segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Solicitação: uma crônica, um pedido, algumas sugestões de leitura


Solicitação

Renato Muniz B. Carvalho

Anteontem, me ligou uma moça muito boazinha e gentil. Parece que já me conhecia, o que me deixou sem graça, pois eu não a reconheci de imediato, nem lembrava o nome dela. Sorte minha que ela logo se identificou: “Olá, sou a Lúcia, da instituição...” Já me esqueci do nome. Ela queria dinheiro para a instituição, cujo nome não me lembro, tão necessitada, segundo ela. Falei que não podia ajudar, expliquei o motivo e assegurei que qualquer dia desses iria contribuir. Fiquei pensativo: uma instituição beneficente em estado grave solicita ajuda por telefone? Preocupa né?

Outro dia, me ligou um rapaz, igualmente cortês, educadinho, queria falar comigo, sabia meu nome. Eu conheci tanta gente na vida que é impossível me lembrar de todos, isso é normal, também deve acontecer com vocês. Ele queria me dar de presente um cartão de crédito fenomenal, só faltava falar o tal cartão. Ele disse que o cartão “abriria portas” e sei lá mais o quê. Fantástico! Fiquei tentado, ele disse que era simples, só precisava confirmar alguns dados: nome completo, CPF, RG, endereço, número da minha conta no banco etc. Confesso a vocês que fiquei irritado com aquilo. Ora, se ele sabia meu nome e o número do meu telefone, por que tantas perguntas? Chateado com a descortesia, agradeci o oferecimento e recusei. Ele ficou bravo comigo! Perguntou de maneira ríspida: “por que o senhor não quer um cartão tão bom?”. Nossa! Desliguei assustado. Revelou-se arrogante e grosseiro!

Essas situações acontecem justamente quando estou ocupado, lendo um livro instigante, uma história de suspense, assistindo a um filme, lavando a louça do almoço, escrevendo uma crônica... Toca o telefone, eu atendo, gosto que me liguem, mas, na maior parte das vezes, são esses conhecidos que eu não conheço. São gentis no começo, mas tornam-se intratáveis no final, insistem que a gente compre algo ou doe dinheiro para alguma causa perdida. Alguns perguntam se eu posso falar, mas nenhum me conta como conseguiu meu número ou meu nome. Tem hora que o telefone toca e eu estou com as mãos molhadas, longe do aparelho, tenho de correr, tropeço... e é alguém pedindo dinheiro. Horrível! Será que é só comigo?

Àqueles que ligam para saber notícias, conversar sobre algo que escrevi, atendo com gosto, continuem ligando, eu agradeço. Já aos vendedores inconvenientes, faço uma solicitação: desistam! Mas não deixem de ligar os que querem conversar sobre livros, sobre um romance que leram. Liguem para conversar sobre o último livro de contos do Luiz Vilela, o livro de poesias do Eduardo Veras, os contos do Zé Alfredo Ciabotti, as poesias que o Orlando Coelho postou na internet... Fiquem à vontade. Certos autores a gente sempre quer ler, escritores e escritoras que têm publicado bons livros. Ah, aceito sugestões, na minha estante sempre cabe mais um. Aguardo sua ligação!

Publicada no Jornal da Manhã, em 26-08-2018: 
http://www.jmonline.com.br/novo/?paginas/articulistas,675,164918




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