Texto publicado no Jornal da Manhã, em 25 de outubro de 2015 (http://jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,116958).
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Meu avô
Renato Muniz Barretto
de Carvalho
Hoje, deu vontade de escrever sobre meu
avô paterno, Arlindo de Carvalho. Faz tempo que ele se foi, mas tenho saudades
e boas recordações. Ele nasceu em 1903 e, da geração dele, poucos estão vivos. Escrevo
para recordar seu tempo e sua trajetória.
Sua família veio para Uberaba no começo
do século XX, por causa de desentendimentos numa questão de disputa por terras.
Abandonaram tudo para evitar retaliações à família. Chegaram muito pobres e ele,
o único filho homem, foi logo trabalhar. Não teve tempo e nem recursos para
estudar, mas gostava muito de ler e de fazer contas. Aprendeu o básico da
contabilidade e de entregador numa farmácia passou a balconista, a encarregado,
a gerente e, finalmente, a sócio em inúmeros empreendimentos comerciais e
industriais. Os que conviveram com ele diziam que tinha bom tino comercial.
Destacava-se por sua gentileza e honestidade nos negócios. Foi o típico self-made-man da primeira metade do
século XX.
Quando veio a II Guerra, já era um
comerciante estabelecido, fazendeiro, proprietário de imóveis. Participou ativamente
de diversas entidades, tendo sido presidente da Associação Comercial (ACIU), em
cujo mandato engajou-se pela ampliação da eletrificação na cidade. Num contexto
histórico e numa cidade não muito favoráveis à industrialização, enfrentou
barreiras, mas nunca aceitou cargos públicos e nem se envolveu com política
partidária. Tinha uma visão empreendedora invejável e possuía um vasto círculo
de amizades.
Nos anos 1940, levou meu pai para
estudar em São Paulo. Lá o matriculou no tradicional Colégio Rio Branco. Depois
do colegial, meu pai foi cursar Direito na Faculdade do Largo São Francisco, voltando
a Uberaba no final dos anos 1950, para trabalharem juntos.
Quando eu completei 13 anos de idade,
ele me chamou para trabalhar com ele. Mais que depressa, aceitei. Seu escritório
ficava na principal avenida da cidade, estrategicamente entre duas agências
bancárias. Eu estudava na parte da manhã e depois do almoço ia até o escritório.
No primeiro dia ele me entregou uma vassoura e pediu que eu varresse o chão.
Levei um susto danado, reclamei, argumentei que um neto dele não devia varrer. Ele foi
inflexível e me disse: se eu quisesse ser uma boa pessoa devia ser capaz de
desempenhar as mais diferentes funções. Depois, eu devia atender ao telefone,
fazer minhas tarefas escolares e, no fim da tarde, ele me ensinaria a usar suas
pesadas máquinas de calcular.
No imaginário de seus contemporâneos,
que a ele sobreviveram e com quem eu tive contato, ele era famoso por ser um
“pão-duro”, não gostava de esbanjar, não era dado a festas e bajulações. A vida
o conduziu ao pragmatismo. Nunca prejudicou ninguém e, segundo ele, a ética
devia estar ligada ao crescimento econômico. Quando faleceu, num acidente
trágico, esse foi o tom das homenagens que recebeu. Quanto a mim, trabalhei com
ele até sua morte, em 1970. O aprendizado daqueles dias serviu para a vida
inteira.
Com Carvalho Pinto (4º da esq. para dir.), ex-governador de São Paulo
Antiga Casa Carvalho
Com João Guido, ex-prefeito de Uberaba
Presidindo reunião da ACIU
Com minha avó, Leonor Borges de Carvalho, e meu pai, Lincoln B. Carvalho
Com minha avó
Com minha mãe, minha avó, meu irmão e eu.
Texto publicado no Jornal da Manhã, em 25 de outubro de 2015 (http://jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,116958).
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Um comentário:
Parabéns primo ,boas lembranças....
Linda sua história...sua trajetória...
Aprendemos tando em tão pouco tempo de convivência...
Mas ficaram eternamente em nossas memórias...
Beijo grande querido Renato
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