domingo, 15 de janeiro de 2012

Difícil aprendizado: para ler num dia de chuva

 

Canastra 101

Meu aprendizado sobre o tempo, o clima, não foi fácil. E ainda não está concluído, se é que estará algum dia!

Olho pra cima, examino as nuvens, observo o céu azul, analiso bem demoradamente o imenso espaço sobre nossas cabeças e pouco consigo entender. Misterioso céu. Vai chover? Vai fazer sol? Vem uma chuvinha de nada? Ou um calor de rachar? Vai ser uma tempestade de alagar a cidade e passar por cima das pontes ou chuvisco de molhar bobo? Não costumo acertar, e saibam que eu até tentei, até estudei essas coisas de climatologia, de meteorologia e de previsão do tempo na época da faculdade.

Também me esforcei à beça para tentar absorver um pouquinho da sabedoria dos antigos, dos mais velhos, em especial dos mais sábios que davam conta de dizer até a hora em que ia começar a despencar água sobre nós. Conheci uns que eram capazes de dizer que, dependendo do lado que a chuva vinha, ela chegaria, ou não, até onde nós estávamos. Saibam que costumavam acertar, e nem se gabavam disso.

Mas minha ignorância persiste. E se isso me serve de consolo, creio que outras pessoas têm a mesma dificuldade. Um dos problemas é que o clima, mesmo sendo possível realizar previsões, mesmo podendo-se classificar os diferentes tipos, enquadrar, estabelecer regularidades, não é algo mecânico, como um relógio. O clima não se sujeita a ritmos rígidos, nem a controles e catracas. As variáveis são tantas que mesmo os sistemas complexos de computadores e satélites interligados não dão conta de prever com exatidão seu comportamento. Digamos que ainda não foi domado, não se submeteu aos caprichos humanos. Mas do jeito que a coisa vai, não demora.

De qualquer forma, ainda que os supercomputadores profetas continuem a aperfeiçoar a previsão, o aprendizado pessoal do clima deve começar o quanto antes. É indispensável. E deve começar na infância. Se você tem filhos pequenos, ou pretende ter, ensine-os o melhor que puder. Saia com eles durante o dia e peça que olhem as nuvens, que tentem perceber as diferenças entre elas, que sintam o vento e descubram de que lado sopra. Arranje um tempinho e também saia com eles à noite. De preferência, faça um rodízio, isto é, em noites de lua cheia, em noites nubladas, em noites quentes e sem vento, e em noites assustadoras. Deixe que percebam as diferenças, as nuances da escuridão.

No meu caso, quando pequeno, que eu me lembre, todo dia era dia de chuva, ou com possibilidade de chuva. E isso podia estragar nossas brincadeiras, ou nosso passeio. Não importava se estávamos no verão ou no inverno, mesmo na estiagem mais rigorosa, minha preocupação era se ia chover ou não. Difícil era encarar o céu e extrair daí alguma lição, alguma lógica.

Bem que eu tentei aprender mais sobre o clima, mas acho que minha dedicação não foi suficiente. Talvez eu não tenha tido competência técnica para tanto. De qualquer maneira, ainda hoje uma das coisas de que mais gosto é de admirar as mudanças das estações do ano. Adoro as noites claras do Cerrado. A impressão que eu tenho é a de que o céu do Cerrado é maior, é mais amplo, talvez infinito. Tão bonito! Adoro as tardes de chuva, tão boas para ler romances. Aprecio muito as noites limpas, ótimas para caminhar.

Com toda essa admiração, sempre que eu conseguia me livrar dos afazeres, bem que eu tentava entender o movimento das nuvens, as cores do entardecer, o vôo das aves, as providências dos insetos, em especial das aranhas, mas foi em vão.

Apesar de tudo, aprendi algumas coisinhas, mas longe de mim me julgar um entendido. Não sou climatologista, e passo longe de me considerar um meteorologista amador. Com toda humildade, sei que, apesar de certa regularidade, como o suceder das estações do ano, o clima muda sempre, e continuará mudando. Se não tomarmos cuidado, podemos até contribuir para acelerar essas mudanças e talvez os resultados não sejam bons para nós nem para a vida no planeta.

Existem coisas mais difíceis de entender do que o clima: certas pessoas, com seus amores, humores, desejos, alegrias e tristezas. Entendê-las e conviver bem com elas é tão ou mais importante do que entender o clima. Não sei o que mais se pode dizer sobre isso, em todo caso, ouça este conselho: se você tiver de sair à rua num tempo chuvoso, leve um guarda-chuva. Se você for sair acompanhado de alguém de quem goste muito, torça para chover e se abracem bem juntinhos debaixo do guarda-chuva. Bom passeio!

Canastra 261

 

 

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