Uma boa parte da minha vida profissional, enquanto professor, passou-se fora das salas de aula. Perdi a conta de quantas foram as excursões, as atividades de campo, as viagens de estudos ou os trabalhos de campo. Pouco importa o nome, algumas foram mais técnicas, outras foram puro lazer associado a estudo. Todas valeram a pena. A maior parte delas foi feita de ônibus, mas algumas aconteceram de trem e até mesmo a pé.
Todo professor devia, ao menos uma vez na vida, sair da sala de aula com seus alunos. Ver e mostrar o mundo como ele é. Sentir e estimular a percepção de como os fatos acontecem, sejam eles os físicos e naturais, sejam eles os sociais, antropológicos, econômicos ou históricos. O que importa é ver e participar, proporcionar o contato com a realidade. Não que o aluno não o faça, em casa, nas viagens com a família, no seu cotidiano, a diferença está na maneira de olhar, está na orientação que o professor pode dar e também ao partilhar as descobertas e a aprendizagem com os colegas.
As viagens podem ser longas, curtas, à noite, durante o dia, na praça, distantes ou próximas, o que vale é o momento de saída, a compreensão de que o mundo pode ser apreendido na sua totalidade, na sua complexidade e também na sua simplicidade.
Uma viagem possibilita diversos instantes mágicos incomparáveis, insubstituíveis. Por melhor que sejam as aulas, ou por melhores e mais bem produzidos que sejam os audiovisuais, nada se compara ao contato direto com a natureza ou com a realidade construída pelas sociedades na sua dinâmica e diversidade. Museus, monumentos, paisagens, rios, serras, cidades, lugarejos, igrejas, bibliotecas, teatros, casinhas ou prediões, dentre outros elementos da paisagem natural ou social, existem para serem admirados, visitados, discutidos e conhecidos.
As viagens não são fáceis de serem planejadas e nem sempre recebem o necessário apoio da direção das escolas e dos pais. A responsabilidade acaba ficando por conta do professor, principalmente quando algo não ocorre conforme previsto. Diversos fatores interferem no sucesso de uma viagem, além do medo, por parte dos responsáveis, de que alguma coisa aconteça de errado. Essas dificuldades poderiam ser mais bem superadas se todas as etapas fossem compartilhadas por todos. Viagens não começam no instante de partida, nem terminam na hora da chegada, mas envolvem um bom projeto, uma boa razão, trajeto, condução, materiais, horários, enfim dão trabalho, o que pode desestimular e dificultar sua realização. Mas nada se compara ao rosto cansado e relaxado de quem chega de uma viagem com muita história para contar, com uma experiência, boa ou não, para relatar e guardar na memória. Sinal de que algo ficou, de que aprendemos alguma coisa, de que a autonomia diante da vida e da realidade foi, ainda que em parte, conquistada.
Ao retornar de mais uma das inúmeras viagens que fiz ao Parque Nacional da Serra da Canastra com alunos e amigos, essa é a sensação que tenho -- dá trabalho, mas vale a pena, desde que bem planejada -- e que resolvo repartir com meus leitores.
Um comentário:
Olá Renato! tudo bem?
Deixei um selo para você lá no meu blog.
Um abraço
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