplo, o plantio inadequado de eucaliptos e pinheiros nos logradouros de cidades da região do Brasil Central. Elas crescem muito, ou não se adaptam, morrem, caem os galhos e causam problemas. Com as árvores artificiais acabam-se esses inconvenientes, pois é possível comprar uma araucária e plantar, por exemplo, em Gurupi (TO), sem culpa ou remorso. 

O grande diferencial do produto será o formato da árvore. Estamos desenvolvendo toda uma linha especial para ser colocada debaixo da rede elétrica, já que as companhias de energia não estão dispostas a trabalhar com fiação subterrânea. Nesses casos, teremos árvores em formato de “V”. Forneceremos também árvores pendidas para um lado ou para o outro, à escolha do freguês e das circunstâncias do imóvel, da calçada, ou do quintal. Se não há espaço entre os postes e a frente do imóvel, poder-se-á adquirir uma árvore pendida para a direita ou para a esquerda, dependendo do lado da calçada e de onde se queira a sombra. Teremos ainda árvores que já virão podadas no formato que o freguês desejar: redondinhas, em forma de cone, imitando pinheiros, quadradas, chapéu, imitando bichinhos e o que mais a criatividade conseguir alcançar. É bom ressaltar que, uma vez escolhido o formato, não serão necessários serviços de poda anual ou reparos devido ao crescimento de galhos, pois o produto é completamente artificial. Os jardineiros não deverão ficar satisfeitos, mas é o progresso chegando!

Outra grande vantagem das árvores artificiais é a ausência de folhas e frutos que caem no chão e sujam os logradouros. Acabam-se os problemas de entupimentos de calhas, de esgotos e a varrição fica mais fácil. E, se alguém quiser atrair pássaros e outros animais, já estamos pensando em criar uma linha paralela de produtos, como ninhos artificiais, ocos especialmente planejados para corujas, e até animais exóticos, para pendurar nos galhos, como esquilos, etc. Tudo de plástico, é claro!

Do jeito que as coisas caminham, acho que o sucesso virá com ânimo total neste meu novo empreendimento. É a força da Economia verde!






Fotos: Mara Maciel

Esta crônica foi publicada antes em:  http://clarim.net.br/colunistas/colunista/4



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