domingo, 12 de fevereiro de 2017
O lado certo da laranja
O lado certo da laranja
Renato Muniz B.
Carvalho
De onde vieram as laranjas? Se alguém sabe,
diga logo! Não creio que exista consenso quanto a isso. Provavelmente, devem
ter surgido na Ásia, talvez na Índia, na China... Depois, foram levadas para o norte
da África, para a Europa e, de Portugal e Espanha, vieram para a América. Hoje,
são cultivadas no mundo todo e têm alto valor comercial. Existem mais de mil variedades
espalhadas por todos os cantos. Seu suco é muito apreciado. Com a casca, minha
avó fazia um doce delicioso. Azedas, doces, amarelas, vermelhas, a família dos
citros chegou ao Brasil já nos primeiros anos do período colonial. Na fazenda
do meu avô, era uma fruteira que não podia faltar no pomar.
Eu me recordo: laranja Pera, laranja
João Nunes, a preferida do meu pai, lima da Pérsia, Valência, Saúde, Baía e da Terra,
boas para doces, também chamadas de laranja de umbigo, mexericas, limão Rosa,
ou China, limão Galego, o preferido da minha mãe... Cada um com seu charme, seu
sabor, seu azedume ou doçura. Quanta diversidade!
Nas férias do meio do ano, o pomar ficava
repleto delas. Meu avô enchia sacos para os amigos. Era motivo de orgulho poder
presentear amigos e parentes com laranjas bonitas, doces, com bastante caldo.
Cada um de nós, a meninada, tinha seu
próprio canivete. Canivete com bainha de couro, pendurado na cintura. Esse
utensílio, tão útil numa fazenda, tem inúmeras serventias. No nosso caso, eram
úteis para descascar frutas, em especial laranjas. Não foi fácil, se eu me recordo
bem, aprender a descascar uma sem ferir e sem deixa-las cair no chão.
Aprendizado importante! Passávamos um bom tempo experimentando, testando,
errando – pois é errando que se aprende –, sabiam disso? Como a fartura era
grande, não importava se não conseguíamos. Onde arranchávamos, a descascar
laranjas, geralmente à sombra de uma grande árvore, o chão ficava repleto de
cascas e de buchas de laranjas.
Se a fome viesse no meio da tarde, era
só dar um pulo até o pomar. Ao sair para um passeio, cada qual tratava de
encher seu embornal. Essa era a noção de fartura e de liberdade que tínhamos:
poder chupar quantas laranjas quiséssemos. Não existiam restrições para elas, como
existiam para as mangas: “manga com leite não pode, menino!”.
Era comum, ao final das tardes
avermelhadas e poeirentas de inverno, nos reunirmos para conversar e chupar
laranjas. Meus irmãos e eu fazíamos campeonatos para ver quem conseguia
descascar uma laranja sem romper a casca. O canivete tinha de estar bem afiado,
a destreza em dia, a atenção... Sem muitas responsabilidades. Nem tinha
precisão! Só brincar e aprender. Os muito rancorosos com a vida é que se
recusam a refletir sobre isso. Um dia, aprendi que tinha o lado certo para
começar a descascar uma laranja. Sou obrigado a admitir: esqueci! Se alguém
sabe, me conte.
Fotos: Mara Maciel
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2 comentários:
Sempre nos ensinando!
Oi, Rosangela! Obrigado por ler e comentar! Abraços.
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