Que medo! Crônica de Renato Muniz B. Carvalho.
Você tem medo de quê? Medo de barata? Medo de cobra? Ou medo do cobrador? Medo do escuro? Medo de altura? Medo de vacina? Medo de livros? Um medo inconfessável? Cá entre nós, existem medos estranhíssimos, não é? Tem gente que tem medo de bicho-papão! Eu me refiro a gente grande, porque criança merece desconto.
Bicho-papão é o quê? É bicho, é gente, é o homem do saco? É o homem da mala? O assunto é o medo, medos fascinantes, medos bestas, de todo tipo. Bicho-papão é um monstro que come criancinhas? E a Cuca? Aquela Cuca que vem te pegar se você não dormir… Bicho-papão cospe fogo? Ele vai te devorar? Que medo!
Alguns têm medo do monstro que mora embaixo da cama. Não vão dormir enquanto não fiscalizam direitinho se não tem nada ali. Outros acordam várias vezes à noite para verificar. Eu conheci um camarada que dormia com uma lanterna na mesinha de cabeceira só para olhar debaixo da cama. Bem, nesse capítulo tem gente que dorme com coisas piores…
Reconheça-se que uns morrem de medo do castigo divino. Devem ter alguma culpa escondida. Alguns ficam apavorados com cara feia: “não vou lá, pois ele fez cara feia pra mim”. Cara feia espanta, intimida. Os valentes dizem: “não tenho medo de cara feia!” Os pais, quando estão zangados com os filhos, fazem cara feia. A namorada, quando desconfia que está sendo passada pra trás, faz cara feia. A cara feia é pedagógica, ensina, normatiza. Falando em educação, há estudantes que têm medo da prova, medo de falar em público, medo de errar… Vencer o medo é uma etapa importante do crescimento pessoal, do amadurecimento da criança e do adolescente.
Ter medo significa manter distância de alguma coisa, que pode ser real ou imaginária. Medo de uma situação, de uma pessoa, de um objeto, de um animal. O medo gera ansiedade, provoca estresse, pode ser irracional ou motivado por uma ocorrência concreta. O medo está relacionado ao instinto de sobrevivência. O problema é saber dosar o medo, senão vira trauma ou se banaliza e aí não faz mais efeito.
Eu não sou psicólogo pra traçar perfis, para dissertar cientificamente sobre o tema, mas acho curiosos os comportamentos relacionados a esses sentimentos de pânico e temor. Tenho dó de quem tem medo sem saber por que sente medo. Há medos que são incutidos na cabeça dos simplórios e dos ingênuos, dos que repetem bobagens sem refletir; servem para dominar, explorar, tirar vantagens. O medo mobiliza e imobiliza. Você tem coragem de enfrentar o medo?
Um tipo de medo tem me preocupado nos últimos tempos. É o medo pernicioso, com finalidade política, medo escuso, criado para apavorar incautos; esse medo indica uma atitude repugnante e covarde, desnuda a baixeza de quem produz e difunde. Precisa falar mais?
Crônica publicada no Jornal da Manhã, em 15 de setembro de 2020. Revisão e leitura atenta de Hugo Maciel de Carvalho (se quiser saber mais sobre o trabalho dele, clique aqui).
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