domingo, 7 de março de 2010

Para decifrar o futuro

Renato Muniz Barretto de Carvalho

O futuro nos engana direitinho. Quando nós pensamos que o alcançamos, ele dá um salto para frente e foge de nós. Muitos não desistem nunca deste jogo de pega-pega, de perseguição incansável, outros vão ficando pelo caminho. É que dá um trabalho danado tentar entender o futuro e seus joguinhos, seus truques. Isso mesmo, o futuro usa de artimanhas para não se deixar alcançar.

Talvez seja perigoso alcançar o futuro. E se alguém quiser aprisioná-lo e controlar seus passos? Seria uma tragédia. Por isso, o futuro está sempre à nossa frente. Mesmo assim, mesmo sabendo disso, estamos sempre correndo, procurando desvendar seus mistérios, tentando nos antecipar.

São várias as maneiras de tentar chegar perto do futuro. Existem os métodos tradicionais, e, dentre eles, as adivinhações. É uma verdadeira tentação, raros são os que não caem nessa. Vira e mexe e dizemos algo assim: “já sei o que vai acontecer”. E quando acontece alguma coisa que suspeitávamos que fosse acontecer, a gente diz: “eu sabia”. Será que sabia mesmo? Qual o segredo? Qual o método?

Existem também os procedimentos mágicos. Por exemplo, ler pedrinhas, interpretar os búzios, decifrar conchinhas. Uns gostam de ler as mãos, a testa, o olhar. Outros jogam cartas, jogam baralhos ciganos, tentam ler o que dizem as folhas de chá no fundo da xícara, não saem de casa sem consultar horóscopos.

A leitura do tempo, do clima, é rica em exemplos. A pessoa olha para o céu e diz: “vai chover”, ou então: “teremos dias muito quentes daqui para frente”. Nem o calo do Sr. Antônio e nem a certeza quase religiosa da Maria, dois conhecidos meus, que adoram observar o vôo rasante dos pássaros e as aranhas construírem ou desmancharem suas teias, garantem os acertos. Quando a Maria observa algum sinal significativo, ela corre até o varal de roupas e recolhe tudo e depois fecha todas as janelas. Mas nem sempre acerta e volta com a roupa para o varal, torna a abrir as janelas.

Fora do terreno místico e das adivinhações, existe a ciência dita exata. Existem os cálculos, as certezas científicas, o método racional. No caso das previsões do tempo, existem os satélites, a meteorologia, a climatologia, as previsões matemáticas. No caso da saúde, existe a medicina preventiva, o saneamento básico, as vacinas. A engenharia trabalha com modelos, com computadores avançadíssimos. Mas nada disso é infalível. É claro que uma boa dose de bom senso já seria suficiente para prevenir muita coisa desagradável e danosa à saúde e ao bem estar. Mas o bom senso varia de pessoa a pessoa, é algo cultural. Nem sei se compreendo bem a ciência moderna e seus rituais.

Não se deve negar o conhecimento científico, muito menos as sensações que certas pessoas dizem experimentar, mas o desejo impulsivo de saber o futuro pode obscurecer qualquer tentativa válida. O futuro é mais forte, mais rápido, mais persuasivo, mais prenhe de possibilidades.

Restam-nos poucas alternativas: prepararmos-nos para as surpresas que o futuro reservar, se é que isso é possível, ou reabrir os oráculos.

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