quarta-feira, 11 de abril de 2018

A criança, o celular e os livros


A criança, o celular e os livros

Renato Muniz B. Carvalho

Qual é a idade certa para dar um celular a uma criança? Esta pergunta tem sido feita com certa frequência nos últimos tempos, mas ainda não há consenso. Num sentido pedagógico, ela incomoda professores, pais, diretores, curiosos de plantão e até vereadores. O incômodo aqui se refere às incertezas causadas pela inexistência de uma resposta “curta e grossa”, o que existem são hipóteses, sugestões e ideias vagas.
O celular é relativamente recente na vida social, daí as dúvidas, em especial nas escolas. Como Educação é um terreno em que todo mundo acha que pode dar palpites, o que é diferente de estudar e pesquisar o assunto, muitos têm suas “teorias”. O legislativo tenta disciplinar o assunto, inclusive determinando proibições de uso em sala de aula. Dentro de casa é diferente, os pais resolvem a peleja. Alguns vão contra a onda consumista, outros se sucumbem a ela ou contemporizam. Muitos são flexíveis, para outros, poucos, o dinheiro está sobrando, uns ganham da titia, do vovô... Resultado: hoje, no Brasil, existem mais celulares do que habitantes. Curioso, né? 
O senso comum indica que não se deve dar um celular a uma criança antes dela completar seis ou sete anos de idade. Sete? Dez? Doze? Desconheço estudos conclusivos. Confesso que minha preocupação não são os celulares, eles não me seduzem tanto. Minha preocupação são os livros. Qual é a idade certa para dar um livro a uma criança?
Recomenda-se que as mães leiam para seus bebês quando eles ainda estão na barriga. Já vi nenéns de poucos meses receberem livros de presente. Existem livros de pano, de plástico, de diversos materiais e conteúdos. Livros não fazem mal aos bebês, fazem bem! Eles distraem, desenvolvem a atenção, a criatividade etc.
Se os livros não fazem mal algum às crianças, se são até recomendados, por que quando elas crescem e ganham um celular se esquecem dos livros? Isso não acontece apenas com os pequenos, mas com os adultos também. O que aconteceu com os livros? Ou foi com as crianças? Alguém, caso se sinta culpado, pode justificar o lapsus linguae social agarrando-se aos e-books, mas ocorre que a passagem da idade do livro para a idade do celular é muito brusca e algo se quebra. Neste caminho, os livros se perdem, e a garotada, seduzida pelo mundo eletrônico, já não consegue fazer o retorno ao livro tradicional. Pior é ouvir aquela cantilena esfarrapada: “Ah, mas eles leem no celular...” Não leem! A maioria não lê, talvez leia mensagens rápidas, figurinhas, mas livros... O risco é se dissolverem os nexos existentes entre o mundo real e o imaginário.
Ficam algumas indagações: se os livros não fazem mal entre a gravidez e a chegada à “idade digital”, por que quase desaparecem da vida dos adolescentes? Quais as consequências disso? É preciso investigar!

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