Desmatamento da Amazônia:
uma questão crítica
Renato Muniz Barretto
de Carvalho
Só se fala nisso! Aqui, no exterior, nos jornais, nas TVs e nos
gabinetes. Se não chegou aos botecos, já está nas salas de aula, nos laboratórios
e nos encontros científicos. Não é um assunto irrelevante, não é algo a ser deixado
de lado. Interessa a alunos, professores, pesquisadores e às pessoas comuns, como
eu e você.
Assim como a caça às baleias, o destino dos ursos-polares, a
quantidade imensa e insensata de plásticos nos oceanos, a falta de saneamento básico
— que afeta principalmente as periferias das grandes cidades — e a poluição do ar,
entre outros assuntos correlatos, o desmatamento da Amazônia preocupa cidadãos de
todo o mundo.
Para quem não sabe, a área da Amazônia é de 7 milhões de quilômetros
quadrados, território em grande parte coberto pela floresta tropical. Compreende
nove países: Brasil, com 60% da floresta, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia,
Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa). É o maior bioma brasileiro. Só esses
dados já seriam suficientes para entender que a degradação socioambiental da Amazônia
é um drama internacional. Além disso, a floresta, as águas, os animais e as populações
tradicionais da Amazônia têm histórias interconectadas que envolvem situações diversas,
que ultrapassam fronteiras nacionais e remetem ao passado da humanidade. Para citar um único exemplo:
basta pensar nos efeitos sobre o clima de vastas extensões da América do Sul caso
mudanças drásticas aconteçam na floresta.
É óbvio que o desmatamento da Amazônia interfere nas relações
internacionais, afeta a biodiversidade, atrai atenção de cientistas, de jornalistas
e de pessoas cientes das consequências negativas advindas da ausência da floresta.
O desmatamento envolve situações complexas cuja solução não pode ficar à mercê de
atitudes irresponsáveis, maluquices e ocultação de dados, sonegação de informações
e de discussão ampla. É uma questão que exige atenção de todos os que se importam
com a vida no planeta!
Para ajudar aqueles que se interessam pelo assunto a refletirem
sobre a questão e se informarem, indico a leitura do material elaborado pelo Nexo
Jornal sobre o desmatamento da Amazônia (clique
aqui).
Vale a pena consultar os dados do Imazon sobre o assunto. “O
Imazon é um instituto de pesquisa cuja missão é promover conservação e desenvolvimento
sustentável na Amazônia. O Instituto foi fundado em 1990, e sua sede fica em Belém,
no Pará. Em 28 anos de existência, o Imazon publicou 648 trabalhos técnicos, dos
quais quase um terço foram veiculados como artigos em revistas científicas internacionais.”
Em especial, recomendo consultar o Boletim do Desmatamento da Amazônia Legal (edição
de julho de 2019, disponível
aqui).
Seria bom examinarem também os dados do próprio INPE, disponíveis
aqui.
O Instituto Socioambiental também se dedicou ao assunto, trazendo
dados atualizados de uma nova plataforma. Esses dados estão disponíveis
aqui.
Querem saber mais? Centenas de notícias foram veiculadas nos
meses de julho e agosto de 2019 sobre o desmatamento na Amazônia, façam uma pesquisa
básica na Internet e vão encontrar muita coisa. Mas é preciso “separar o joio do
trigo”, o tema é polêmico, tem muita notícia falsa e muita opinião desencontrada.
É fundamental considerar a produção científica sobre o assunto.
Tem muita gente boa pensando sobre tudo isso: cientistas, jornalistas,
indígenas, agricultores etc., todos preocupados com a floresta e seu futuro. Para
encerrar esta postagem, aconselho assistirem ao excelente vídeo “O que está acontecendo
na Amazônia”, da turma do Meteoro, disponível
aqui.
Boa pesquisa! Boa leitura!
Algumas informações básicas sobre a Amazônia
Na
Amazônia existe a maior floresta
tropical do mundo.
O
território brasileiro está localizado na América do Sul, apresenta extensão
territorial de 8.514.876 Km² e é o
quinto maior país do planeta, só é menor que os territórios da Rússia, Canadá,
China e Estados Unidos, respectivamente.
É
composto por 26 estados e 1 Distrito Federal, divididos em cinco regiões. As
regiões e os respectivos estados integrantes são:
Região
Sul: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina;
Região
Sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro;
Região
Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal;
Região
Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte e Sergipe.
Região
Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Área dos estados da
Região Norte:
Acre:
164.123,040
Amapá:
142.828,521
Amazonas:
1.559.159,148 (18,31% do território
nacional)
Pará: 1.247.954,666 (14,65% do
território nacional)
Rondônia:
237.590,547
Roraima:
224.300,506
Tocantins:
277.720,520
Região Norte:
3.853.676,948 (45,2% do território nacional)
Mato
Grosso: 903 366,192 (10,61% do território nacional, aprox.. metade na Amazônia)
A
Amazônia Legal é uma área que engloba nove estados do Brasil pertencentes à
bacia Amazônica e à área de ocorrência das vegetações amazônicas.
Nela,
vivem em torno de 23 milhões de pessoas, segundo o censo 2010, distribuídas em
775 municípios, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima, Tocantins (98% da área do estado), Maranhão (79%) e Goiás
(0,8%).
A
atual área de abrangência da Amazônia
Legal corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do estado do Maranhão (a
oeste do meridiano de 44º de longitude oeste), perfazendo uma superfície de
aproximadamente 5.217.423 quilômetros
quadrados correspondente a cerca de
61% do território brasileiro.
A Amazônia é o pulmão
do mundo?
Não.
Não é correto fazer esta afirmação, o que não tira a importância da floresta.
Segundo pesquisas sobre o assunto, apesar da “alta produção de oxigênio no
processo de fotossíntese, árvores adultas consomem, na sua respiração,
praticamente a mesma quantidade de oxigênio produzida na fotossíntese. Por
isso, o saldo de produção de oxigênio gerado pela floresta é pequeno.” (Folha
de São Paulo, 23/08/2019).
Pouco
mais da metade do oxigênio produzido no planeta é gerado por algas marinhas
(55%). O “pulmão do mundo”, portanto, está nos oceanos.
A
matéria a seguir, com pequenas supressões e grifos do blog, é do jornal Folha de São Paulo:
A destruição da
Amazônia afeta o resto do mundo?
Verdade.
Embora não seja o pulmão do mundo, a Amazônia tem um papel fundamental na
regulação do clima global, junto a outras grandes florestas tropicais.
Com
árvores de folhas perenes, as florestas tropicais funcionam como estoques de
carbono (que compõe caules, folhas e raízes das árvores). As queimadas lançam o
carbono na atmosfera, ampliando o efeito-estufa, que causa o fenômeno do
aquecimento global.
Outro
processo que acontece massivamente na Amazônia é a evapotranspiração, feita
pelas folhas das árvores para liberar o excesso de água captado pelas raízes. De
microgotículas em microgotículas, cada uma das árvores da Amazônia lançam na
atmosfera de trezentos a mil litros de água por dia.
O
resultado é a geração de chuvas para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul brasileiros,
em um fenômeno que ficou conhecido como “rios
voadores”, que influenciam também as correntes dos oceanos.
A Amazônia é a maior
floresta do mundo?
A
maior floresta do mundo fica na Rússia. É a floresta boreal, também chamada de
Taiga, e tem extensão de 12 milhões de km².
A
Panamazônia, que compreende o território brasileiro e de mais oito países na
região, tem 8,47 milhões de km2. O território amazônico no Brasil é de 5,5
milhões de km². Entre as florestas dos trópicos, a Amazônica vence em
território. Portanto, é reconhecida como a
maior floresta tropical do mundo.
Qual é o impacto socioambiental
atual sobre a Amazônia?
As principais pressões de desmatamento na Amazônia brasileira acontecem por
atividades de grilagem de terras, que são desmatadas para extração de madeira e
ocupadas com pastagens de gado. Portanto, o consumo de produtos madeireiros e
também o consumo de carne pode ter relação direta com o desmatamento.
Nos últimos anos, diversas iniciativas do setor privado passaram a rastrear e
comunicar a origem dos produtos, mas as cadeias produtivas da Amazônia ainda
enfrentam dificuldades para garantir a certificação de origem, pouco acessível
ao consumidor final.
O Brasil é o país com
mais áreas protegidas?
Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil ocupa a posição 52 no ranking de
países com mais áreas protegidas, com cerca de 30% do território.
Vizinhos
amazônicos como Peru, Equador, Colômbia e Bolívia têm mais de 40% de seus
territórios protegidos, enquanto países desenvolvidos como Reino Unido e Japão
têm 29% .
Segundo
levantamento do Observatório do Clima, “a Rússia, apesar de ter formalmente
menos áreas de conservação que o Brasil, possui 48% do seu território coberto
por florestas – uma área verde quase do tamanho do Brasil. Quando somadas as
áreas de estepes (campos naturais) e alagados, a cobertura nativa chega a 70%
do país”.
Amazônia sempre teve
queimadas, mas o mundo só se preocupa agora?
Mentira.
O fenômeno que faz o mundo voltar as atenções para a Amazônia agora não
acontecia há pelo menos 15 anos no Brasil. Segundo cientista da Nasa, cenário
semelhante foi visto de 2002 a 2004, quando desmate era superior a 20 mil km²
por ano. Após um pico de mais de 25 mil km² em 2004, as taxas de desmatamento
na região diminuíram gradativamente, chegando a menos de 5 mil km² em 2012,
conforme os dados do Inpe. Em 2018, o desmatamento foi de 7.902 km².
A
taxa de 2019 ainda será confirmada pelo Inpe através do sistema Prodes, mas o
agregado dos alertas do sistema Deter indicam alta de 40%.
Todas as queimadas
visam ao desmate?
Apesar de ser considerado um método ultrapassado, a queimada ainda é usada para
abrir terreno para novos plantios ou para pastagem. Também se elimina bagaço
dos cultivos pela queima. Incêndios naturais podem tomar grandes proporções em
épocas de seca, quando o fogo se alastra mais facilmente. Também há casos de
incêndios criminosos provocados em conflitos por posse de terra — as disputas
são frequentes na Amazônia. Entretanto, as queimadas atuais têm relação direta
com desmatamento, conforme dados de satélites da Nasa e do Inpe que mostram
focos de incêndio nas mesmas áreas onde ocorre desmatamento.
Informações
retiradas da Wikipédia e da Folha de São Paulo (aqui).
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