Renato Muniz Barretto de Carvalho
Adoro tomates. Os bem vermelhos, os verdes, os grandes, os pequenos, nas saladas, nos molhos, fritos, recheados e até em receitas que ainda não experimentei.
Infelizmente, junto com os pimentões, morangos e batatas, é um dos alimentos mais contaminados por agrotóxicos no Brasil. Esses alimentos, tão saudáveis e necessários, são contaminados por substâncias tóxicas durante o processo de produção e, às vezes, no preparo e manipulação.
Apesar de o Brasil possuir uma legislação que proíbe o uso de alguns produtos tóxicos na agricultura, que regulamenta quantidades, que estabelece carências e outros procedimentos para tornar os alimentos mais seguros para o consumo humano, nem sempre as recomendações são seguidas. O maior prejudicado é o consumidor, que consume produtos contaminados por venenos altamente tóxicos, danosos à saúde humana. Prejudicados também são os trabalhadores que manipulam esses produtos sem a devida proteção. E o meio ambiente.
No ano passado, em abril, a ANVISA, órgão do Ministério da Saúde, divulgou uma pesquisa sobre contaminação de alimentos no Brasil. Muitas amostras analisadas apresentaram problemas. Alguns produtos estavam com índices elevados de contaminação, dentre eles o pimentão, a uva, o morango e a cenoura. Na ocasião, o ministro Temporão chegou a declarar que iria cortar o pimentão de sua dieta.
O ministro tem feito um bom trabalho à frente do Ministério da Saúde, mas ao invés de cortar o pimentão de sua dieta, ele devia, isto sim, fazer gestões e desenvolver políticas públicas para cortar os agrotóxicos definitivamente de nossos alimentos. Os efeitos seriam mais eficazes e os ganhos em termos de qualidade de vida e saúde bem maiores. Como médico ele deve saber disso.
O governo federal até que tem feito sua parte, mas ainda de forma tímida. Tem incentivado a produção e o consumo de produtos orgânicos, mas falta muita coisa. Falta, sobretudo, desvendar melhor as relações políticas e sociais envolvidas na produção de alimentos, as relações predatórias existentes entre a agricultura e as grandes empresas produtoras de venenos e outros insumos. Precisa impedir a fragilização dos pequenos agricultores e proteger o consumidor interno. Falta fiscalizar melhor e denunciar o uso intensivo de venenos na produção de alimentos. Denunciar o vínculo entre os interesses agroindustriais e o desmatamento. Essas questões andam sempre juntas: questões sociais, políticas e ambientais. É bom lembrar que não há uso responsável de agrotóxicos. Responsabilidade é não usar.
O assunto é polêmico, é antigo, e muita tinta, saliva e papel já foram gastos para se tentar resolver o problema. Denúncias graves, apreensões de produtos, alterações nas fórmulas, produtos vencidos e, no entanto, o país continua na lista como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. A última denúncia, feita em março de 2010, vem de um grupo de fiscais que percorreu várias plantações de tomate no interior de São Paulo. Foram encontradas inúmeras irregularidades: trabalhadores sem equipamentos de proteção, péssimas condições de moradia, jornada excessiva de trabalho, condições precárias de armazenamento e manuseio de agrotóxicos, dentre outros pontos graves. Trabalhadores foram flagrados pulverizando lavouras sem nenhuma proteção, adolescentes trabalhando, o que é proibido nesse tipo de lavoura, agrotóxicos misturados sem nenhum critério, uso de venenos de forma ilegal. Boa parte dessas plantações abastece a grande São Paulo.
Isso confirma a idéia de que a degradação ambiental caminha passo a passo com a degradação do trabalho, da pessoa. Quem não respeita um não costuma respeitar o outro.
E como fica o molho à bolonhesa da macarronada de domingo? Deixaremos de consumir tomate? Como fica a saúde? Nem se pode dizer que tudo vai terminar em pizza, pois vai faltar o molho de tomate.