P.S.: em algumas cidades, o nome que se dá às placas é cavalete.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Senhores candidatos
Renato Muniz Barretto
de Carvalho
Bom dia! Em primeiro lugar, quero que saibam da minha
alegria e do meu agradecimento por terem se apresentado ao pleito eleitoral de
2012. Creio tratar-se de uma demonstração de seu envolvimento com os destinos
das cidades, com a consideração da política como algo sério e necessário num
país como o nosso, onde existem tantas carências e tantos erros do passado a
serem corrigidos.
Mas não estou aqui para falar dos erros do passado, da
escravidão que tanto mal fez ao país no passado colonial e cujas consequências
estenderam-se até o presente, nem sobre as ditaduras. É preciso acertar as
contas com o passado, sim, mas neste momento é preciso se preocupar com o
futuro. Embora as coisas estejam interligadas. O povo simples sabe disso.
Como é bom perceber a alegria dos senhores candidatos, ver
como se expõem na mídia, como falam de seus projetos, de suas ideias para as
nossas cidades. É importante conhecer seu passado de atuação em defesa da
cidadania, da coisa pública, e de como estão preparados para governar as
cidades ou nos representarem no parlamento municipal, nas câmaras de
vereadores. Meu muito-obrigado!
Algumas coisinhas, entretanto, incomodam. E é bom não deixar
isso para mais adiante, senão a gente se esquece, ou se arrepende por ter
deixado passar... Não é?
São tantas coisinhas que não vai dar para mencionar todas,
mas uma delas tem me deixado “com a pulga atrás da orelha”. Conhecem esta
expressão? Significa uma certa desconfiança, uma desconfiançazinha de que algo
pode não estar correto. Entendem?
Uma dessas coisinhas é, por exemplo, a quantidade de placas
– sei lá se o nome é esse mesmo – que têm aparecido nas ruas das cidades
ultimamente. Placas com os rostos dos senhores candidatos, muitas seguidas do
número e da sigla partidária. Como são irritantes! Estarei ficando velho e
impaciente?
Como perguntar não ofende, qual a razão de tantas placas nos
canteiros centrais de avenidas, em rotatórias, em calçadas? Fazer os candidatos
mais conhecidos dos eleitores? Marcar território, como fazem lobos e cachorros
com xixi? Dizer ao mundo que são candidatos? Mas a televisão, os jornais, os
debates, as visitas já não nos informam intensamente disso?
Mesmo que autorizadas pela legislação, não seria o caso de
se perguntar qual o efeito disso no visual e no conforto urbano? Tantas placas
podem dificultar ou até impedir a circulação. Afinal, a rua, a praça, o
logradouro, como queiram, são espaços públicos – ou não? São espaços de vida,
de manifestação, de circulação, e não deveriam ser apropriados de forma privada
– ou não?
Senhores candidatos que têm usado este artifício de espalhar
placas por toda a cidade, eu pergunto: se fazem isso agora, o que não farão
mais tarde, quando forem eleitos? O que pensam da beleza da cidade? Vale a pena
emporcalhar o espaço urbano colocando as tais placas? Não será isso um ato de
poluição visual? Se são candidatos, devem saber o que significa poluição visual
– ou não? Não sabem que essas placas podem prejudicar a visão dos motoristas
causando acidentes? Não pensaram nisso antes de mandar espalhar tais placas?
Não acham que essa quantidade de placas pode prejudicar um cadeirante? Uma mãe
a conduzir um carrinho de bebê?
Senhores candidatos, os senhores estão, neste momento, muito
visíveis, e de vocês o povo espera, no mínimo, coerência, honestidade e
sabedoria para lidar com a coisa pública. Que chato começar uma campanha
sujando a cidade que pretendem governar ou representar seu povo, não acham?
Daqui a pouco serão tantas as placas e meu temor é que seus
cabos eleitorais comecem uma guerra onde elas sirvam de armas, vai ser placa
pra lá, placa pra cá, uma placada só! Não vai emplacar. Meu maior medo é sermos
atingidos por uma placa voadora perdida, ou uma placa com um sorridente
candidato nos perseguindo, solicitando nosso voto... Um pesadelo!
P.S.: em algumas cidades, o nome que se dá às placas é cavalete.
P.S.: em algumas cidades, o nome que se dá às placas é cavalete.
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2 comentários:
Belo texto, parabéns. Mas é bem assim, quanto menos inteligência para conquistar com argumentos, mais ignorância e força bruta para conquistar como antigamente.
Obrigado Adriano! Abraços.
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